A iniciativa da Associação Compassio pretende que se fale "sem tabus" dos vários tipos de perda que se enfrenta ao longo da vida. O festival é de entrada livre e decorre este sábado, dia 24 de maio, no Porto.

Mariana Abranches Pinto é presidente da Associação Compassio. Foto: D.R.

O Festival do Luto é um evento pioneiro na cidade, que propõe falar abertamente sobre a perda pela morte de alguém, pela morte de um animal, pelo fim de uma relação, pela perda de um trabalho, da saúde ou de sonhos e projetos de vida. A iniciativa de cariz social decorre entre as 10h00 e as 17h00 do próximo sábado (24), em três locais, e pretende inspirar a sociedade para uma mudança cultural. Sob o mote “O luto é único, universal e comunitário. Vamos falar sobre ele?”, o festival foi planeado para incluir toda a comunidade que desejar participar, incluindo as crianças que terão atividades específicas na programação.

Teatro, poesia, sessões de yoga e chi kung, conversas informais sobre a morte e conversas com especialistas ligados à temática são algumas das atividades que os participantes podem acompanhar. Além disso, as crianças poderão participar em atividades como jogos e momentos de leitura de contos.

Na Praça do Marquês vai haver um memorial, para recordar as perdas dos participantes. No mesmo local, vai “nascer” também um mural com a frase “Antes de morrer eu quero…”. As pessoas são convidadas a completar a frase para lembrar a finitude da vida e a importância de a aproveitar da melhor forma. Ao longo do dia, várias pessoas em processo de luto vão discursar, falando da experiência positiva e de crescimento pessoal que atravessaram. Na programação permanente, destaque para um percurso designado por “O silêncio dos pássaros”, em que as pessoas são convidadas a trabalhar o seu luto em várias paragens e de forma diferente.

O festival está “empenhado em quebrar a cultura do silêncio” e tem como público tanto as pessoas que estão neste momento num processo de perda como quem quer aprender a estar presente e acompanhar da melhor forma os que passam por momentos difíceis.

A presidente da Compassio, promotora da iniciativa, Mariana Abranches Pinto, dedica-se a “criar comunidades mais compassivas” e a coordenar projetos com foco no cuidado, na doença, no envelhecimento, no isolamento social, na morte e no luto. A presidente reforça que “o isolamento social está a crescer, sobretudo nas grandes cidades” e que, por isso, a “dor é muitas vezes vivida em silêncio e solidão”. Lembra que “o luto precisa de amigos e que o cuidado é um ato coletivo que envolve todos”.

Para Mariana Abranches Pinto é fundamental “capacitar todos para saber reagir melhor, estar com as pessoas, saber estar em silêncio, não dizer aquelas frases feitas que às vezes nos saem e que só magoam”, reforçando que o silêncio é, na maioria das situações, o melhor a fazer. Insiste que é preciso mostrar à pessoa que “estamos presentes, com linguagem não verbal” em vez de “fazer muitos comentários e dar muitos conselhos”.  E conclui: “o que as pessoas precisam é de serem escutadas”.

Em paralelo será lançada, no mesmo dia do festival, a campanha #Emlutocontigo. A associação convidou 13 pessoas para dar o seu testemunho sobre aquilo que gosta ou não gosta de ouvir quando está a atravessar um momento de perda. António Raminhos, humorista, e Laurinda Alves, jornalista e escritora, colaboram no projeto que será divulgado nas redes sociais e no site da Associação Compassio. Nas redes sociais, a associação irá também questionar os seguidores sobre o que eles próprios diriam a uma pessoa no processo de luto. O objetivo, diz ao JPN, é “alterar comportamentos” para que “todos sejam mais compassivos” e “transformar a forma como o luto é encarado na sociedade”.

A Compassio é uma associação sem fins lucrativos, criada em 2019 no Porto. “Compassio” significa compaixão em latim e é essa a sua grande missão. Trabalha com o foco nas pessoas em situação de fragilidade por doença, envelhecimento, solidão, isolamento social, morte e o luto. As principais áreas de atuação são a sensibilização e capacitação para uma cultura compassiva, a ativação e dinamização de redes comunitárias colaborativas e a dinamização de grupos de partilha para pessoas em processo de luto e doença.

O evento terá lugar em três locais da zona do Marquês, no Porto: a Praça do Marquês, a Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti e a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição. A programação do Festival do Luto pode ser consultada em detalhe nas redes sociais da associação.

Editado por Filipa Silva