A terminar o seu mandato como comissária europeia da Coesão e Reformas, Elisa Ferreira já teve a seu cargo o Ministério do Ambiente e do Planeamento. Durante a entrevista ao JPN, disse estar preocupada com os partidos populistas que "não propõem nada e alimentam-se das críticas".
Elisa Ferreira é comissária europeia da Coesão e Reformas. À margem de uma sessão sobre fundos de coesão, que se realizou na quinta-feira (18), na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, a comissária em fim de mandato afirmou, em entrevista ao JPN, que “fica muita coisa por fazer“. No entanto, mostrou estar orgulhosa com o trabalho que realizou nos últimos cinco anos.
A comissária defende que a coesão pode ser uma forma de combater o crescimento dos populismos nos meios esquecidos pela administração pública e refere que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) é um “programa de emergência” e não de continuidade.
JPN – É comissária da Coesão e das Reformas desde 2019 e vai terminar o mandato em breve. Que reformas é que mais se orgulha de ter feito e o que é que fica por fazer?
Mesmo com a crise da dívida soberana, não houve uma renovação das administrações públicas, as pessoas não foram treinadas, a organização dos sistemas não é a melhor, e, depois, exigimos às pessoas coisas que elas não podem dar. Não houve gente nova a entrar, muitas vezes.
JPN – E o que é que fica por fazer?
JPN – Alguma prioridade em específico?
JPN – Encontra neste aspeto algum paralelo com o nosso país?
JPN – Relativamente aos fundos de coesão, durante a sessão, disse que “se deve ensinar os países a pescar e não dar sempre os peixes”. Se houvesse uma escala de dependência, em que patamar é que estaria Portugal?
JPN – Esta questão dos fundos também está intrinsecamente ligada à possibilidade de alargamentos da União Europeia. Em que medida a adesão de um gigante como a Ucrânia prejudicaria Portugal?
JPN – Relativamente às eleições europeias, o crescimento de partidos populistas na Europa é um fenómeno já de alguns anos. Acredita que nas próximas eleições este fenómeno também vai fazer-se sentir na composição do Parlamento Europeu? O que é que isso significa para o projeto europeu como o conhecemos?
EF – Todos estamos preocupados com isso, até porque são partidos de contestação, não de construção de alternativas. Portanto, não propõem nada e alimentam-se das críticas. As críticas são também muito alimentadas por forças externas à própria União Europeia, que fomentam, através sobretudo das redes sociais, esse tipo de desentendimento, desencontro, crítica.
Espero que alguns países, que beneficiaram imenso da União Europeia, que valorizam imenso a democracia, tenham a lucidez de construir a Europa, reconstruir aquilo que não existe ainda ou coisas que não estão a correr tão bem. A Europa não é perfeita, a nossa família também não é perfeita, o nosso país não é perfeito, mas a Europa constrói-se e reconstrói-se em cada momento através da participação dos cidadãos de uma forma construtiva. E, portanto, a minha esperança é que o bom senso e o instinto de sobrevivência dos europeus e dos portugueses seja prevalecente num momento tão importante em que só através da Europa é que conseguimos controlar os impactos de uma pandemia, que era inimaginável, de uma guerra, que ainda se mantém nas nossas fronteiras, de uma guerra que, entretanto, surgiu na parte mais sul, mas também nas nossas fronteiras, uma manipulação do setor energético, que passou a ser uma arma de guerra por parte da Rússia.