A Universidade de Harvard, a mais antiga dos Estados Unidos da América, recebeu ordem para revogar o programa de integração de estudantes estrangeiros, ordem para já suspensa nos tribunais.
Harvard é a universidade mais antiga dos EUA e uma das mais prestigiadas do mundo. Foto: Bernardo Wolff/Flickr
O que está a acontecer na Universidade de Harvard?
A administração Trump quer proibir Harvard de receber estudantes estrangeiros. Na quinta-feira (22), a universidade mais antiga dos Estados Unidos, e uma das mais prestigiadas do mundo, recebeu uma carta da secretária da Segurança Interna, Kristi Noem, a anunciar a revogação “imediata e efetiva” do programa de integração de estudantes estrangeiros da Universidade de Harvard, o SEVP (Student and Exchange Visitor Program).
No comunicado, Kristi Noem informa que os estudantes internacionais que estão, neste momento, a frequentar a universidade, terão de pedir transferência imediata, e que a instituição de ensino não poderá receber estudantes estrangeiros no próximo ano letivo.
Já esta terça-feira (27), a administração Trump intensificou a ofensiva ao pedir às agências federais que cancelassem contratos com a universidade, o que pode representar um corte de financiamento no valor de cerca de 100 milhões de dólares que acrescem a outros associados a outras medidas adotadas para pressionar a instituição.
E qual a razão apontada pela administração Trump?
De acordo com a secretária de Segurança Interna, porque a instituição não cumpriu com várias auditorias pedidas à universidade. Noem acusa a instituição de “promover a violência, o anti-semitismo e [de] estar coordenada com o Partido Comunista Chinês”.
A instituição recusou, em abril, partilhar informação com a administração sobre alguns dos seus estudantes portadores de visto. Foi nessa altura ameaçada de que esta medida podia ser adotada em resposta a essa recusa.
Quantos estudantes estrangeiros há em Harvard?
A universidade privada, localizada na cidade de Cambridge, no estado de Massachusetts, a mais conhecida das chamadas Ivy League, acolhe, anualmente, cerca de 6.700 estudantes internacionais, correspondendo a 27% do total anual de alunos. Este ano, Harvard tem, no total, 10.158 alunos internacionais de 150 países.
E estão já a deixar a instituição?
Não. A ordem do Departamento de Segurança Interna norte-americano foi temporariamente bloqueada por um tribunal distrital de Massachusetts, no dia seguinte ao anúncio da administração Trump.
As cerimónias da graduação dos estudantes de Harvard acontecem esta semana.
Donald Trump já se pronunciou?
Durante o fim de semana, Donald Trump pronunciou-se sobre a “guerra” com a Universidade de Harvard, em declarações na rede social “Truth Social”. O presidente dos Estados Unidos diz que há países “nada amigáveis” que “não pagam nada pela educação dos alunos, sequer planeiam fazê-lo”.
“Nós queremos saber quem são esses estudantes estrangeiros, um pedido razoável tendo em conta que nós damos a Harvard milhares de milhões de dólares, mas Harvard não é propriamente transparente”, diz também Donald Trump, em declarações publicadas no domingo.
Quando é que tudo se desenrolou?
Desde a tomada de posse, em janeiro deste ano, que a nova administração da Casa Branca, liderada por Donald Trump, iniciou um ataque a várias instituições de ensino superior, por considerar que algumas das universidades privadas mais prestigiadas do país, como Princeton, Columbia ou John Hopkins, favorecem de ideologias de esquerda, antissemitas e defensoras do Hamas.
No dia 11 de abril, o presidente da Universidade de Harvard, Alan Garber, recebeu uma carta por parte da Administração Trump a exigir uma auditoria aos estudantes internacionais e o desmantelamento de grupos estudantis pró-palestina. Harvard recusou-se a cumprir com os pedidos por considerar o pedido “ilegal”.
Três dias depois, no dia 14, o governo federal congelou verbas no valor de 2,2 mil milhões de dólares para a instituição, por alegada falta de cooperação com investigações sobre um alegado “antissemitismo” vivido no campus da universidade.
De acordo com o jornal Harvard Crimson, no dia 16 de abril, o Departamento de Segurança Interna enviou à direção da universidade outra carta a voltar a pedir informações sobre atividades no campus realizadas por estudantes estrangeiros. No comunicado, Noem refere que, caso o pedido não fosse respondido, o programa de intercâmbio SEVP seria cancelado.
De acordo com o “The Washington Post”, ainda no dia 16 de abril a administração Trump contactou com o Serviço de Receita Federal dos Estados Unidos para revogar o estatuto de isenção fiscal de Harvard.
No dia 5 de maio, Linda McMahon, secretária da Educação, anunciou que Harvard não é elegível para receber novas verbas federais. Uma semana depois, Harvard foi atingido com mais um corte, desta vez de 450 milhões de dólares.
Na quinta-feira, dia 22 de maio, foi o dia em que o diretor de Harvard voltou a receber uma carta por parte do Departamento de Segurança Interna, desta vez emitindo a revogação do programa de intercâmbio de estudantes internacionais.
Neste dia, um tribunal distrital em Massachussets concedeu uma ordem de restrição temporária, o que impede a implementação das medidas promovidas pela administração Trump.
Como é que a Universidade se está a defender?
Até agora, Harvard apresentou dois processos contra a administração Trump. O primeiro foi apresentado no dia 21 de abril, a propósito do congelamento de verbas federais.
Na sexta-feira, 23 de maio, Harvard voltou a apresentar um processo contra a Administração Trump, argumentando que as retaliações são ilegais e violam a autonomia académica.
Há portugueses em Harvard?
Sim. Este ano letivo, há 16 portugueses a estudar em Harvard.
O JPN falou com o presidente do Harvard Clube de Portugal, que reage às ações da administração Trump com “preocupação e tristeza”. José Tenório diz que “desaparecerem 25% de alunos” irá “provocar um impacto profundíssimo na universidade”. O responsável salienta também o “impacto profundo” que estas medidas terão “na qualidade da ciência” e do ensino.
José Tenório acredita que, apesar do embargo do Departamento de Segurança Interna, a Universidade vai conseguir “gerar soluções” para continuar a acolher alunos internacionais: “Harvard é uma universidade grande o suficiente para, em último caso, vir dar aulas à Europa”, refere o presidente do Clube, que salienta que a preocupação da instituição é “garantir que as pessoas conseguem terminar os seus graus”.
Relativamente às acusações de antissemitismo dirigidas à instituição, Teotónio diz ser “impensável do ponto de vista institucional de Harvard” haver um ataque direto “a um conjunto de estudantes, ou a um estudante da própria instituição, com base na sua religião”.
Editado por Filipa Silva