Um dos setores mais envelhecidos do país, a agricultura, passa por momentos de incerteza. Este clima tem motivado uma série de protestos que levaram ao bloqueio de estradas por todo o território. A Confederação Nacional de Jovens Agricultores mostra-se satisfeita com as medidas apresentadas pelo Governo, com a ressalva de que podem ser insuficientes.
A Confederação Nacional de Jovens Agricultores (CNJ) mostra-se satisfeita com o recente anúncio do governo de um pacote de apoios de 450 milhões de euros para os agricultores portugueses, no seguimento de várias manifestações que ocuparam várias estradas por todo o país. A CNJ considera que a ajuda “resolve os problemas” mas teme, no entanto, o subdimensionamento dos apoios, algo que diz ser uma prática comum por parte do executivo.
Para Luís Saldanha, representante da CNJ, o governo tem vindo a adotar uma “posição conservadora” relativamente ao número de candidaturas aos apoios que têm vindo a ser anunciados. “As candidaturas foram 40% acima do que se estava à espera e o dinheiro que estava disponível não foi suficiente para pagar e cobrir todas as expectativas que as pessoas tinham em relação ao rendimento que era expectável”, argumenta.
Indo de encontro às reinvindicações dos agricultores, o governo anunciou medidas de apoio no valor de 450 milhões de euros, sendo o grosso deste montante destinado à compensação da quebra de produção esperada nos próximos dois anos, mas também foi criada uma nova linha de crédito de apoio à tesouraria dos empresários da agricultura.
Envelhecimento do setor é uma das maiores ameaças ao seu futuro
Segundo dados da Comissão Europeia, apenas 11% das explorações agrícolas no continente europeu são geridas por pessoas com menos de 40 anos. Os dados da Pordata revelam que, em Portugal, os agricultores dos 15 aos 44 anos representam apenas 10% do total. Esta falta de jovens na agricultura pode colocar em causa a viabilidade futura do setor.
O representante da Confederação Nacional de Jovens Agricultores de Portugal (CNJ) considera que a falta de atratividade do setor resulta dos baixos rendimentos associados, mais do que da natureza da profissão: “há outros tipos de atividades que não são menos penosas em termos de trabalho, mas que têm alta procura. Portanto, tem a ver com os rendimentos que se conseguem obter”, refere ao JPN.
A distância relativamente aos grandes centros urbanos também tem um papel importante para quem quer apostar no agronegócio: “Quem estiver na zona Oeste vai ter muito mais facilidade do que quem está na Covilhã. A questão do acesso aos mercados é fundamental”, diz. Neste sentido, Luís Saldanha lembra que é necessário assegurar as condições de vida nas zonas onde as pessoas possam querer se instalar, garantindo que “há serviços públicos, que há escolas, que há médicos”.
Empresários insatisfeitos com as políticas europeias
O empresário recorda ainda a pandemia para defender que tal como aconteceu com as máscaras, “não podemos ficar dependentes de terceiros em certos setores estratégicos”, nos quais inclui a agricultura. Considera, no entanto, que não tem sido esta a posição revelada pelas políticas da União Europeia (UE), mais “de caráter momentâneo” e sem assumir “a importância estratégica” do setor.
Os acordos de comércio livre são particularmente visados pelos agricultores europeus, que falam na entrada de produtos estrangeiros a preços com os quais os não conseguem competir. São exemplos os cereais vindos da Ucrânia, ou o acordo (que ainda aguarda ratificação) com o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai).
Neste sentido, a Comissão Europeia propôs recentemente a adoção de medidas que permitam limitar a importação de produtos sensíveis como aves de capoeira, ovos e açúcar, impondo de forma emergencial um limite correspondente ao volume de importações de 2022 e 2023. Caso esta imposição não seja respeitada, o importador seria sujeito ao pagamento de taxas aduaneiras.
Editado por Filipa Silva