Para comemorar os 50 anos do 25 de Abril, o CITCEM produziu um documentário que reúne testemunhos de pessoas que viveram durante a ditadura e a revolução. O JPN esteve à conversa com Mário Barroca, professor e diretor da Casa dos Livros, que compartilhou detalhes sobre o conteúdo do documentário, as motivações e alguns dos depoimentos mais marcantes.

Mário Barroca é um dos três responsáveis pela realização do documentário “Liberdade Sem Medo”. Foto: Carlota Nery/JPN

No ano em que se comemora meio século do 25 de Abril, o Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória” (CITCEM) apresenta “Liberdade Sem Medo“, um documentário que resgata testemunhos daqueles que viveram sob a ditadura e testemunharam a revolução de Abril de 1974. Dirigido por Mário Barroca, Francisco Topa e João Marçal, o filme é um tributo à liberdade, com testemunhos sobre a cidade do Porto e a vivência na Universidade.

Em entrevista ao JPN, na sexta-feira (19), Mário Barroca, investigador do CITCEM e diretor da Casa dos Livros, disse que este é um projeto “muito importante”, pois torna-se “cada vez mais urgente resgatar este tipo de depoimentos” e impedir que “simplesmente desapareçam”.

Motivados pelas celebrações do 25 de Abril e “por constatar que havia poucas iniciativas ao nível da faculdade”, decidiram lançar este documentário, que se destaca pela união entre duas esferas distintas da sociedade: a da universidade e a da vida da cidade. “Por um lado, temos pessoas ligadas à Universidade do Porto, e por outro lado, pessoas ligadas à cidade do Porto”, afirmou. Desde professores a alunos ou até pessoas “ligadas a grandes instituições da cidade”, como é o caso da Cooperativa Árvore

O documentário conta com a participação, entre outros, de Júlio Gago, que falou sobre o contributo do Teatro Experimental do Porto (TEP) na altura, e José Emídio, que falou sobre a atuação da Cooperativa Árvore, “mais ligada aos meios artísticos”, nomeadamente “poesia, literatura e artes plásticas”. José Cruz Santos deu também o seu testemunho, enquanto editor da “Modo de Ler”, e Rui Vaz Pinto falou sobre a Unicepe, a cooperativa livreira de estudantes.

Mário Barroca disse que a Unicepe “teve um papel muito determinante antes do 25 de Abril” e destacou também o depoimento do arquiteto Alexandre Alves Costa, responsável pelo projeto de construção de casas acessíveis no pós-25 de Abril – o programa SAAL – e que “teve especial efeito no Porto”.

“Liberdade Sem Medo” não celebra apenas o “legado de liberdade e democracia” deixado pela revolução, mas também destaca a “alegria” palpável que caracterizou o dia da Revolução dos Cravos. O documentário de 56 minutos é “uma síntese” das 12 horas totais de entrevistas. Mário Barroca disse que as entrevistas vão ser publicadas na íntegra no arquivo do CITCEM.

Durante a entrevista, Mário Barroca enfatizou ainda a riqueza dos testemunhos presentes no documentário, referindo que cada um traz contribuições únicas e detalhes “preciosos” que não podem ser replicados por escrito, e que “provavelmente nunca virão a ser escritas“. Para o investigador, “o grande legado que o 25 de Abril nos traz é a liberdade e a democracia“.

O documentário, que foi apresentado na segunda-feira (22) na Casa dos Livros, está disponível no site do CITCEM e vai ser distribuído também em formato de postal, que contém um QR Code, através do qual as pessoas podem ter acesso ao filme completo e às 16 entrevistas. Com “Liberdade Sem Medo”, o CITCEM e a Casa dos Livros unem esforços para preservar e partilhar as memórias daqueles que lutaram por um país livre e democrático.

Editado por Inês Pinto Pereira