AD e o Chega repartiram entre si os quatro deputados eleitos pelos círculos da Europa e de Fora da Europa. Já o PS perdeu o único deputado conquistado nas Legislativas de 2024 pelos votos da emigração.
No discurso pós-resultados, André Ventura sublinhou que o Chega acabou com bipartidarismo em Portugal. Foto: Inês Saldanha/JPN
Os resultados dos círculos eleitorais da Europa e fora da Europa, divulgados esta quarta-feira (28), consolidam o Chega como a segunda maior força política em Portugal. O partido liderado por André Ventura garantiu dois mandatos entre os votos dos emigrantes, totalizando agora 60 deputados no Parlamento, ultrapassando o Partido Socialista (PS), que se mantém com 58 eleitos, desde as eleições de 18 de maio.
A Aliança Democrática (AD) também conquistou dois deputados, recuperando o segundo lugar, que o PS tinha conseguido no círculo da Europa em 2024.
Com os votos das comunidades portuguesas no estrangeiro, o Chega alcançou uma vitória histórica, rompendo com o bipartidarismo que marcou meio século de democracia e relegando o PS para a terceira posição pela primeira vez desde o 25 de Abril.
Segundo os dados divulgados pela Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna (SGMAI), no total de votos vindos do estrangeiro, o Chega obteve 92.192 votos (26,15%), seguido pela AD, com 56.460 votos (16,02%). Ambos os partidos elegeram um deputado em cada um dos círculos eleitorais – Europa e Fora da Europa. Já o PS, com 47.693 votos (13,53%), não conseguiu garantir qualquer mandato fora do território nacional.
Com estes resultados, as forças de direita e centro-direita reforçam a sua maioria na Assembleia da República, detendo dois terços dos assentos: 91 deputados para a coligação PSD/CDS, 60 para o Chega e 58 para o PS. A configuração do novo Parlamento é a seguinte:
Círculo da Europa – Chega ganha cinco consulados, AD três e PS apenas lidera os restantes postos consulares
No círculo da Europa, o Chega venceu em cinco consulados: Suíça (45,72%), Luxemburgo (31,27%), França (28,85%), Bélgica (23,74%) e Reino Unido (16%). A AD conquistou o primeiro lugar em Espanha (22,19%) na Alemanha (19,60%), e nos Países Baixos (18,65%). O PS obteve os melhores resultados nos “restantes países da Europa”, com 18,05% dos votos.
Na Alemanha, a coligação PSD/CDS-PP destronou o PS, que havia liderado nas eleições de 2024, ao alcançar 19,60% dos votos. O PS ficou com 18,90%, seguido de muito perto pelo Chega, que registou 18,80%. O Livre obteve 3,78%, enquanto a Iniciativa Liberal (IL) alcançou 3,22%. O Bloco de Esquerda (BE) caiu do quarto para o sexto lugar, com 3,13%. O Pessoas Animais Natureza (PAN) reuniu 1,87%, e a CDU (coligação PCP-PEV) ficou com apenas 1,25%.
Na Bélgica, o Chega assumiu a liderança com 23,74%, ultrapassando o PS, que tinha vencido nas eleições anteriores, e que desta vez obteve 15.11%. A AD ficou em terceiro, com 16,07%. O Livre ocupou o quarto lugar com 6,40%, seguido pela IL (4.94%), o BE (3.32%), o PAN (2.30%) e a CDU (1.87%).
Em Espanha, as posições dos partidos mantiveram-se praticamente inalteradas em relação a 2024, com exceção do Livre, que subiu da sétima para a sexta posição, alcançando 3,51%. A AD liderou com 22,19%, seguida do PS com 17,55% e do Chega com 13,11%. A IL manteve a quarta posição (5,91%) e o BE ficou em quinto (3,52%). O PAN caiu para o sétimo lugar (1,99%) e a CDU ocupou o oitavo posto, com 1,52%.
Já em França, o PS perdeu a liderança para o Chega, que alcançou 28,85%, ficando os socialistas em segundo com 14,41%. A AD manteve o terceiro lugar, com 12,81%, seguida do PAN (1,48%) e do BE (1,17%). O Livre subiu novamente, conquistando a sexta posição (0,67%), tal como a IL, que ficou em sétimo (0,67%). A CDU, por sua vez, desceu da sexta para a oitava posição, com 0,56%.
Nos Países Baixos, a AD venceu com 18,65% dos votos, seguida do Chega, que ficou em segundo com 17,24%, e do PS em terceiro, com 13,77%. A IL alcançou 11,10%, o Livre 10,71%, o BE 4,50% e o PAN 2,90%. O partido Volt captou 1,79%, ultrapassando a CDU, que obteve 1,24%.
No Luxemburgo, o Chega liderou com 31,27% dos votos, seguido pela AD (17,8%) e pelo PS (11,71%). A IL manteve a sua posição com 2,23%, enquanto o BE caiu duas posições para 0,99%, ficando atrás do PAN (1,17%) e do Livre (1,10%). A CDU registou apenas 0,73%.
No Reino Unido, o Chega ganhou terreno ao obter 16% das votações, ultrapassando os socialistas, que ficaram em segundo lugar com 13,21%. A AD subiu para terceiro lugar (13,07%), e o Livre ascendeu três posições, tendo alcançado a quarta (3,09%). Já a IL (2,93%), o BE (2,27%), o PAN (2,05%) e a CDU (0,97%) registaram uma diminuição face a 2024.
Na Suíça, o Chega reforçou a liderança, com 45,72%, um aumento significativo face aos 32,62% obtidos nas legislativas anteriores. A AD manteve o segundo lugar (13,67%), seguida do PS em terceiro (8,69%). Seguem-se a IL (2,40%), o BE (1,28%), o Livre (1,13%), o PAN (0,94%) e a CDU (0,73%).
Nos restantes postos consulares da Europa, o PS alcançou 18,05% dos votos, superando os 17,92% da AD, que liderava em 2024 com 19,29%. Os outros partidos mantiveram as suas posições: Chega (16,52%), IL (8,46%), Livre (8,12%), BE (4,12%), PAN (2,80%) e CDU (1,87%).
No círculo fora da Europa, a AD venceu em seis mesas e Chega apenas conquistou o primeiro lugar no Brasil. Foto: AD - Coligação PSD/CDS
Círculo Fora da Europa: AD vence em seis mesas e Chega apenas no Brasil
Fora do círculo europeu, a Aliança Democrática destacou-se como a grande vencedora, liderando em seis mesas eleitorais — África (31,90%), Canadá (19,80%), Estados Unidos da América (21,62%), China (33,36%), restantes países da América (28,28%) e Ásia e Oceânia (24,27%). O Chega garantiu a primeira posição no Brasil, com 25,35%, embora tenha obtido menos votos do que em 2024.
Em África, a AD voltou a triunfar, alcançando 31,90% dos votos. O Chega conquistou a segunda posição com 20,35%, ultrapassando o PS, que caiu para terceiro lugar, registando 16,24%.
No Brasil, o Chega manteve-se na liderança, com 25,35% dos votos, registando apenas uma ligeira subida face aos 24,61% obtidos nas eleições do ano passado. A AD continuou em segundo lugar, mas sofreu uma queda significativa, descendo de 20,45% para 15,51%. O PS manteve-se em terceiro, embora com uma ligeira descida, passando de 15,30% para 13,67%.
No Canadá, o partido dirigido por Luís Montenegro reforçou a liderança, tendo havido um ligeiro aumento da votação para os 19,80%, face aos 19,64% de 2024. O Chega registou um crescimento, subindo de 11,05% para 17,23% e assumindo a segunda posição. O PS caiu para terceiro, com 11,78%, recuando face aos 14,36% do ano anterior.
Nos EUA, a coligação PSD/CDS manteve-se em primeiro lugar, aumentando ligeiramente para 21,62%, contra os 20,11% de 2024. O Chega cresceu de 11,17% para 17,08%, conquistando o segundo lugar. O PS manteve-se em terceiro, com uma variação mínima, passando de 10,89% para 10,96%.
Nos restantes países da América, a AD voltou a vencer, apesar de uma quebra face a 2024, caindo de 34,46% para 28,28%. O Chega praticamente duplicou os votos — de 6,29% para 14,64% — e subiu ao segundo lugar. O PS sofreu uma ligeira descida, passando de 13,18% para 11,86%, mantendo o terceiro posto.
Na China, a Aliança Democrática voltou a liderar entre os eleitores portugueses, embora com uma ligeira redução face a 2024: obteve 33,36%, contra os 37,45% do ano anterior. O PS registou um crescimento assinalável, subindo de 12,10% para 21,21%, assumindo a segunda posição. A votação no Chega também aumentou, ainda que de forma mais moderada, passando de 5,36% para 6,85%.
Nos restantes países da Ásia e Oceânia, os sociais-democratas e centristas mantiveram o posto, apesar de uma descida expressiva — de 31,50% para 24,27%. O Chega voltou a crescer de forma significativa, praticamente duplicando a votação, de 8,05% para 15,71%, alcançando o segundo lugar. O PS registou uma estabilidade relativa, passando de 13,38% para 13,37%, mantendo-se em terceiro.
Chega é o partido mais votado dentro e fora da Europa
O Chega foi o partido mais votado na Europa com 71.990 votos (28,20%) e fora da Europa com 20.202 votos (20,78%). Os dois deputados eleitos pelo partido são José Dias Fernandes, pelo círculo da Europa, e Manuel Magno Alves, pelo círculo fora da Europa.
No discurso pós-resultados, André Ventura agradeceu às comunidades portuguesas no estrangeiro, destacando que “o Chega foi o partido mais votado pelos portugueses no mundo inteiro”.
“Hoje é um dia de história de Portugal. Um dia que será revisto no futuro como aquele em que um partido com seis anos rompeu com 50 anos de bipartidarismo em Portugal. Essa é talvez a maior mudança de regime que podíamos ter hoje, mas é uma mudança de regime tranquila e saudável. É a mudança de regime de um povo que está cansado de 50 anos de conluios de interesses e de estagnação”, disse.
Ventura dirigiu o seu discurso para os emigrantes, “aqueles que tiveram de partir para outros países em busca de uma vida melhor”: “[Os emigrantes] saíram daqui e não foram zangados com o país. Saíram daqui zangados com PS e PSD e com 50 anos de uma governação que não deu as respostas que precisavam de ter”, reiterou.
O líder do Chega prometeu “trabalhar, trabalhar e trabalhar em prol de Portugal”, afirmando que quer construir um “governo alternativo” sem nunca renegar “a origem e o ADN” do partido.
“Não tenham medo. As mudanças geram sempre medo nos países. As mudanças geram sempre medo nas comunidades. Mas não tenham medo. Este país precisa de mudar. E nós temos que lhes dizer que estamos prontos para mudar. Homens e mulheres deste país, maiorias e minorias, emigrantes e imigrantes, não tenham medo”, afirmou.
AD continua com maioria relativa
Apesar de ter ganho as eleições a 18 de maio, com 32,72% dos votos, a coligação entre sociais-democratas e centristas continua com uma maioria relativa no Parlamento, mesmo com os dois mandatos obtidos nos círculos do estrangeiro.
Os dois deputados eleitos pelo partido de Luís Montenegro são José Manuel Ferreira Fernandes, pelo círculo da Europa, lugar que tinha falhado nas eleições de 2024, e José de Almeida Cesário, reeleito pelo círculo Fora da Europa.
Em declarações aos jornalistas, José de Almeida Cesário reconheceu que “foi uma luta difícil”, acrescentando que “é preciso aumentar a proximidade com as pessoas”.
Abstenção sobe com votos da emigração
Uma grande percentagem das votações corresponde a votos nulos. Este ano, foram contabilizados
o círculo do estrangeiro, o que representa 32,18 % dos boletins preenchidos e enviados pelos emigrantes. O número desceu face a 2024, em que se contaram . O maior aumento da percentagem de votos nulos aconteceu das Legislativas de 2022 para as de 2024, quando passou de 19,66% para 36,68% do total de votos.Durante a contagem dos votos do estrangeiro, André Wemans, porta-voz da Comissão Nacional de Eleições (CNE), disse à TSF que “nalgumas mesas há 30-40% de votos nulos. Na maior parte deles, tem sido reportada a ausência da fotocópia do cartão de cidadão ou de outro documento de identificação“. “Já é um problema que vem das eleições anteriores. Em 2024, tivemos cerca de 34% de votos. Aumentámos o leque de documentos possíveis de aceitar para acompanhar [o voto], porque sentimos alguma relutância [por parte dos eleitores] em ser a fotocópia do cartão de cidadão”, esclareceu.
A abstenção voltou a ser um dos dados marcantes destas eleições legislativas. No território nacional, a taxa fixou-se nos 35,6%, abaixo dos 40,2% registados em 2024, o que corresponde a 5.965.322 cidadãos que exerceram o seu direito de voto. Este valor iguala o registado em 2005, ano em que a abstenção foi exatamente a mesma.
Com exceção da diminuição deste ano, o número de votos nulos cresceu, mas, ao mesmo tempo, a taxa de abstenção desceu no estrangeiro, ainda que continue a ser muito elevada, em comparação com a do território nacional. Entre os eleitores residentes no estrangeiro, apenas 22,24% participaram nestas legislativas, tendo votado um total de 352.503 pessoas das 1.584.722 inscritas, o que representa uma abstenção de 77,8%. Em 2024, a percentagem de abstenção ficou nos 78,44% e, em 2022, nos 88,58%.
Esta elevada taxa fora do país fez subir o valor dos resultados globais, com a abstenção total a fixar-se nos 41,8%, refletindo as dificuldades persistentes na mobilização do eleitorado emigrante.
Editado por Filipa Silva