Questionado pelo JPN, Abdul Rehman Mangá, presidente do Centro Cultural, apesar de perceber os motivos apresentados por Rui Moreira para não avançar com a proposta, teme que o assunto se arraste no tempo e até que seja utilizado na campanha das autárquicas como arma de alguns candidatos para "extremarem as suas posições acerca da imigração".
O Centro Cultural Islâmico é um local de culto, mas acolhe também outras atividades.
O Centro Cultural Islâmico do Porto reagiu com “surpresa e tristeza” à retirada da proposta que previa a atribuição de um edifício para a construção de uma nova mesquita no Porto. Questionado sobre o assunto pelo JPN, o atual presidente do centro cultural, Abdul Rehman Mangá, começou por referir que percebe as “justificações dadas pelo presidente da Câmara”, Rui Moreira, mas revela também alguma preocupação quanto a uma possível instrumentalização da decisão e aproveitamento político nas próximas eleições autárquicas. “Infelizmente este assunto vai ser aproveitado por alguns dos candidatos, para extremarem as suas posições acerca da imigração”, referiu na resposta por escrito enviada ao nosso jornal.
Para o representante do centro, é preocupante a tendência crescente de “equiparar o Islão com o atual contexto de imigração”, desvalorizando a história e integração da comunidade muçulmana na cidade. “Há mais de 20 anos que dialogamos com os diversos presidentes da Câmara do Porto, para nos concederem um terreno para a construção de uma mesquita”, recorda. Segundo Abdul Mangá, o centro tem acolhido cerca de 4 mil alunos anualmente, acompanhados de professores, para visitas pedagógicas que visam “desfazer preconceitos sobre o Islão” e para “não julgarem exclusivamente pelo que ouvem”. Desde jovens a idosos, universitários e até membros de várias confissões religiosas, são muitos os cidadãos portuenses que têm marcado presença nas iniciativas promovidas pelo centro. O espaço acolhe ainda várias aulas de português, em colaboração com uma ONG, para “facilitar a integração” da comunidade islâmica na cidade e no país.
O edifício para a construção de uma nova mesquita é um pedido antigo da comunidade, principalmente pelo tamanho do centro na Rua do Heroísmo. Com todas estas iniciativas, e uma comunidade de mais de 7 mil muçulmanos só na cidade do Porto, as atuais instalações tornam-se “exíguas”. Apesar de pequenas, as instalações do Centro Cultural Islâmico já receberam o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. A visita do presidente, em 2021, ainda é, nos dias de hoje, algo que Abdul recorda com muito orgulho. Na altura, Marcelo iniciava o segundo mandato na Presidência e, depois de uma reunião à porta fechada na Câmara Municipal, visitou o Centro Cultural e o Bairro do Cerco.
Desde a sua fundação, em 1999, o Centro Cultural Islâmico do Porto tem procurado ser uma ponte entre culturas e religiões. “Desenvolvemos diversas atividades sociais e de convívio com todas as religiões, nomeadamente o cristianismo e o judaísmo”, refere o representante. Nesta perspetiva, Abdul Mangá destaca o início do diálogo inter-religioso com o falecido bispo D. Armindo Lopes Coelho, ligação que tem continuado com o atual bispo da diocese, D. Manuel Linda. “Todos os meses reunimos com a igreja católica, com a comunidade judaica e com as restantes confissões não cristãs”, afirma Mangá.
A componente social do centro também é sublinhada pelo seu presidente. Para além de distribuir bens alimentares, o centro cultural também dá apoio a pessoas em situação de vulnerabilidade na resolução de problemas que eventualmente possam ultrapassar. Abdul Mangá conclui a declaração ao JPN reiterando o desejo de que, com paciência e diálogo, a comunidade possa vir a usufruir da tão ansiada mesquita: “Aguardamos com paciência, como o Islão nos recomenda, que o dia de amanhã será melhor.”
As propostas de cedência de dois edifícios para a construção de mesquitas no Porto – uma para o Centro Cultural Islâmico do Porto e outra para a Associação Comunidade do Bangladesh do Porto – não foram votadas na reunião privada do executivo desta segunda-feira, como esteve planeado. O Executivo camarário voltou atrás na decisão, depois de múltiplas reações nas redes sociais contra a medida.
Editado por Filipa Silva