No rescaldo das eleições legislativas do passado domingo, o JPN fez uma análise comparativa entre os resultados eleitorais de domingo e os do ano passado. Veja as mudanças do eleitorado nas freguesias do distrito do Porto num conjunto de mapas.

No círculo eleitoral do Porto, como no território nacional, a Aliança Democrática (AD) foi a força política mais votada da noite eleitoral de domingo (18). Os sociais-democratas, coligados com os centristas, fecharam o dia 18 de maio com 34,22% dos votos no distrito do Porto, uma percentagem superior à obtida à escala do país (32,10%).

A coligação PSD-CDS foi a mais votada em todos os 18 concelhos do distrito do Porto, aumentou em mais de 36 mil o número de votos e subiu quase quatro pontos percentuais a votação face a 2024, o que possibilitou a eleição de mais um deputado por este círculo (15 no total).

Os concelhos de Amarante, Baião, Gondomar, Matosinhos, Santo Tirso, Valongo e Vila Nova de Gaia, onde o Partido Socialista (PS) tinha sido a força mais votada em 2024, passaram a estar maioritariamente pintados de laranja.

Olhando para os 18 concelhos, foi na Póvoa de Varzim que a AD conseguiu a votação mais expressiva (40,59%), ao contrário de Valongo onde, apesar de ter vencido, teve a votação mais baixa (29,25%).

A AD foi a opção vencedora em 215 das 243 freguesias do distrito do Porto, o que representa um aumento de 99 freguesias, em relação ao ano passado.

Nos concelhos da Maia, Paços de Ferreira, Póvoa de Varzim, Trofa e Valongo todas as freguesias votaram mais na Aliança Democrática, o que, no caso deste último município, representa uma inversão completa do panorama de 2024, quando tinha sido o PS a vencer em todas as freguesias.

PS com grandes perdas

O Partido Socialista (PS), a segunda força política mais votada ao nível nacional e no distrito, perdeu cerca de 74 mil votos no distrito do Porto, uma queda a rondar os seis pontos percentuais (de 30,33% para 24,04%), tendo dois mandatos a menos do que no ano passado (elegeu 11 deputados). De notar que, em 2024, o PS já tinha perdido 80 mil votos, em relação a 2022, quando decorreram as legislativas que deram a maioria absoluta a António Costa.

Como em 2024, a melhor prestação do PS, à escala concelhia, manteve-se em Baião (28,85%), assim como a pior no concelho da Póvoa de Varzim (16,93%).

Já ao nível das freguesias, o PS deixou de ser o mais votado em 101 das 243 freguesias do distrito, comparando com 2024. Ainda assim, continuou a ser o partido mais votado em 26 freguesias, distribuídas pelos concelhos de Amarante, Baião, Felgueiras, Gondomar, Lousada, Marco de Canaveses, Matosinhos, Paredes, Penafiel, Porto, Santo Tirso e Vila Nova de Gaia.

Tal como a nível nacional, este foi o segundo pior resultado de sempre para o PS no Porto – o pior foi o das Legislativas de 1985, quando Cavaco Silva se tornou primeiro-ministro, em que o círculo do Porto elegeu dez deputados socialistas, menos um do que este domingo.

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Eleitorado do Chega cresceu quase 40 vezes em seis anos

O Chega posicionou-se, como em 2024, como terceira força política mais votada, mas desta vez a apenas 50 mil votos do PS. Com os votos da emigração, que só devem ser conhecidos no dia 28, o partido de André Ventura, que declarou o “fim do bipartidarismo em Portugal” na noite de domingo, pode ainda reclamar a segunda posição.

O partido de direita radical tem uma predominância de eleitores a sul, tendo conseguido posicionar-se à frente da AD e do PS em Faro, Portalegre, Beja e Setúbal. Mas mesmo no Porto, um dos distritos onde os resultados do partido não têm tido o mesmo fulgor de outras geografias – no ano passado, foi neste distrito que o Chega teve a percentagem de votos mais baixa, ao nível nacional – o Chega pode cantar vitória, já que foi o partido que mais cresceu no distrito em número de votos (mais 55 mil) e mandatos (elegeu nove deputados, mais dois do que em 2024).

Mesmo assim, pode também dizer-se que o Chega teve no Porto o quarto pior resultado, em percentagem de votos, entre os 18 distritos de Portugal continental e as regiões autónomas.

A conquista de eleitores no círculo do Porto tem sido notória. Em seis anos, o Chega aumentou quase 40 vezes o número de eleitores no distrito. Se, em 2019, ano em que o partido foi fundado, conseguiu pouco mais de 5.700 votos, tendo sido a décima força mais votada, nas eleições deste domingo, votaram no partido mais de 226.800 eleitores.

Dentro do distrito, o concelho do Porto manteve-se como aquele onde uma percentagem mais baixa votou no Chega, apesar da percentagem de votos ter subido quatro pontos percentuais, em relação a 2024 – passou de dez para 14%. A Trofa foi o concelho no qual uma percentagem maior do eleitorado votou no partido (mais de 25%).

Póvoa de Varzim e Trofa são dois concelhos onde o Chega se posicionou como segunda força política. E se, na Trofa, a diferença em relação ao Partido Socialista não é muito elevada, no caso da Póvoa há freguesias onde o partido da direita radical obteve mais do dobro dos votos do PS.

Outro dado curioso diz respeito às freguesias onde o Chega passou a ser a força política mais votada. Pela primeira vez, o partido venceu em duas freguesias e uma delas – a União das Freguesias de Fânzeres e São Pedro da Cova, no concelho de Gondomar – foi durante muitos anos um ‘bastião’ comunista no concelho. Macieira, no concelho de Lousada, é a outra freguesia do distrito onde venceu o Chega.

Lista de deputados eleitos pelo círculo do Porto

Aliança Democrática

  • Paulo Rangel
  • Nuno Melo
  • Ana Gabriela Cabilhas
  • Miguel Guimarães
  • Carlos Abreu Amorim
  • Maria Germana Rocha
  • Alberto S. Santos
  • Alberto Machado
  • Andreia Neto
  • Hugo Carneiro
  • Francisco Covelinhas Lopes
  • Carla Barros
  • Francisco Sousa Vieira
  • Rui Rocha Pereira
  • Olga Freire

Partido Socialista

  • Fernando Araújo
  • Sofia Pereira
  • João Torres
  • Tiago Barbosa Ribeiro
  • Patrícia Faro
  • Porfírio Silva
  • Joana Lima
  • Eduardo Pinheiro
  • Dália Miranda Eira
  • Humberto Brito
  • José Carlos Barbosa

Chega

  • Rui Afonso
  • Diogo Pacheco de Amorim
  • Cristina Rodrigues
  • José Carvalho
  • Marcus Santos
  • Sónia Monteiro
  • Patrícia Nascimento
  • Raúl Melo
  • Idalina Costa

IL

  • Carlos Guimarães Pinto
  • Miguel Machado da Fonseca

Livre

  • Eduardo Pinto
  • Filipa Pinto

CDU

  • Alfredo Maia

Livre foi o único que cresceu à esquerda

Em quarto lugar, no distrito e no país, voltou a ficar a Iniciativa Liberal (IL), cuja votação não variou muito. Os liberais conseguiram mais quase três mil votos, em relação a 2024, quando ficaram pouco acima dos 64 mil. Este aumento não possibilitou a conquista de mais mandatos pelo Porto do que no ano passado, tendo voltado a eleger dois deputados.

Segue-se o Livre, em sentido contrário aos restantes partidos de esquerda, que viram o número de eleitores diminuir. O Livre foi um dos vencedores da noite, conseguindo alargar o grupo parlamentar em dois deputados (passou de quatro para seis), um destes “reforços” foi eleito pelo Porto. Em relação a 2024, o aumento de votantes no Livre no distrito foi superior a dez mil (foi de cerca de 37 mil para perto de 47 mil).

Em dez anos, o partido verde europeu aumentou cerca de nove vezes e meia o número de eleitores no distrito do Porto. Ainda que numa percentagem reduzida, comparativamente com a que o Chega obteve, o Livre quase quadruplicou o número de eleitores no Porto, nas legislativas de 2025, face às de 2022.

A seguir surge a CDU, em sexto lugar. De 2024 para 2025 o partido perdeu pouco mais de mil votos no Porto – de 26.343 passou para 25.002 votos -, mas conseguiu voltar a eleger Alfredo Maia, como em 2024. Há dez anos, a coligação conseguiu eleger três deputados pelo Porto, graças aos mais de 65.500 votos que obteve.

Se a CDU “estancou” de algum modo a sangria que tem sofrido nos últimos atos eleitorais, o mesmo não poderá dizer o Bloco de Esquerda (BE) que viu o eleitorado do distrito passar para menos de metade, face a 2024 – os quase 52 mil eleitores passaram para pouco mais de 22 mil. No ano passado, o partido conseguiu dois mandatos no Porto, resultado que não se repetiu este domingo. Esta foi a primeira vez, desde 1999, ano da fundação do partido, que o BE não conseguiu que um cabeça de lista fosse eleito pelo círculo portuense. Marisa Matias não conseguiu, assim, permanecer no Parlamento.

O Pessoas Animais Natureza (PAN), que tinha no distrito do Porto depositadas as esperanças para voltar a ter um grupo parlamentar, também não alcançou esse objetivo. Em comparação com o ano passado, houve quase menos sete mil eleitores a votar no PAN. O partido passou de 16.433, A única vez que o PAN, fundado em 2011, elegeu uma deputada pelo círculo do Porto foi em 2019, quando obteve o melhor resultado no distrito, tendo ficado em quinto lugar, com mais de 32 mil votos.

Tanto o Bloco como o PAN terão uma representante no Parlamento, em ambos os casos as líderes dos respetivos partidos e ambas eleitas pelo círculo de Lisboa: Mariana Mortágua (BE) e Inês Sousa Real (PAN).

De notar ainda que o Juntos Pelo Povo (JPP), o novo partido a entrar na Assembleia da República e uma das surpresas da noite eleitoral, viu o número de votos diminuir de 1.150 para 749, no círculo do Porto, ao contrário do que aconteceu no círculo da Região Autónoma da Madeira, onde os votos no partido cresceram 3% e permitiram eleger Filipe Sousa como deputado.

Ao nível da taxa de abstenção no distrito, apesar de um ligeiro aumento estas legislativas (pouco mais de 31%), em relação às de 2024 (30%), a tendência tem sido para diminuir – em 2022, ficou pouco acima dos 39%; em 2019, foi de perto de 42%; e, em 2015, de quase 40%.

Baião foi o concelho onde menos eleitores votaram (apenas 59,28%). Por outro lado, a Maia foi o concelho onde menos pessoas se abstiveram de exercer o direito de voto (73,37% foram às urnas).

Dos 40 mandatos atribuídos pelo Porto, 26 foram para forças políticas de direita – 15 para a AD, nove para o Chega e dois para a Iniciativa Liberal -, mais três do que em 2024. A diferença do número de mandatos de direita eleitos pelo Porto em 2025 em relação a 2015 é de mais nove – nesse ano, a coligação PSD/CDS-PP conseguiu eleger 17 deputados pelo Porto.

Já no quadrante da esquerda, se se recuar até 2015, verifica-se que, em dez anos, o Porto passou de eleger 22 deputados – 14 pelo PS, cinco pelo BE e três pela CDU -, para eleger 14, em 2025, agora divididos entre o PS (11), o Livre (dois) e a CDU (um).

Com Leonor Araújo

Editado por Filipa Silva