Vinte anos depois de queixas feitas por parte de moradores e comerciantes sobre o piso da zona pedonal, a autarquia confirmou que vai proceder a uma alteração mais profunda da rua.

Comerciantes e moradores queixam-se do estado do piso na Rua Brito Capelo. Foto: Marta Magalhães/JPN

A Câmara Municipal de Matosinhos vai mudar o pavimento da Rua Brito Capelo depois de 20 anos de queixas dos moradores e comerciantes. Em causa, está o mau estado e irregularidades do piso da zona pedonal que é motivo para muitas quedas e idas ao hospital.

Ao JPN, a generalidade dos comerciantes desta rua, próxima do mar e considerada um dos centros comerciais da cidade, mostrou-se satisfeita com a notícia, embora afirme que já vem tarde. Também houve alguns comerciantes e clientes que desconheciam a intenção da autarquia, avançada pelo “Jornal de Noticias”.

Um dos motivos apontados para o mau estado da zona pedonal é o facto de os camiões de mercadorias estacionarem naquela zona para fazer cargas e descargas. Como muitas vezes encontram as áreas de estacionamento ocupadas, usam os passeios para parar.

“A rua realmente está muito irregular. Principalmente, essas pedras, fruto do uso, neste caso, dos camiões, que andam a circular e muitas vezes [estacionam] em cima dos próprios passeios, por isso, é que elas ficam irregulares e partem”, afirmou ao JPN o talhante Fernando Silva.

Elísio Ribeiro, proprietário do café Carioca, está descontente com o tempo que a câmara levou para fazer uma intervenção mais profunda na rua. O comerciante queria que a rua voltasse “a ser o que era nos anos 80” e confirma que “há muitas queixas das pessoas” sobre o estado do piso: “dizem que está em péssimo estado e realmente é verdade.”

O lojista Jorge Carvalho também concorda: “É horrível e superperigoso”, comenta sobre as lajes levantadas ao longo da rua. Diz que as intervenções que a autarquia realizou de nada fizeram para melhorar o estado do pavimento. “A autarquia já fez obras e mais obras, mas também gastou aqui muitos milhões que vieram a fundo perdido e para nada.”

Ainda relativamente às lajes levantadas, os comerciantes mostram-se preocupados com a segurança dos clientes, pois o registo de quedas é “quase diário”. “Não deve haver um dia em que não caia alguém aqui na rua”, afirmou Diana, dona de uma pequena mercearia na Rua Brito Capelo.

Para garantir a segurança dos clientes, os comerciantes garantem que tratam mesmo de acompanha-los no seu percurso pela rua: “Não são raras as vezes, ao longo do dia em que nós temos de acompanhar clientes, seja a atravessar a linha de metro, seja a ir daqui ao talho, e depois vai a colega do talho para outra loja”, refere ao JPN a comerciante.

“Sou eu que faço isso há muitos anos, já há 14 anos”, diz a lojista Maria Antónia Pereira que, farta desta situação, vai pintando as lajes levantadas perto da sua loja, de forma a alertar os pedestres.

 

A autarquia diz que aquela zona está em mau estado por “tratar-se de uma via com muita pressão”. Por esse motivo, tem efetuado ao longo dos anos diversas intervenções de requalificação: “Desde 2021, registamos 109 intervenções de conservação, estando sete pedidos a aguardar intervenção”, indica em dados cedidos ao “JN”.

Ainda ao “Jornal de Notícias”, a Câmara avançou que em março será aberto o concurso para a obra que irá custar cerca de 200 mil euros.

Câmara que acabar com carros na zona pedonal

A autarquia avançou ao JN que pretende acabar com a circulação de veículos na zona pedonal, de maneira a só permitir a circulação de peões e transportes suaves, como bicicletas e trotinetes, além de querer combater o estacionamento abusivo. Para tal, está prevista a criação de lugares para cargas e descargas nos cruzamentos do troço da Rua Brito Capelo entre a Avenida da República e o Mercado de Matosinhos. Estão ainda nos planos outras intervenções ao nível dos atravessamentos nos cruzamentos, que vão ser prolongados, e na substituição das lajes de granito por paralelo em algumas zonas. 

Já na zona sul da rua, será substituída a pedra usada nos lugares de estacionamento, trocando o calcário “por um material mais simples e de mais rápida intervenção”. A sinalização vai ser reforçada para indicar o atravessamento de peões no cruzamento da Rua Brito Capelo com a Rua de Sousa Aroso.

A intervenção deverá demorar entre seis e oito meses, sendo que a colocação do pavimento deve demorar cerca de um mês e levará ao desvio do trânsito. O chefe de Divisão de Obras da autarquia espera que a intervenção esteja finalizada até ao final do ano: “Vamos tentar que esteja tudo pronto ainda este ano”.

Outras queixas

Os comerciantes, para além de se queixarem das más condições do pavimento, reclamam que existe uma falta de incentivo e dinamização por parte da câmara para atração de visitantes à Rua Brito Capelo.

“Ainda agora passou o Natal e não houve ninguém na Câmara que se lembrasse de pôr aqui, ao pé dos Correios, uma coisa simples como um marco do correio, para onde os filhos poderiam arrastar os pais para vir mandar uma cartinha ao Pai Natal. Isso não aconteceu. Passa-se o ano, do dia 1 de janeiro até 31 de dezembro, e não se vê aqui ninguém”, lamenta Elísio Ribeiro.

É preciso “criar condições”, na opinião de Jorge Carvalho, para quem quer investir na rua Brito Capelo: “se a pessoa vai fazer alguma prospeção de mercado e vê isto assim”, não investe, alerta.

Os comerciantes também se queixam da iluminação da via pública, sendo que há cinco anos, num projeto-piloto, foram instaladas novas luminárias inteligentes em metade da rua. Quando existe algum problema, a autarquia remete para a Metro do Porto. “A Metro é que manda praticamente nisto, nós não temos hipótese nenhuma”, reclama Jorge Carvalho. “Tenho um exemplo disso: já tive uma lâmpada aqui fundida, mandámos o email para a câmara. Resposta zero. Depois de tanta persistência, mandaram o mail a dizer que já comunicaram à Metro e que a Metro é que tem que decidir quando é que pode ir, mas nós pagamos impostos à câmara, não é à Metro, o que está mal, são entidades a mais”, concluiu o lojista.

Editado por Filipa Silva