A iniciativa surgiu a partir das queixas de vários pais e crianças da zona do Bonfim. O projeto vai integrar a Porto Design Biennale e as obras devem começar durante o evento, no outono. O JPN falou com uma das coordenadoras do projeto Serpentina.
A direção do projeto Serpentina organizou um passeio diagnóstico com as crianças e os pais. Foto: D.R.
Em 2022, um grupo de pais da cidade do Porto lançou a petição “Vamos ao Parque”, pedindo mais e melhores parques infantis na cidade. A causa chegou aos “ouvidos” da Câmara Municipal do Porto e o grupo conseguiu que se substituíssem alguns dos equipamentos partidos do parque infantil do Largo Soares dos Reis, no Bonfim.
Esta vitória inicial impulsionou a criação da iniciativa Serpentina, coordenada por Maria João Macedo e Patrícia Costa, que visa remodelar o parque e corrigir algumas fragilidades detetadas.
“Isto é um parque que fica entre ruas, e as pessoas não se sentem seguras nem confortáveis com a proximidade dos carros”, conta Maria João Macedo ao JPN. “Uma criança pode atravessar e ser atropelada, e também temos muita poluição, barulho e tudo o mais”, acrescenta.
Além das questões relacionadas com a segurança das crianças, a coordenadora do projeto sublinha a falta de condições para quem as acompanha: “Os pais e as famílias não têm onde se sentar e é muito comum vermos aqui uma série de pais em pé, de mãos nos bolsos, à espera, mas sem conforto para estarem”.
Relativamente aos equipamentos disponíveis no parque, Maria João Macedo explica que, para além de serem poucos, “não admitem crianças de faixas etárias alargadas. Os mais pequeninos não conseguem brincar aqui. Isto não é muito interessante para as crianças”, afirma a representante.
E porque se não forem interessantes para as crianças, esta áreas perdem o seu sentido, a direção do projeto quis saber o parecer das crianças: “Já fizemos atividades aqui com crianças no parque em que elas, por exemplo, registam com fotografia coisas que gostam muito e coisas que não gostam nada. Este diagnóstico é muito importante”.
Entre as sugestões das crianças, Maria João destaca algumas das mais criativas. “Houve uma criança que desenhou uma pizza de escalar”, conta. “Claro que também pedem coisas mirabolantes, como escorregas de água, que nunca serão possíveis. Mas os pedidos e as necessidades vão sempre bater em duas coisas: espaços para se esconderem e coisas para trepar.” As organizadoras da iniciativa pretendem realizar mais atividades de auscultação, para que o parque vá ao encontro das necessidades de quem o frequenta.
As ideias de miúdos e graúdos ainda estão a ser reunidas no projeto Serpentina, que vai ser integrado na Porto Design Biennale. “A Bienal vai incluir cinco projetos de proximidade no território entre o Porto e Matosinhos, que já estão a arrancar e pretendem deixar um legado. O evento afastou-se daquele modelo habitual de exposição, normalmente posterior aos projetos, e este ano vai ter mesmo uma parte de intervenção e de contributo para as cidades”, esclarece Maria João Macedo ao JPN.
Quanto à vontade de ver esta ideia a germinar noutros pontos da cidade, Maria João Macedo refere não ser essa a grande ambição, muito embora gostasse que dele se retirasse “uma forma de agir que poderá ser exportada para outros parques da cidade.”
“Há uma dimensão muito importante para nós, que é a dimensão da comunicação. Nós queremos levar a cabo, no regresso às aulas, imediatamente antes da Bienal, uma campanha de sensibilização alargada ao Porto inteiro – e até fora das fronteiras da cidade – que pretende falar precisamente sobre o direito das crianças à cidade. O direito ao espaço público, à vivência do lazer com qualidade”, concluiu.
A empreitada no parque infantil do Largo Soares dos Reis vai ser financiada e realizada pela Câmara Municipal do Porto, detentora do espaço. Está previsto que a obra arranque durante a Bienal, que decorre entre outubro e dezembro de 2025.
Editado por Filipa Silva