A Cooperativa Árvore, que promove atividades culturais e dá asas a novos artistas, comemorou, no ano passado, 60 anos de existência. O JPN esteve à conversa com o diretor executivo, Manuel de Sousa, sobre a história da cooperativa e acompanhou o trabalho de uma das oficinas da instituição.
A Cooperativa Árvore está na cidade do Porto desde 1963, ano em que foi criada por jovens pintores, escultores, arquitetos e outros artistas insatisfeitos com o “academismo” vigente em Portugal. Conhecida como sendo uma casa aberta a opiniões, a cooperativa tornou-se, durante os anos 60 e 70, um “oásis de democracia”, contou ao JPN Manuel de Sousa, o diretor executivo da instituição.
Os primeiros anos de vida da cooperativa ficaram marcados por acontecimentos ligados à história política do país. Com o fim da ditadura na década de 70, iniciou-se um período democrático um tanto tumultuoso para a instituição situada junto ao Jardim das Virtudes. Um deles ocorreu a 10 de junho de 1975 e ficou conhecido como o “Enterro do Museu Soares dos Reis”. Em entrevista ao JPN, Manuel de Sousa explica que está na “génese da Árvore uma certa rebeldia. Sempre como um ato de quem, normalmente, se expressa através da arte”.
Esta cerimónia fúnebre teve direito ao uso de um caixão e outros elementos que simbolizava o “enterro” do academismo e da arte tradicional, muito refletida no Museu Soares dos Reis. Resultante deste movimento viria a surgir o CAC (Centro de Arte Contemporânea), que anos mais tarde levaria ao aparecimento do Museu de Serralves, conhecido hoje como um museu de arte contemporânea.
Do ponto de vista financeiro, a Cooperativa passou também por algumas dificuldades. Situada num antigo palacete, primeiramente usado de forma clandestina pelos artistas, a Árvore viu-se obrigada a comprar a propriedade e a fazer um investimento muito grande no arranjo completo do edifício. O projeto do arquiteto Alcino Soutinho adaptou os espaços já existentes para as funções que viriam a ser desempenhadas pela cooperativa.
Para o diretor executivo, a Cooperativa é um espaço aberto à área artística que, à partida, “garante que os artistas tenham uma série de encomendas de trabalhos que, provavelmente, não teriam se a Árvore não existisse. Acaba por ser uma montra em que os artistas podem ter as suas obras postas. Se não fosse assim teriam, cada um dos artistas, de andar a bater de porta em porta”. Esta promoção artística é também feita através de exposições e oficinas (ver vídeo) e, num sentido mais didático, por workshops.
Para além disso, “é uma casa que junta a tradição de 60 anos de existência e, por isso, não corre tantos riscos”, o que por si só, pode ser um dos motivos para que os jovens artistas se juntem à Árvore. “Muitas organizações que são criadas, são criadas à volta de uma personalidade que depois se desinteressam. A Cooperativa Árvore já tem esse lastro histórico que garante, quanto mais não seja, por inércia, uma certa continuidade no tempo“, explicou.
No entanto, esta necessidade de atrair mais jovens é uma das preocupações expressadas por Manuel de Sousa. Atualmente, as pessoas que compõe a administração, e até mesmo aqueles que cooperam com a instituição, têm idades compreendidas entre os 50 e os 80 anos. Este facto não permite que haja uma renovação das gerações de artistas, nem que sejam introduzidas novas formas de pensamento e de expressão, que facilitem a que a cooperativa se destaque no meio artístico.
Com o objetivo de quebrar esta tendência de envelhecimento, a cooperativa tem promovido algumas iniciativas, tais como o Prémio Árvore das Virtudes, dirigido a pessoas que estão a terminar a sua formação nas artes e que poderão expor os seus trabalhos na instituição. “Tem que, permanentemente, ter essa preocupação de ir buscar pessoas que sejam de uma geração mais jovem. Isto tem a ver com a própria sobrevivência da organização. A arte tem de rejuvenescer nesse sentido”, afirmou.
No ano passado, a Cooperativa celebrou o seu sexagésimo aniversário com uma programação especial que se resumiu numa certa “recapitulação” da história da Árvore. Houve uma série de exposições, edições de livros e uma mostra do espólio da instituição. A par disso, houve também a preocupação de se começar a planear a programação deste ano, uma vez que, devido à recorrente procura por parte de variados artistas, o calendário e as prioridades vão sendo definidas com alguma antecedência.
Este ano, já com um novo plano de atividades, feito pelo Conselho Administrativo e previamente aprovado pelo Conselho de Artistas e pelo Conselho Consultivo, a Cooperativa conta com a colaboração da Universidade do Porto. Segundo o diretor executivo, o espólio da Árvore “não está tratado do ponto de vista arquivístico”. Assim sendo, fez-se um acordo entre a Faculdade de Letras e a Cooperativa, onde um ou dois alunos do curso de Ciências da Informação, tanto da licenciatura como do mestrado, vão poder estagiar na instituição de forma a “ajudar a fazer um recenseamento do espólio, a classificá-lo e, em última análise, a disponibilizá-lo ao público”. O objetivo seria que qualquer pessoa tivesse acesso aos arquivos e a toda a documentação da Cooperativa através de uma aplicação.
Somando a esta novidade, em 2024, a Cooperativa Árvore, tem também outros projetos que contam com a colaboração da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, com a CIM (Comunidade Intermunicipal do Alto Tâmega) e com outras instituições espalhadas pelo país.
Para conhecer melhor o trabalho realizado pela Cooperativa Árvore, o JPN foi visitar a oficina de cerâmica e esteve à conversa com o Mestre Pedro Gil e duas artistas que estavam a trabalhar no local.
Editado por Filipa Silva e Inês Pinto Pereira