Jorge Sampaio dedicou esta semana à Educação. “Tragédia nacional” é como o PR classifica o abandono escolar em Portugal. Um estudo feito revela que 45% dos jovens entre os 18 e os 24 anos não completaram o ensino secundário.
Ao longo da semana, o PR viajou pelo país, visitou várias escolas e falou do estado da educação.

Para Augusto santos Silva, deputado do PS, esta iniciativa do PR é “oportuníssima” assim como a temática que é “a questão do abandono escolar e a defesa da escola pública de qualidade” que são “dois eixos da preocupação com o futuro sistema educativo português”, afirma.

Durante a semana, o Jorge Sampaio foi dizendo o que pensa sobre o estado da educação e foi deixando “avisos “ ao governo para a necessidade de terminar com “experimentalismos” nesta área. Segundo o deputado do PS, esta presidência aberta serve “para o PR estimular o país, chamar a atenção para a importância temática da educação no corpo das políticas públicas e também para desafiar os vários agentes que são professores, escolas, governantes, autarcas e empresários” a prestar mais atenção à educação.

Novas medidas foram tomadas pelo Ministério da Educação, entre elas conta-se o aumento da escolaridade obrigatória, a alteração do horário escolar, alteração de programas, novos exames nacionais. O deputado do PS diz não se rever “na política deste governo”, acrescentando que a sua maior preocupação é “o próprio funcionamento mínimo do ministério que está a ser posto em causa”, referindo-se ao concurso de professores, onde milhares de professores foram indevidamente excluídos das listas provisórias por alegada falta de habilitações, falta de tempo de serviço ou má interpretação da nota final de curso.

Tudo por um português melhor

«Que política(s) educativa(s) para o ensino da Língua Portuguesa?» foi o mote que juntou à mesa (redonda) Augusto Santos Silva e Isabel Pires de Lima, ambos deputados do PS e docentes na Universidade do Porto, o presidente da Associação de Professores de Português, Paulo Feytor Pinto e Vítor Aguiar e Silva, professor na Universidade do Minho. Todos os participantes prepararam o seu discurso, não só para os professores presentes no «9º Encontro de Professores de Português», mas sobretudo para o ministro da Educação, David Justino que não compareceu.

Mesmo sem o ministro, as críticas às suas políticas foram uma constante. Mas como o objectivo central desta «mesa redonda» era encontrar soluções para um português “muito mal tratado”, ideias e novas propostas foram debatidas.

“Criar pedagogias de leitura junto dos professores, através de Comunidade de Leitores, ao nível dos programas de português recorrer a diversidade de textos literários e não literários e a existência de capacidade reguladora do Ministério da Educação nos manuais junto dos editores”, são algumas das propostas apresentadas pela deputada Isabel Pires de Lima, para promover a língua portuguesa.

Quanto à promoção da língua de Camões no estrangeiro, Pires de Lima aponta a RTPI como uma das soluções, sendo necessário pensar noutro serviço público da RTPI porque este é “indigente”.
O “apoio à edição do livro português no estrangeiro”, é essencial nesta luta para divulgar a língua portuguesa, pois assim diminuir-se-ia o preço de capa do livro.

Recados ao governo foi o que não faltou. Augusto Santos Silva diz que o alargamento dos exames nacionais ao ensino básico, vem criar o perigo de “instalar a ideia que só se melhora a competência e conhecimentos através de exames e isto é um erro que se pagará caro”, avisa.

A nova lei de bases, vai permitir que as escolas sejam geridas por outras pessoas com formação, não obrigatoriamente em ensino. Augusto Santos Silva discorda de tal medida. “Se deixar a porta aberta para que as escolas possam passar a ser dirigidas por pessoas que não sejam professores, todo o resto estará perdido: o acompanhamento específico e psíquico dos alunos”, alerta o deputado.

Os manuais escolares foram outra questão levantada e discutida pelos presentes. Para Santos Silva os manuais deveriam ser sujeitos a uma análise e deveriam ter uma certificação voluntária do manual. Mas aqui levantam-se dois problemas, o primeiro é de ordem financeira e o segundo é, no entender do socialista, “a falta competência técnica e periciais no país para garantir um processo de certificação em tempo oportuno”.

Para Vítor Aguiar e Silva, Portugal é, em termos educacionais, “um país pobre e a pobreza tem consequências terríveis. Não houve uma política sustentada” ao nível da educação. E avisa que “em termos de política educativa da língua portuguesa é preciso apostar numa escola pública de qualidade.

Entre as muitas queixas dos professores de português presentes, a que mais se ouviu foi o reduzido horário destinado ao ensino da língua materna que, neste momento, em termos de horas semanais iguala as três horas destinadas ao ensino do francês.
Maria Fernandes, professora da Escola Secundária de Cascais diz-se indignada e “enxovalhada pelos sucessivos governos que têm passado. Sinto-me tratada como classe menor, pela forma como o português é marginalizado”. Os professores presentes na sala pediam no mínimo cinco horas semanais.

Programa e tempo que lhe está destinado não são compatíveis. Conceição Coelho professora da Escola Secundária de Sintra diz que “não há tempo para os alunos desenvolverem o funcionamento da língua. Os alunos não têm tempo para escrever nem para ler com este programa”, queixa-se a professora.

Discussão e reflexão sobre o “estado do português” ensinado, falado e lido em Portugal foi o que não faltou neste «9º Encontro de Professores de Português».

Vânia Cardoso