No quatro episódio do Pela Tua Saúde!, Rita Maciel Barbosa, especialista em medicina geral e familiar, distingue Infeções de Doenças Sexualmente Transmissíveis. De forma descomplicada, a médica do Centro Integrado de Saúde Sexual do Porto, aborda questões como os sintomas silenciosos, os estigmas, os "pré-conceitos", os tratamentos possíveis e partilha dicas para práticas sexuais seguras e igualmente prazerosas.

Áudio do programa

Transcrição do programa

Liliana Costa (LC): Olá, sejam bem-vindos ao Pela Tua Saúde, um podcast sobre saúde feito por jovens e a pensar em jovens.

Sofia Martins (SM): Em estúdio montámos uma espécie de consultório informal, medicamente assistido, para dissipar dúvidas, discutir dados e curiosidades e explicar o que muitas vezes parece complicado, mas não é. E tudo numa linguagem acessível e sem tabus.

LC: Eu sou a Liliana Costa.

SM: E eu sou a Sofia Martins.

LC: Esta primeira temporada é dedicada à sexualidade e neste episódio vamos abordar sobre infeções sexualmente transmissíveis, também conhecidas como IST. E para falar connosco deste tema, temos aqui em estúdio a doutora Rita Maciel Barbosa, especialista em medicina geral e familiar e médica do Centro Integrado de Saúde Sexual do Porto.

SM: Doutora Rita, muito obrigada por ter aceitado o nosso convite, é um prazer tê-la aqui em estúdio.

Rita Maciel Barbosa (RMB): Obrigada pelo convite.

SM: Para iniciar, falámos com várias jovens e percebemos que muitos deles não sabem bem a diferença entre Infeções Sexualmente Transmissíveis e Doenças Sexualmente Transmissíveis. Por não começarmos por aí para esclarecer um pouco esta diferença?

RMB: Acho que sim. Então, antes de mais, bom dia. Obrigada pelo convite. Claro que para nós também é um prazer, podemos colaborar com as estruturas, nomeadamente a Universidade, e com vocês. E parece-me bem, se o tema proposto é IST, por que não definir?

Então, aqui a grande diferença, como dá para perceber, é entre o “I” e o “D”. Logo, o “I” vem de infeções sexualmente transmissíveis e o “D” vem de doenças sexualmente transmissíveis. Neste momento, todos os órgãos internacionais e nacionais, desde tudo que seja informação sobre esta área, abandonou o termo DSTs, por isso hoje em dia só falamos em IST, nem utilizamos o apóstrofe S em termos de informação científica, porque em boa verdade grande parte das situações são infeções que não chegam ao lugar de doença. Isto tem quase que um intervalo temporal entre a infeção e o momento em que se torna doença. E por isso o termo a utilizar será IST e não DST.

LC: E dentro das IST, sabemos que o leque ainda é vasto. Quais são as infeções sexualmente transmissíveis que afetam jovens da mais para a menos prevalente?

RMB: Neste momento, como vocês já perceberam, há um relatório em 2023 e depois um novo relatório em 2024 e agora um último relatório em 2025 que chama a atenção para o ‘boom’ de IST nos últimos três, quatro anos, nomeadamente na camada mais jovem. O que nós sabemos é que cerca de 50% das infeções notificadas, porque os relatórios só se baseiam naquilo que é notificado, o que significa que estamos a trabalhar com valores abaixo daquilo que é o real, atingem os adolescentes e os jovens adultos entre os 15 e os 24. Então, temos aqui uma grande prevalência.

Quais são aquelas infeções sexualmente transmissíveis com maiores dados em termos de incidência, ou seja, maior número de novos casos? Temos à cabeça a clamídia, que é uma infeção sexualmente transmissível mais frequente na Europa e no mundo, seguida depois da gonorreia e depois da sífilis, que será assim o nosso top 3 em termos das infeções sexualmente transmissíveis nos adultos jovens.

SM: E também, porque na saúde, ouvir o nosso corpo é, de facto, um passo essencial, quais são os principais sintomas aos quais devemos estar atentos e também um pouco sobre o meio de transmissão das infeções em si?

RMB: Então, se calhar, vamos começar pelos meios de transmissão. Vamos começar pela raiz, para tentarmos perceber como é que isso funciona. As infeções sexualmente transmissíveis podem ser bactérias, podem ser vírus, como podem ser parasitas.

Estas três principais infeções sexualmente transmissíveis são todas bactérias. E onde é que estes organismos estão? Estes organismos estão nos fluidos genitais, nas nossas mucosas, ou seja, podem estar na nossa boca, podem estar nos nossos fluidos genitais – quer fluidos penianos, quer fluidos vaginais, quer fluidos anais – ou melhor, no ânus, não propriamente fluidos anais, nas nossas mucosas, e por isso temos a mucosa oral, a mucosa genital e a mucosa anal, e na nossa pele. A partir do momento em que nós conseguimos perceber onde é que eles estão, também conseguimos perceber como é que eles  transmitem.

Então, como é que eles transmitem? Através de todas as práticas sexuais, ou seja, práticas de sexo anal, quer seja ativo ou recetivo, prática de sexo penetrativo, quer seja vaginal, quer seja anal. Agora, como também estão na nossa pele, nem todas as práticas sexuais, ou melhor, as infeções sexualmente transmissíveis podem-se transmitir não só pelas práticas sexuais comuns, digamos assim. Pode haver um contacto de pele com pele, e depois o que valerá aqui para a questão da prevenção, mas pode haver um contacto de pele com pele e é o suficiente para uma transmissão, nomeadamente nos casos de herpes e HPV.

Imaginem que temos uma verruga na zona da coxa, e a coxa da outra pessoa vai trocar na coxa da pessoa que tem verruga, pode haver aqui uma transmissão de HPV, mesmo que não haja contacto entre um fluido genital.

SM: E quanto aos sintomas, também se calhar distinguir um pouco dos sintomas, alguns podem ser comuns, imagino eu, mas alguns são específicos para cada infeção.

RMB: Então, de uma forma geral, como já percebemos onde é que elas estão, também conseguimos perceber quais possam ser os sintomas. Então, temos sintomas que podem ser, por exemplo, urinários, desde uma dor a urinar, um ardor a urinar, um desconforto a urinar. Podemos ter sintomas, por exemplo, vaginais, um corrimento vaginal, um desconforto vaginal, um ardor, uma dor.

Dor durante a relação sexual, no caso de uma vagina com pénis, pode haver o que nós chamamos de uma coitalgia ou dispareunia, ou seja, há dor durante a atividade penetrativa. Ao nível peniano, podemos ter, então, mais uma vez o corrimento, ou seja, tudo o que sejam secreções que são suscetíveis de infeções sexualmente transmissíveis. E, mais uma vez, podemos ter uma dor a nível da uretra peniana e um desconforto a urinar também.

Ao nível anal, é a mesma coisa, ou seja, pode haver aqui alguma produção de uma secreção anómala, então, tudo o que seja secreções, será uma suspeita. Mas podemos ter também uma dor anal, podemos ter uma desregulação do intestino, alguém que, de repente, nos últimos 3 meses, está com o intestino mais desregulado, vai a casa de banho mais vezes, havendo fatores de risco, há uma grande probabilidade de ser, por exemplo, uma gonorreia, também. Dores de garganta, havendo aqui um contacto, através do sexo oral, por exemplo, uma dor de garganta é um dos sintomas patognomónicos, por exemplo, de uma gonorreia ao nível de orofaringe.

E depois também podemos ter sintomas cutâneos, como dá para perceber, desde as verrugas, às lesões, às manchas. Então, pensando nas três principais para organizarmos ideias. Relativamente à clamídia, há aqui um grande problema relativamente aos sintomas, é que cerca de 80% das pessoas não têm sintomas. Como não têm sintomas, não sabem que têm e também não sabem que estão a transmitir nem a adquirir. E isto é que justifica o facto de ela ser a infeção sexualmente transmissível mais frequente.

LC: É silenciosa.

RMB: Ora, é bastante silenciosa. E ainda por cima, quando dá sintomas, os sintomas que ela dá são sintomas muito ténues, coisas do género: um desconforto vaginal, parece que é uma infeção urinária que está a começar, mas depois até bebe um pouco mais de água e desaparece. Depois, no mês seguinte, volta a sentir ali algum desconforto, mas depois acaba por desaparecer. Ou no caso de uma pessoa com pénis, é idêntico, ou seja, sente ali um desconforto, mas vai fazer chichi, afinal de contas o desconforto não está, e depois passa. São sintomas muito ondulantes, ora vão, ora vêm.

E depois, por exemplo, o corrimento. Fazer um corrimento muito aquoso, então até parece quase que uma pinguinha de xixi, e as pessoas acabam por não valorizar. No caso da gonorreia, é o oposto. A gonorreia é muito sintomática e os sintomas geralmente surgem ali entre os três a dez dias depois da atividade sexual desprotegida, mas podem surgir até um mês depois. E surgem com corrimento, que é amarelo, que é esverdeado, é abundante, por isso, ou seja, marca. As pessoas notam qualquer coisa que não está bem, com muita dor, com muito desconforto, e se não for tratada vai avançando e pode inclusive afetar as nossas articulações, mal-estar. Há um mal-estar geral, pode até dar febre, sensação febril, então, há qualquer coisa que não está bem no nosso corpo, então nota-se mais e as pessoas vão procurar ajuda.

No caso da sífilis, nós também sabemos que apenas 50% das pessoas são totalmente sintomáticas, então, abre aqui espaço para uma sífilis latente, que é difícil de nós perceber que temos, e a sífilis vai avançando por estadios, digamos assim. Nós, desde que contactamos a sífilis, demoramos mais ou menos 3 semanas a desenvolver o primeiro sintoma, por isso nós temos aqui um período de janela bastante alargado.

O primeiro sintoma é tipo uma afta, só que é uma afta que não dói, e então passa a ser despercebida. Nós também andamos todos os dias a fiscalizar a nossa boca, obviamente. Se for numa área em que haja, por exemplo, pelos numa área genital, pode passar a ser despercebida porque não dói e não andamos todos os dias com um espelhinho a fiscalizar a área toda. E a questão é que esta afta cicatriza sozinha mesmo que a gente não faça nada, então ela pode durar 1 ou 2 semanas, ela cicatriza. Como ela cicatrizou, mesmo que nós tínhamos notado alguma coisa, ela desapareceu, deixamos de valorizar. Qual é o problema? Que a bactéria continua no nosso sangue e vai avançando na sua proliferação.

E depois dali um mês, um mês e pouco, podem surgir novos sintomas. E aí entramos numa fase secundária da sífilis, onde os sintomas já são mais cutâneos, são manchas na pele, manchas vermelhas, cansaço, pode dar até peladas. As pessoas já acham que é uma coisa alérgica, uma coisa fúngica. Então, às vezes, a preocupação já faz com que as pessoas vão ao médico procurar ajuda e aí descobrimos que é uma sífilis. Por isso, acabamos por ter aqui sintomas muito distintos. Eu organizaria deste género, tudo o que seja um corrimento diferente do habitual é sinal de alarme.

Claro que estamos a falar com pessoas que têm uma atividade sexual desprotegida, não? Por isso, ou seja, nem todo o corrimento é uma afecção sexualmente transmissível. Por isso, tudo o que seja corrimento diferente do habitual pode ser. Tudo o que sejam sintomas urinários diferentes do habitual em uma pessoa com atividade sexual desprotegida podem ser uma infeção sexualmente transmissível. Tudo o que seja manchas na pele vermelhinhas ou feridas, qualquer tipo de ferida que aconteça ou na boca ou nos órgãos genitais é motivo de alarme também.

LC: Por isso, é crucial não ignorar estes sintomas e quanto mais cedo a infeção for diagnosticada, mais sucesso terá o tratamento. Neste sentido, doutora, a prevenção também passa pela realização de rastreios?

RMB: Sem dúvida. Em termos da prevenção, eu gosto de organizar de uma forma um bocadinho diferente antes dos rastreios. Ou seja, vamos pensar do macro para depois para outra intervenção. Então, do ponto de vista global, como é que nós podemos prevenir as infeções sexualmente transmissíveis? Com o uso preservativo. E pode ser desde o preservativo masculino, o preservativo feminino. Por exemplo, uma das práticas que gera, ou melhor, a prática sexual que é menos protegida de uma forma global, como vocês devem ter a noção, é a prática de sexo oral. Ou seja, práticas penetrativas são mais facilmente protegidas. Ou seja, sexo oral é mais frequentemente não protegido. Eu acrescentava aqui, até em jeito de parênteses, não é protegido inclusivamente por um preconceito.

Também não um preconceito, mas um preconceito relativamente ao sexo oral. A verdade é que a grande maioria das pessoas considera o sexo oral uma prática sexual de baixo risco. Há quem nem considera uma prática sexual e até por parte dos profissionais de saúde também, muitas vezes olham para o sexo oral como sendo uma prática menor. E não trabalhamos muito esta questão da proteção e do risco associado ao sexo oral.

Na linha disto, a maior parte das pessoas, por exemplo, como é que uma mulher se protege a receber sexo oral? A maior parte das pessoas nunca pensou sobre esta questão. Nós pensamos muito no preservativo masculino, por exemplo, para a utilização num pénis, para a proteção num sexo oral, a realizar alguém com pénis.

Pensamos no preservativo masculino, pelo menos para aplicar num brinquedo sexual que seja com o objetivo penetrativo, mas como é que nós protegemos uma vagina, uma vulva de sexo oral? É pertinente. Então, também temos, para além dos preservativos masculinos, os chamados “dental dams” , são películas de plástico, que se vendem em pacotinhos próprios para este efeito, mas infelizmente ainda são bastante caros, são quase 7 euros cada caixinha, traz quatro películas. Claro que têm cores, podem ter sabores, mas realmente o investimento ainda é grande em termos financeiros. Nós podemos substituir isso, por exemplo, por uma película aderente, aquela que utilizamos para tapar os alimentos, e cada vez mais são as mulheres que saem à noite com quadradinhos de películas aderentes no bolso de trás das calças. Claro que isto, obviamente, acompanhado de lubrificante, porque o lubrificante, enquanto as pessoas exploram manualmente e aumentam inclusivamente a onda de prazer, vai permitir que aquela película dira melhor à região vulvar e também vai dar mais prazer, obviamente, a quem vai dar, o facto de estar lubrificando também por fora, e a quem recebe.

Outra possibilidade de protegermos nesta questão é, por exemplo, utilizarmos um preservativo masculino, ou seja, cortando-o a meio, digamos assim, e depois cortando-o na longitudinal e voltamos a ficar com um retângulo. A lógica é a mesma. Agora, geralmente nós não saímos com tesouras no bolso, e eu desconfiaria de alguém que saia à noite com uma tesoura no bolso, então é capaz de não ser a estratégia mais fácil, e por isso esse tipo de película é importante.

Temos ainda o preservativo feminino, que é muito desconhecido, que é pouco falado, infelizmente não está disponível neste momento de forma gratuita na grande parte dos serviços de saúde. No nosso centro nós temos bastantes preservativos femininos, e temos engraçado, temos vindo a notar cada vez mais o aparecimento de mulheres que querem utilizar o preservativo feminino. Há aqui uma grande vantagem do preservativo feminino, é que ele pode ser colocado entre 4 a 8 horas antes da atividade sexual.Então as mulheres podem sair de casa com o preservativo feminino colocado, se acontecer, fantástico, se não acontecer aquilo roda-se e tira-se. Isto é uma questão. O preservativo feminino não dá para colocar no calor do momento, implica levantar a perna, pôr de cócoras, não dá, não funciona, aquilo quebra qualquer tipo de clima.

Ou seja, é mesmo feito para ser colocado em casa, de forma confortável, de forma relaxada, porque tem que se colocar dentro da vagina. Agora, ele vai por fora cobrir a totalidade dos lábios, que também pode ser uma boa estratégia para o sexo oral. Agora, vai depender muito da anatomia da mulher, porque aqui ele tem um arozinho de um plástico um bocadinho mais grossinho, à volta do látex. Ou seja, vai ver se há vulvas que são totalmente cobertas pela totalidade daquele arozinho, como se calhar há vulvas que possam não encaixar tão bem na dimensão do ar. E pode trazer algum impacto na questão do sexo oral. Agora, em termos de sexo oral é bestial, porque ainda por cima, como o preservativo fica dentro da vagina, a própria língua da outra pessoa pode explorar por fora, mas também pode explorar por dentro.

E isto, se for com uma película, não é tão fácil. Por isso, em termos de prevenção, o primeiro lugar é sexo seguro, do ponto de vista do uso preservativo. Temos em termos de prevenção as vacinas, antes de chegar aos testes. Os testes podem ser quase considerados uma prevenção secundária, ou seja, depois de corrermos risco, é importante fazermos teste para um diagnóstico precoce. O que estamos a falar são de tipos de prevenções para evitar que a infeção surja. Está a fazer sentido? Então, temos vacinas.

Vacinas da HPV, que vocês já devem ter ouvido falar. Neste momento, todas as meninas e meninos de volta dos 10 anos são vacinados gratuitamente para o HPV. Por isso, nós daqui a uns anos vamos ter aqui um grande bolo da população que já está bastante protegida pelos piores tipos da HPV. Também os que estão mais associados a situações cancerígenas. De qualquer das formas, a vacina está disponível. Infelizmente, ainda é bastante cara. Mas qualquer pessoa pode fazer. E é verdade que temos aqui um espaço temporal onde ainda é muito útil fazermos a vacina, mesmo estando em idade adulta. Temos a vacina da hepatite A.

Não sei se perceberam, temos nas notícias, falou-se até há relativamente pouco tempo dos surtos da hepatite A. A hepatite A está associada a sexo oroanal. E, mais uma vez, é fácil haver sexo oral, quer seja orogenital, quer seja oroanal, de forma desprotegida. E a forma melhor de prevenirmos a hepatite A é, de facto, com vacina. Também não é gratuita, mas é bastante mais acessível, os preços são mais baratos e com duas doses ficamos protegidos para a hepatite A. Há pessoas que já fizeram a hepatite A porque fizeram viagens para determinados países endémicos e que estão naturalmente protegidos.

Temos também outra infeção sexualmente transmissiva protegida por vacina, que é a monkeypox. Não sei se já ouviram falar, o mpox. O mpox tem uma particularidade, é que é um vírus em que se transmite não exclusivamente por contacto sexual.Ele também se transmite por via aérea, ou seja, um contacto próximo com alguém. E costumo dar este exemplo, que se for num bar, mal ventilado, como é a maior parte dos bares no Porto. Está calor, as pessoas estão todas com pouca roupa, com t-shirts. Estão ali num flirt maravilhoso, durante duas horas, a conversar com alguém, onde o espaço entre as pessoas é inferior a um metro, onde as peles se tocam com pele, é um sítio propício para. Por exemplo, em monkeypox não houve um contacto sexual explícito. E de facto, neste momento, tendo em conta o facto de ser uma doença recente, sobre a qual ainda não sabemos assim tanto, é uma boa forma de nós prevenirmos.

Preservativo e vacinas. E agora sim, tenho os testes. Depois de eu ter a atividade sexual desprotegida, então sim, faz sentido eu fazer testes com alguma frequência, para eu conseguir descobrir antecipadamente as infeções, para eu conseguir tratar da melhor forma possível, evitando transmitir para outra pessoa, mas também obviamente agravamento para a nossa própria saúde.

É importante deixar claro que as infeções sexualmente transmissíveis não tratadas têm consequências graves para o nosso organismo. A curto e médio prazo. Por exemplo, a clamídia, para vocês terem uma noção, durante muito tempo nós quase só diagnosticávamos clamídia quando eram mulheres com idades mais avançadas e que depois estavam a tentar engravidar e tinham abortos de repetição, ou um casal com uma situação de infertilidade, íamos estudar e tínhamos uma clamídia com anos de evolução.

Doenças inflamatórias pélvicas, que são situações graves que nós só diagnosticamos depois em termos de internamento. A própria gonorreia, se não for diagnosticada, também vai ter consequências graves, desde prostatites, quase inflamatórios graves. Estamos a falar de consequências graves a curto e médio prazo e por isso é que é importante nós testarmos o mais rapidamente possível.

SM: Também como a doutora já referiu há pouco, às vezes a ideia das pessoas nem sempre é correta e apesar da evolução da medicina e das mentalidades, ainda há muitos jovens que se sentem desconfortáveis a falar sobre estas IST, mas o termo IST não significa o fim do mundo, há tratamentos e há formas de lidar com estas infeções. Pode dar-nos alguma ideia sobre este estigma que está à volta destas IST?

RMB: Em verdade, as IST ainda estão aqui à volta, ou seja, imbuídas de algum estigma, mas é engraçado, é um estigma que funciona aqui por dois lados, porque se nós falámos assim, se vocês colocassem num quadro IST e estigma, qual é a primeira palavra que surge? Se calhar a maior parte das pessoas ia pensar no VIH, como sendo talvez a infeção mais associada ao estigma, porque se calhar ninguém vos dizia sífilis, clamídia, está bem? É mesmo engraçado, ou seja, há aqui um estigma, é verdade, e aqui alguns preconceitos relativamente às IST, agora a sociedade já mudou muito e houve aqui muitas coisas que quase que caíram. Se vocês forem fazer estudos e leituras de 15 anos para trás, havia muita aquela coisa de infeções, que são pessoas sujas, aquela coisa da infeção sexualmente transmissível está muito associada ao trabalhador do sexo, muitos parceiros, é isso tudo, aquele mundo sujo e malcuidado, e hoje em dia já nem se fala sobre isso.

As próprias trabalhadoras do sexo, e nós temos, contactamos com bastantes lá no serviço, até nos dizem isso mesmo, não sei o que é que se passa, mas as pessoas não têm medo. Eu até às vezes digo, olha, mas eu estou com uma infeção, elas usam este argumento para negociar a questão do uso preservativo, e elas dizem, os clientes não querem saber, dizem que se trata. Estão a ver, é engraçado. Isto agora quase que temos um estigma virado ao contrário, que é quase que o outro lado da moeda. Por isso, é importante deixar claro que ter uma infeção sexualmente transmissível é uma coisa grave, que se trata, sem dúvida nenhuma. Agora, este argumento de ah, quero lá saber porque isto se trata, também é perverso.

Por isso, o que é que se sente? É que se sente que a partir do momento em que algumas pessoas têm sintomas, a principal emoção ou sentimento que surge é talvez a vergonha. Por ir a um sítio, por falar da sua zona íntima, por falar de sintomas sobre os quais ele próprio possa sentir algum repúdio e vergonha, que é um corrimento, uma dor, uma mancha a nível do pénis, imaginemos, uma área genital, ou nível anal. As práticas anais, às vezes, também estão aqui imbuídas de algum desconhecimento. E, às vezes, podemos associar o estigma não tanto à aquisição da infeção, mas mais este lado de ter que comunicar ou pedir ajuda. Da parte do nosso serviço, nesse aspecto, é uma coisa muito boa. Nós somos um serviço multidisciplinar, então trabalhamos médicos, enfermeiros, psicólogos e trabalhamos todos em conjunto. Temos aqui uma coisa também muito importante, temos vindo a trabalhar, que é uma naturalidade muito grande no discurso. O nosso principal objetivo é trabalharmos com o outro, respeitando incondicionalmente a estrutura do outro e, por isso, não há lugar nenhum para qualquer tipo de julgamento. E as pessoas, obviamente, sentem esse tipo de linguagem.

Então, quando é uma primeira abordagem ao serviço, uma consulta aberta, fazem os testes, falam sobre aquilo que se passou abertamente, falam sobre os sintomas, são encaminhados então para uma consulta médica e vamos falar com naturalidade sobre o assunto. E aí, sim, vamos conseguir trabalhar, se mesmo assim sentirmos que há ali muito desconforto, que há muita vergonha. Uma das coisas que nós perguntamos sempre aqui, relativamente à rede de suporte, se houve alguém com quem falou sobre este assunto ou não, porque há pessoas que possam precisar desse suporte extra, nós tentamos trabalhar isso, porque pode haver preconceito nas pessoas que estão à volta e nós podemos ajudar nessa mediação, mas também podemos sempre encaminhar para uma consulta de psicologia, onde esse trabalho depois é feito, porque muitas vezes estas questões da sexualidade mexem com estruturas internas, de autoconfiança, de auto-estima, mexem com questões muito importantes da heteroconfiança, que muitas vezes envolve na próprio relacionamento, nos acordos existentes nas pessoas e nos relacionamentos. Este mundo está aqui muito ligado às estruturas internas, que são muito importantes.

SM: E sobre isso que falou, também lá está o processo de tratamento de não ser o fim do mundo. Pode-se falar uma ideia sobre os processos de tratamento? Sabemos que alguns são antibióticos, mas alguns podem ser um pouco mais complexos, se calhar.

RMB: Então, sendo bactéria, nós podemos tratar, curar. Por isso, clamídia trata-se e cura-se, gonorreia trata-se e cura-se, sífilis trata-se e cura-se, micoplasma trata-se e cura-se, urioplasma trata-se e cura-se. Tudo que seja bactéria, nós usamos antibiótico, tratamos, curamos e as pessoas ficam sem a infeção sexualmente transmissível.

Para os vírus não há cura, para nenhum vírus, e por isso é que nós usamos antibióticos na gripe. Então, vírus como o HPV, como o herpes, como o VIH, nós não temos tratamentos para cura, ainda à partida não vamos ter nunca tratamentos de cura para vírus. O tratamento reside no controle dos sintomas, a tentar diminuir a intensidade das crises que possam surgir e vamos também trabalhar com os tratamentos, vai tentar diminuir o número de crises. Então, vamos ajudar a controlar os sintomas e diminuir o número de crises ali para a frente. Por exemplo, no caso do VIH, neste momento, com os tratamentos que nós temos, nós conseguimos controlar tão bem o vírus que as pessoas ficam com aquilo que nós chamamos de carga indetetável, ou seja, nós se formos a vir, nós não temos vírus, não conseguimos observar vírus naquela pessoa, a carga está indetetável e elas já não transmitem a ninguém. Mas nós não curamos o vírus, isso é importante ficar claro.

Gostava só de colocar aqui um asterisco que é muito importante nós refletirmos, que a ciência evoluiu muito no que diz respeito ao tratamento, por exemplo, dos antirretrovirais, no caso do VIH, mas nós usamos os mesmos antibióticos do século passado, é a maior parte das situações. O que significa que, neste momento, em termos de tratamento vírico, nós às vezes conseguimos resultados muito bons, mas no caso de algumas bactérias, eu tenho que obrigatoriamente destacar a gonorreia, nós temos casos de resistência ao tratamento com antibiótico muito, muito elevados. Em Portugal, felizmente, ainda não temos tantos casos, mas se formos aqui ao lado, em Inglaterra, são mesmo muitos os casos em que a bactéria resiste ao tratamento. O que significa que vocês utilizam o primeiro tratamento e neste momento já só temos um antibiótico de primeira linha, por isso usamos esse antibiótico e passavam os meses, ou poucas semanas, as pessoas estão outra vez com sintomas, o que significa que se há qualquer dia vai ser muito mais difícil tratarmos situações bacterianas, que são à partida curáveis, do que outras situações. Mas sim, a grande maioria das infeções são tratáveis, curáveis.

LC: Falando aqui no vírus do VIH, que pode evoluir para a SIDA, de que forma é que esta doença afeta a qualidade de vida das pessoas?

RMB:  Hoje em dia quase que não se fala sobre SIDA, e vocês se podem procurar quase que não surge, precisamente por isso, por esta nossa intervenção. Se calhar vamos agora olhar para o tal espectro, ou seja, se eu estiver aqui à data de hoje, hoje de manhã tive uma relação sexual desprotegida e contactei com o vírus da SIDA, tenho sintomas ou não? O que vocês têm ideia?

LC: Eu penso que não.

SM: Eu diria que não.

RMB: Precisamente, ou seja, eu não tenho qualquer tipo de sintomas neste momento, mas eu já tenho o vírus do VIH. Ok? Pronto. Entretanto, daqui até começar a ter sintomas associados ao vírus do VIH, eu tenho aqui um espaço temporal muito longo.

LC: Quanto tempo?

RMB: Vai variar muito situação para situação, mas podemos ter meses de evolução. Pois, ou seja, é aqui uma situação que… É isso, ou seja, temos aqui um grande espaço temporal onde nós temos o vírus, podemos estar a contagiar mais alguém, mas não vamos ter sintomas relativamente a essa situação. Desde que temos a infeção até termos a doença, temos aqui um espaço temporal muito grande.

SIDA, o que quer dizer a palavra SIDA? É um acrónimo, não é? Ou seja, é o Síndrome de Imunodeficiência Humana. Então, a síndrome já implica ter a ver aqui um conjunto de situações, há um conjunto de órgãos que já foram afetados pela própria infeção. E temos, ou seja, síndrome de imunodeficiência humana significa que as nossas defesas estão deficientes, digamos assim, há aqui uma quebra das nossas defesas ao ponto de começarmos a ficar com uma série de problemas inerente a isso. Isto hoje em dia é raro, nós temos alguém como digo nós que inaugura o SIDA. São situações, geralmente, de pessoas com grau de vulnerabilidade muito grande, estão muito distantes dos serviços de saúde, que não procuram ajuda. A maior parte das pessoas, quando surgem com sintomas, estamos ainda numa fase de infeção por VIH.É só que a infeção já avançou de tal forma que nós já temos sintomas, mas nós conseguimos tratar evitando que surja a SIDA.

SM: Também pegando um pouco na deteção precoce, sabemos que há casos de infeções que só são detetadas anos até após o corpo ter tido contato com esta infeção. Nessas situações, o tratamento é diferente ou o processo passa pelo mesmo? Há complicações, por exemplo?

RMB: Sim, podemos ter complicações. O tratamento, a partida, será o mesmo. Voltando-se cá um bocadinho atrás, que me esqueci de acrescentar, dando uma resposta à vossa pergunta. Hoje em dia, alguém com VIH tem uma qualidade de vida idêntica a alguém sem VIH. Isso é muito importante deixar claro também. Ou seja, hoje vive-se com VIH sem qualquer tipo de disfunção, digamos assim. Claro que nós sabemos que possam ter risco de haver determinadas situações um pouco precocemente. Há uma diabetes mais cedo, uma hipertensão mais cedo, alterações no metabolismo mais cedo, que em vez de surgirem, por exemplo, aos 70 ou 80, possam surgir aos 50. Mas estamos a falar de pessoas com qualidade de vida perfeitamente igual a alguém sem VIH. Claro que fazem uma medicação, que têm impacto, têm que ser vigiadas, mas daí não haverá problema.

Relativamente a esta segunda pergunta. Eu daria o exemplo do HPV. Muitas vezes, quando surge a primeira lesão do HPV, isto é importante também deixar claro, por causa do impacto que isto tem no nosso lado mais social e vivencial daquela situação. Quando surge o HPV, o diagnóstico, nós estamos a diagnosticar uma lesão que pode ter anos de evolução. Eu posso ter tido um contacto com o HPV há, por exemplo, aos meus 17 anos e ter uma primeira lesão do HPV, por exemplo, aos meus 27. E estou numa determinada relação aos meus 27 e de repente gera-se ali uma confusão, porque foi de ti que eu ganhei o HPV, porque é por causa de ti que hoje estou doente. Não é verdade. Pode ter outras infeções quaisquer, mas aquela não, em particular. Claro que eu estou a colocar isto assim de uma forma, isto não é depois linear. Há tipos de HPV onde este intervalo é muito mais curto, nomeadamente os tais tipos mais agressivos. O momento em que eu tenho a infeção até ao momento em que eu tenho o sintoma isto pode ser mais curto.

Mas é verdade, eu tenho situações de HPV onde eu vou ter sintoma anos depois da infeção. O que é que vai acontecer aqui? Em boa verdade, a estratégia terapêutica não vai mudar muito, porque eu só vou tratar as crises. A partir do momento em que eu sei que alguém tem HPV, essa pessoa pode, por exemplo, fazer vacina porque pode ainda acrescentar do ponto de vista da resposta imunológica, mas eu não vou fazer tratamento nenhum. Eu só vou tratar quando a pessoa tiver sintomas e o tratamento passa por, por exemplo, se for uma verruga, por retirarmos essa verruga e por mantermos uma vigilância das verrugas e vamos retirando essas condilomas, que é o nome que nós damos à verruga, se for, por exemplo, uma lesão do colo do útero, o que nós fazemos é retirarmos aquela lesão, tratamos essa lesão. Por exemplo, a verdade é que o tratamento só vai surgir sempre quando existir lesão, o que pode gerar aqui algum desconforto. Eu vou saber que tenho um vírus, sei que este vírus pode causar doença e não há nada que eu possa fazer.

O que é que eu posso fazer? Vigiar, vigiar, vigiar e no caso, por exemplo, de uma pessoa com vagina, ou melhor, com vagina não com útero, neste caso, eu posso vigiar a vagina, posso vigiar o útero, vigiar com mais frequência, precisamente porque há primeiro sinal de inflamação provocado e eu posso a tratar. Fez sentido?

LC e SM: Sim, sim.

SM: É só também um pouco uma questão mais sobre este processo todo, desde de sabermos que estamos infetados até todo o processo de tratamento, se isto é um processo um pouco mais solitário, porque as pessoas lá, como a doutora disse, têm um pouco aquele a vergonhA e o preconceito, ou se já há mais apoio dos familiares e dos amigos, se há mais uma rede de apoio à volta do paciente?

 RMB: A sensação que eu tenho é que isto depende muito depois da realidade para a realidade, pessoa para pessoa, também de vivência para vivência. Há situações, nomeadamente as bacterianas, nós tratamos tão rápido hoje em dia, o resultado do tratamento é tão rápido e imediato, o que é que ele acaba por não ter um impacto tão grande. Claro que podem ser ali umas horas, uns dias, enquanto esperam pela consulta com alguma angústia associada. Vai ser importante sempre falarmos com as pessoas com quem esta pessoa esteve, nós chamamos o rastreio de contato, isso é muito importante para quebrarmos o ciclo de transmissão, e este contacto, o facto de termos de falar com alguém, ou então serem os profissionais de saúde a fazerem isto, são mais as questões mais emocionais associadas à vivência.

Agora, vai depender muito, por exemplo, nos casos de HPV, isso ainda se sente muito, se indica aqui um grande impacto, há um grande desconhecimento sobre a questão do HPV, quando surgem as verrugas é uma coisa muito impactante, ou a lesão do colo do útero, também, porque nós sabemos que podem estar associadas todas estas lesões a situações de cancro, cancro da boca, cancro do pênis, cancro do útero, e em particular é uma das situações onde as pessoas manifestam alguma dificuldade em vivenciarem este processo. E depois, mais uma vez, vai depender muito, vai depender muito da forma como a pessoa vivenciar a sua sexualidade, vai depender muito do grau de aceitação que ela sente, o grau de aceitação que sente à sua volta, e por isso vai depender, ou seja, há pessoas que de facto têm sistemas de suporte idênticos para outras situações a quem recorre, nomeadamente pares, família, outras pessoas que possam sentir-se que estão um pouco mais sozinhas nesse sentido, e nós disponibilizamos imediatamente o apoio.

LC: Recentemente saiu um estudo sobre o aumento do número de casos de sífilis nos jovens entre os 15 e os 24 anos. Na sua visão, o que é que explica estes números?

RMB: Eu até me apetecia devolver a pergunta, depois daquilo o que eu falei. O que é que vos parece ser um fator? Então, parece óbvio, o que é que está aqui a acontecer? O que se está a notar hoje em dia do ponto de vista social é que o comportamento sexual está a mudar. Hoje em dia é cada vez mais frequente haver múltiplos contactos sexuais, múltiplos parceiros, múltiplos contactos sexuais, geralmente ocasionais, basta nós pensarmos, no tempo passado, os vossos bisavós, os namoros, eram lá em cima na janela, o outro era cá em baixo. Ai da mulher que casasse não-virgem. Ou seja, o comportamento sexual mudou muito, a experimentação social mudou muito, os jovens começaram a experimentar a atividade sexual e a vida sexual muito mais cedo, estas vivências muitas vezes em grupo da própria sexualidade, as orgias para perder a virgindade todos juntos, há aqui uma série de comportamentos que mudaram.

E depois, paralelamente a estes comportamentos sexuais, mudou também a questão do uso preservativo. Não há cartazes na rua sobre o preservativo, que  existia cá há uns anos atrás, e há aqui um desuso generalizado relativamente ao uso preservativo, que também está muito associado ao facto de que parece que se perdeu o medo das infeções sexualmente transmissíveis. Quase que as pessoas esqueceram que existem infeções sexualmente transmissíveis. É o conjunto destas duas coisas. Se eu tiver, de repente, múltiplos parceiros, se eu estou numa fase em que eu quero mais é ter o máximo de atividade sexual com o máximo de pessoas diferentes, onde eu não levo o preservativo, obviamente, potencialmente aumenta.

LC: Para terminarmos ainda há tempo de uma pergunta do público, estávamos a falar sobre o preservativo, que é muito importante. Doutora, o uso do preservativo protege contra todas as IST ou existem exceções?

RMB: Isso é uma boa pergunta. Uma parte das pessoas acha que sim, que o preservativo protege para todas, mas não é verdade. Voltava outra vez ao início. O preservativo vai proteger, em grande parte, das infeções sexualmente transmissíveis. E se nós pensarmos nas tais três principais infeções sexualmente transmissíveis, é a melhor forma de nós a proteger-nos. Nas três principais, no sentido das mais frequentes. Agora, se pensarmos nesta questão do HPV, o preservativo não é sempre suficiente.

É fácil de nós pensarmos, nós podemos ter, por exemplo, um pénis, temos um pénis coberto por preservativo, mas temos toda uma área adjacente, onde pode, por exemplo, estar um condiloma, se eu tenho uma coxa que encosta naquele condiloma, ele vai transmitir o condiloma. A mesma coisa vai acontecer, por exemplo, com o herpes genital. O preservativo não é 100% eficaz na prevenção das infeções sexualmente transmissíveis.

É verdade e é importante a gente deixar claro que a proteção é liberdade. Agora, aqui a proteção vai envolver o preservativo, mas vai envolver também uma vigilância cuidada da minha saúde, do meu corpo, quanto melhor eu conhecer o meu corpo, mais facilmente eu vou diagnosticar ou encontrar coisas que não estão bem. E a proteção do ponto de vista da autoproteção, ou seja, esta questão do autorrespeito, da autoconfiança, do respeito pelo outro, este será sempre a base, porque isto tem que ser um assunto sobre o qual é conversado e, depois, quanto mais eu trabalhar no meu autorrespeito e no respeito pelo outro, mas se eu sentir que alguma coisa não está bem no meu corpo, eu vou ter muito mais cuidado.

SM: Muito obrigada, doutora Rita, pela sua participação. Fica por aqui mais um episódio do Pela Tua Saúde, o podcast do JPN sobre saúde feito de jovens para jovens.

LC: E regressamos em breve com mais um tema ligado à sexualidade. Fiquem atentos e até à próxima.

Ficha técnica

Pela Tua Saúde!
#4 Infeções Sexualmente Transmissíveis

Entrevista
Liliana da Silva Costa
Sofia Martins

Convidada
Rita Maciel Barbosa

Operação da Câmara
Bárbara Sequeira
Inês Bulcão

Edição vídeo/som
Sofia Martins

Vox Pop
Liliana da Silva Costa
Sofia Martins

Identidade sonora
Joana Damas Martins

Identidade visual
Maria Miguel Marques

Ideia e coordenação
Paulo Frias

Edição geral
Filipa Silva
Beatriz Tavares

Consultoria médica
Daniela Duarte Silva
Joana Queiroz Machado