A Biblioteca de Autores Portuenses, o mais recente núcleo do projeto Biblioteca Errante, foi inaugurada esta terça-feira (23). Depois da abertura, foi apresentado o livro “Contos, sonhos e imaginações”, antologia de contos de Agustina Bessa-Luís.

Biblioteca fica instalada na renovada Escola Alexandre Herculano. Natália Vásquez

A Biblioteca de Autores Portuenses foi inaugurada, esta terça-feira, na Escola Secundária Alexandre Herculano. O oitavo polo do projeto Biblioteca Errante, criado pelas Bibliotecas Municipais do Porto, contém mais de três mil obras de mais de 50 autores que nasceram, viveram e escreveram na Invicta, com destaque para o patrono da escola.

Além de exemplares de Alexandre Herculano, no espólio da nova biblioteca contam-se obras de autores como Almeida Garrett, Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Agustina Bessa-Luís, Manuel António Pina, Manuel Jorge Marmelo, entre outros. Os livros são de distintos géneros, desde contos, ensaios e críticas literárias a obras de arquitetura, desenho e história do Porto. A biblioteca ainda tem um conjunto de obras pensadas para o público escolar, feitas por autores como Álvaro Magalhães e Ilse Losa.

A sessão de abertura, que começou com uma apresentação musical por parte de alunos da escola, contou com a presença de Alexandra Cerveira Lima, diretora Municipal de Cultura e Património, e Silvia Faria, chefe da Divisão Municipal de Bibliotecas do Porto.

“No ano que comemoramos os 500 anos do nascimento de Camões e os 50 anos do 25 de Abril e no Dia Mundial do Livro, reunimos na escola Alexandre Herculano, etnográfica da cidade e monumento de interesse público, para abrir mais uma biblioteca errante”, começou o seu discurso Silvia Faria, chefe da Divisão Municipal de Bibliotecas do Porto.

A Biblioteca de Autores Portuenses visa “descentralizar a cultura e o acesso ao livro, abrir um monumento de interesse público, aproximar a Biblioteca Pública à comunidade escolar, aumentar o consumo de bens culturais em espaço de escola e apoiar o trabalho de investigação de professores e alunos”, afirmou a chefe da Divisão Municipal de Bibliotecas do Porto. “Uma biblioteca que vive de forma harmoniosa com a escola e o seu enquadramento arquitectónico natural e com estreita ligação ao espaço e à vizinhança desta zona da cidade”, acrescentou. 

Os livros da nova biblioteca podem ser consultados no local ou solicitados para empréstimo domiciliário através do cartão Porto ou do cartão de utilizador das Bibliotecas do Porto. A Biblioteca de Autores Portuenses, de acesso gratuito, está aberta de segunda a sexta-feira, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00.

“Com esta pequena amostra dos autores do Porto, será possível aos visitantes uma valorização da nossa identidade e do fundo local, dando provas da importância do Porto e dos seus autores na literatura portuguesa e internacional”, declarou Silvia Faria.  Após o discurso da chefe da Divisão Municipal de Bibliotecas do Porto, o técnico superior na Biblioteca Pública Municipal do Porto, Júlio Costa, fez uma breve apresentação sobre o patrono da escola, Alexandre Herculano. 

A abertura culminou com o discurso de Alexandra Cerveira Lima. A diretora Municipal de Cultura e Património referiu-se ao projeto de Biblioteca Errante como uma das medidas de mitigação implementadas na decorrência do encerramento temporário da Biblioteca Pública Municipal do Porto, por obras de reestruturação, a 1 de abril.

“O que estava em causa era o encerramento de uma grande biblioteca, o que quer dizer para todos os que nela trabalham de dificuldade de encerrar o seu local de trabalho, que guarda um património inestimável e também quer dizer que os leitores e os investigadores deixaram de ter acesso imediato a aquilo que necessitavam. Era preciso encontrar uma estratégia de mitigação”, explicou Alexandra Cerveira Lima. “Esta biblioteca onde nós hoje nos encontramos é o ponto mais oriental deste conjunto de bibliotecas, que tem no Reservatório do Museu do Porto, na Pasteleira, o seu ponto mais ocidental”, acrescentou.

Atualmente encontram-se em funcionamento sete núcleos da Biblioteca Errante: a Biblioteca de Arqueologia, no Reservatório do Museu do Porto, a Biblioteca Marta Ortigão Sampaio, o Bibliocarro, a Biblioteca Popular de Pedro Ivo, a Biblioteca de Cinema do Cineclube do Porto, a Biblioteca de Assuntos Portuenses e a Biblioteca Digital Eugénio de Andrade.

A próxima Biblioteca Errante será a Casa da Poesia Eugénio de Andrade, seguida pela Biblioteca de Periódicos do Porto. Até o final do ano, também deverá ser aberta uma biblioteca no Museu Guerra Junqueiro

“Contos, sonhos e imaginações”: antologia dos contos de Agustina Bessa-Luís 

Os contos foram reunidos por Lourença Baldaque, neta de Agustina Bessa-Luís. Natalia Vásquez

A sessão de abertura foi sucedida da apresentação do livro “Contos, sonhos e imaginações”, de Agustina Bessa-Luís. Na antologia, são reunidos pela primeira vez todos os contos da autora nascida em Amarante, com algumas publicações inéditas

Mónica Baldaque começou a apresentação com um agradecimento à filha, Lourença Baldaque. “Foi ela que compilou todos estes contos de Agustina. Não foi tarefa muito fácil, uns já estavam publicados, mas a grande maioria estava disperso em jornais, revistas, nas publicações mais inesperadas”, disse. 

Mónica Baldaque afirmou que, após o centenário do nascimento de Agustina Bessa-Luís celebrado a 15 de outubro de 2023,  “o tempo continua a contar, porque a sua obra tem todo o tempo do mundo à sua frente e novas formas de a ler, interpretar e conhecer acontecem todos os dias”. “Se Agustina é uma autora do Porto, é porque aqui viveu e aqui escreveu. E tanto escreveu sobre a sua gente, a sua história”, acrescentou. 

Durante a apresentação, Mónica Baldaque fez uma viagem pelos contos escritos ao longo da vida por Agustina Bessa-Luís, assim como do mundo à volta que os moldaram. Começou por falar sobre sobre a influência das viagens de Bessa-Luís na obra da escritora e do amor que teve pela escrita desde nova.

“Desde criança, Agustina sempre foi dotada para se envolver com o sonho e através da escrita fixá-lo e dar-lhe um significado”, declarou Mónica Baldaque. Numa tela, foram apresentados os primeiros contos escritos por Bessa-Luís, plasmados em cartolina e com figurinhas recortadas pela própria para acompanhá-los. 

A filha da escritora continuou com histórias sobre os começos da autora. Falou sobre a influência da criada dos pais, Lourenza Fuentes, e do hortelão da casa de Águas Santas da família, Miguel Cunha, na crescente paixão por contar histórias que nasceu em Bessa-Luís desde criança.

A seguir, Mónica Baldaque fala sobre os primeiros contos publicados por Agustina Bessa-Luís, após o seu casamento com Alberto Luís Baldaque. 

“Estes contos, sendo os primeiros que ela escreve para publicar, são excepcionais como observação. A exceção dos primeiros contos de infância, em todos os outros há uma uniformização na forma de contar, que é rara, não há uma evolução. Agustina é sempre a mesma [a escrever] e o conto está sempre presente”, afirmou a filha.

“Eu considero a Agustina uma grande contista, mal ouvida e pouco interpretada. Mas ela, por ser uma escritora intemporal, tem todo o tempo atrás de si e à sua frente, com todas as gerações que vão vindo a ler e a ouvir”, concluiu. 

Editado por Filipa Silva