Encontro Internacional de Arte e Comunidade volta ao Porto, quatro anos depois da última edição. Entre esta sexta-feira e domingo, espaços comunitários do Bonfim vão dar palco a performances, instalações, música, teatro, dança e conversas que promovem a reflexão coletiva, num combate à ideia de "irrelevância", o tema deste encontro.

Espetáculo “Set Revolução” envolve comunidade e vai ser apresentado na Cooperativa dos Pedreiros este sábado e domingo à noite. Foto: João Ferreira

MEXE – Encontro Internacional de Arte e Comunidade está de regresso ao Porto entre esta sexta-feira (23) e domingo. A sétima edição do encontro que se dedica às práticas artísticas das comunidades vai pôr em discussão “A Irrelevância”, desenvolvida em três eixos: apresentação, pensamento e mediação. Todas as iniciativas são de acesso gratuito.

As dinâmicas vão ter lugar, sobretudo, no Bonfim, em espaços públicos e pouco convencionais da cidade. Com o objetivo de criar, envolver e capacitar, artistas nacionais e internacionais promovem a participação cultural de comunidades locais através de performances, instalações, música, teatro, dança e conversas.

O MEXE apresenta-se como “um lugar de resistência e diálogo“, cuja intenção é de apresentar, valorizar, descentralizar e divulgar projetos artísticos participativos e comunitários, como se pode ler no programa do encontro.

Quatro anos depois da última edição e com um histórico de 14 anos, o MEXE regressa sob a questão “Como mexer perante a irrelevância?”, à qual responde com a criação de espaços abertos e democráticos, de debate e partilha. O ciclo de atividades vai refletir questões em torno da identidade, da sexualidade, da migração e do sentimento de irrelevância, entregando ferramentas de cultura e criação artística direcionadas às populações que recebem o encontro e às suas urgências.

Depois do desenvolvimento de atividades de dinamização cultural ao longo do mês de maio, durante estes três dias, a instalação “Stories of Refuge” vai estar patente no Espaço Ócio (Rua do Heroísmo 139 B) sexta-feira e sábado, das 14h00 às 18h00, e domingo, das 10h00 às 13h00. O trabalho apresentado, do coletivo The Dictaphone Group, com sede em Beirute, Líbano, é constituído por vídeos que compilam registos do quotidiano de três refugiados sírios em Munique, Alemanha. O público é convidado a assistir à transmissão em cima beliches.

A sessão de abertura aconteceu esta sexta-feira, na Praça da Alegria. A psicanalista e escritora espanhola Lola López Mondéjar, que desenvolve o tema “A Irrelevância”. A conversa de abertura do MEXE deu a conhecer o pensamento da autora de “Sin relato. Atrofia de la capacidad narrativa y crisis de la subjetividad”, premiado com o Anagrama de Ensaio 2024. Partindo da questão “Seremos hoje menos humanos?” colocada pela própria, Lola López Mondéjar refletiu sobre os desafios da subjetividade e da irrelevância do mundo contemporâneo, da criatividade e da condição humana no contexto da revolução digital.

A encerrar a programação desta sexta-feira, pelas 21h30, Lukanu Mpasi vai apresentar na Cooperativa dos Pedreiros a performance-concerto “Matxikadu”, que explora as tensões de masculinidade experienciada por homens negros nas periferias de Portugal. Foi considerado um dos dez melhores espetáculos de dança de 2023 pelo jornal Público, questiona os estereótipos do que é ser um homem negro em Portugal e procura ser uma plataforma de representatividade negra no panorama artístico do país, comprometendo-se com a descentralização do acesso à arte. A atuação tem duração estimada de uma hora e não é acessível a pessoas que se desloquem em cadeira de rodas.

Para sábado, está marcada uma conversa sob o tema “Cultura e Comunidades no Porto –  a relevância da cooperação”, às 17h00, na Escola Artística Soares dos Reis. O colóquio vai ser moderado por Patrícia Portela e tem duração prevista de uma hora. O espaço é acessível a pessoas com mobilidade condicionada e terá interpretação em LGP.

Às 21h30, a Cooperativa dos Pedreiros recebe, durante mais de uma hora e meia, o Grupo Teatro Comunitário do Bonfim, que apresenta o espetáculo “Set Revolução”. A atuação repete-se no dia seguinte, no mesmo local, à mesma hora.

No domingo, entre as 12:30 e as 14h30, o Largo do Padre Baltasar Guedes recebe a iniciativa “Semear a Vizinhança”, um almoço comunitário, com entrada livre.

Às 16h30, começa a Parada MEXE, que vai ligar a Alameda das Fontaínhas à Praça da Alegria. O espetáculo itinerante procura reivindicar a relevância do espaço público no quotidiano das comunidades, através de vozes e tambores.

Pelas 17h00, tem início um concerto e bailarico comunitário na Praça da Alegria, o espaço onde foi aberta esta edição do MEXE. A direção artística está a cargo de António Serginho.

Em conversa com o JPN, o diretor artístico da sétima edição do MEXE, salientou que, particularmente nesta edição, houve um bom investimento nas atividades dinâmicas que antecederam o encontro. João Ferreira destacou o facto de que todas as criações foram feitas propositadamente para o encontro, tendo dado como exemplo as músicas que  Silly vai apresentar este sábado, às 18h30, na Escola Artística Soares dos Reis, compostas para o concerto: “Os Restos do Eco”.

O responsável sublinha que o MEXE é um espaço de reflexão, que espera que “deixe sementes para o futuro”, feito “à escala humana” e da “capacidade de diálogo”, que, “se deixar de ser possível, [a iniciativa] deixa de fazer sentido”. Apesar disso, o encontro está “sempre a crescer e a desenvolver-se” e “muito contextualizado com os tempos atuais – o sentimento de individualismo, o crescimento da extrema-direita”, exemplificou.

Quanto aos desafios de desenvolver o MEXE, João Ferreira aponta que “é cada vez mais difícil formar coletivos, pensar coletivamente, a partir de indivíduos” e sobre o tema escolhido para este ano – “A Irrelevância” – o diretor artístico esclarece que “é mais fácil não nos sentirmos irrelevantes, se estivermos no meio de um coletivo”, daí a importância de desenvolver arte participativa e comunitária e refletir em conjunto, reforçou.

Acerca da dinâmica dos diálogos, o responsável ilustrou: “Existe uma guerra do outro lado do mundo, vamos pensar coletivamente no que podemos fazer ou não aqui, por exemplo”.

Para conhecer todas as iniciativas do MEXE, consulte o programa completo.

Editado por Filipa Silva