A entrega do corpo à família foi novamente adiada, depois de as autoridades russas terem decidido prolongar a investigação para apurar as causas da morte do ativista. A viúva de Navalny disse que vai dar continuidade ao legado do marido.

As autoridades russas disseram esta segunda-feira (19) ser necessário prolongar a investigação para apurar as causas da morte do maior opositor do Presidente russo, adiando novamente a entrega do corpo aos familiares. A família e os advogados de Alexey Navalny continuam impedidos de entrar na morgue e de ter acesso ao corpo.

Num vídeo publicado esta segunda-feira na rede social X (antigo Twitter), a viúva de Navalny acusou o Kremlin de ter matado Navalny e de estar a esconder o seu corpo. Yulia Navalnaya assumiu ainda que vai dar continuidade ao legado do marido e apelou para que a luta contra o regime do Kremlin não desvaneça. “A principal coisa que podemos fazer por Alexei e por nós é continuar a lutar, mais ferozmente do que nunca, com toda a raiva, ira e ódio contra aqueles que se atreveram a matar o nosso futuro”, disse Yulia Navalnaya, afirmando querer viver e “construir uma Rússia livre“.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que a investigação sobre a morte de Alexey Navalny “está em andamento e a ser conduzida de acordo com a lei russa“.

Yulia Navalnaya foi recebida, esta segunda-feira, em Bruxelas pelos ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia (UE), que demonstraram apoio à oposição russa. O alto representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia afirma que o Conselho da UE vai continuar “a apoiar o povo russo que quer viver em liberdade” da mesma maneira que vai continuar “a apoiar o povo da Ucrânia”.

Durante a reunião, os Estados-membros concordaram com a renomeação do regime de sanções do bloco europeu em defesa dos direitos humanos em homenagem a Alexey Navalny. Segundo Jose Borrell, vai chamar-se “Regime de Sanções sobre os Direitos Humanos Navalny” para que “o seu nome esteja para sempre escrito no trabalho da União Europeia a defender os direitos humanos“.

O ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, disse estar certo de que o desaparecimento de Navalny “é mais uma demonstração da natureza do regime [russo]“. Gomes Cravinho comparou ainda: “Não temos dúvidas nenhumas de que Navalny morre porque o regime que Putin criou levou à sua morte, da mesma maneira que Humberto Delgado morre por causa do regime liderado por Salazar em Portugal”.

A morte de Alexey Navalny na passada sexta-feira (16), gerou, por todo mundo, uma onda de homenagens ao ativista e às vítimas da repressão política. Na Rússia, já foram detidas mais de 400 pessoas em, pelo menos, 39 cidades, segundo o OVD-Info, um grupo independente de defesa dos direitos humanos. Alguns dos detidos foram mesmo obrigados a cumprir pequenas penas de prisão.

Assim como outros representantes europeus, a embaixadora de Portugal em Moscovo, Madalena Fischer, depositou cravos vermelhos, em honra de Navalny, na pedra de Solovetsk, um memorial dedicado às vítimas da repressão política durante a URSS.


Alexey Navalny, de 47 anos, era um dos maiores críticos do Presidente russoEstava detido desde 2021, a cumprir uma pena de mais de 19 anos por crimes relacionados com a sua oposição ao Kremlin. Mesmo depois de uma tentativa de envenenamento, em 2020, o ativista continua a luta contra o regime. A morte de Navalny aconteceu um mês antes das eleições presidenciais na Rússia.

Editado por Inês Pinto Pereira