Literatura em Viagem começou na segunda-feira e vai até domingo (14). O programa conta com nomes como Afonso Cruz, Miguel Esteves Cardoso e o Nobel da Literatura, Orhan Pamuk. O vereador da Cultura de Matosinhos, Fernando Rocha, lembra que a promoção da leitura é o grande objetivo do festival.

O festival de literatura “LeV” começou segunda feira (8) e vai até domingo (14). Câmara Municipal de Matosinhos, Facebook

A 18.ª edição do LeV – Literatura em Viagem, em Matosinhos, arrancou na segunda-feira (8) e decorre até domingo (14). Com mesas redondas, exposições, lançamentos de livros, entrevistas e encontros com autores, o LeV conta com a presença de artistas e escritores de renome, como Vhills, Afonso Cruz, Clara Não, Valter Hugo Mãe, Isabel Rio Novo e Miguel Esteves Cardoso, e o Nobel da Literatura de 2006, Orhan Pamuk.

Inspirado pela célebre frase de Eduardo Lourenço, “Mais importante que o destino é a viagem”, o LeV reflete sobre meio século de liberdade e explora os limites da escrita. Já a ideia de viagem presente no nome do festival reflete tanto a deslocação física como a viagem espiritual que se faz sem sair do sítio à boleia da leitura.

Ao JPN, o vereador da cultura de Matosinhos, Fernando Rocha, falou, por isso, sobre a viagem coletiva de um povo – os 50 anos de viagem de democracia que também inspiram o LeV. A referência aos 50 anos do 25 de Abril ajudam a explicar a presença de escritores que emergiram dessa democracia e daqueles que viveram o período que antecedeu essa conquista, como Carlos Matos Gomes, “um dos grandes capitães de Abril das artes”, acrescentou.

O LeV nasceu há quase 20 anos, no mesmo ano em que se inaugurou a Biblioteca Florbela Espanca e o Festival da Poesia que se realiza em dezembro. O vereadorlembra que o objetivo é fundamentalmente “promover a leitura” e pôr “o público que consome livros a contactar com aqueles que os escrevem”. “É muito gratificante para quem lê um livro poder falar, contactar, ver e estar com o escritor”, disse.

De acordo com o vereador da Cultura de Matosinhos, os números ou o reconhecimento do festival não são a prioridade. “Fazemos um festival para promover o livro, a leitura, os autores, os escritores. Queremos criar uma comunidade de pessoas que gostam de livros”, acrescentou Fernando Rocha. O vereador confessou que, inicialmente, a autarquia receava a reação do público, mas passados 18 anos já conseguiram “fidelizar públicos “ e “ganhar prestígio”. 

O festival realiza-se em quatro espaços distintos: Biblioteca Municipal Florbela Espanca, Galeria Municipal de Matosinhos, Salão Nobre dos Paços do Concelho e Teatro Municipal Constantino Nery. 

Um programa diverso onde se expressa a criatividade por inteiro 

Nos dias de festival que se seguem, a exposição de obras de Vhills e Bordalo II, juntamente com outra exposição que examina o olhar da imprensa sobre o 25 de Abril integram o programa.

O escritor Eduardo Simão vai lançar o seu novo livro “À Descoberta da Europa em 1973” e é publicada a obra “O Poeta Faz-se”, uma coletânea que é resultado dos escritos feitos durante a oficina de escrita e expressão artística, incluídos no projeto +Literacia. No Salão Nobre dos Paços do Concelho, Valter Hugo Mãe vai ser entrevistado e Afonso Cruz vai apresentar um espetáculo baseado na sua experiência no Chile.

Outros destaques incluem o lançamento do “Guia Literário de Matosinhos” que pretende dar a conhecer o património literário do território, atravessando histórias, séculos de escritores, locais e enredos.

As mesas vão debruçar-se sobre os limites da imaginação, processos criativos e, sobretudo, sobre o conceito de liberdade. “A manhã clara e limpa” de Sophia de Mello Breyner é a premissa que dá mote para a mesa de sábado (13) que conta com a presença de Carlos Matos Gomes, Júlio Magalhães e Rui Tavares, com moderação de Hélder Gomes. Focada no 25 de Abril de 1974, resgata-se o dia em que Portugal “emergiu da noite e do silêncio”, como escreveu Sophia de Mello Breyner.

Para o vereador, até as atividades e obras que não estão diretamente ligadas ao 25 de Abril, refletem as suas consequências e importância. Exemplifica com as obras dos escultores Vhills e Bordalo II, “que são escultores. Que poderiam nunca fazer o que fazem hoje. Livremente. E portanto também são filhos da revolução. Porque a revolução permitiu que eles pudessem expressar toda a sua criatividade por inteiro.”

Entre as propostas que encerram o festival de literatura de Matosinhos, conta-se um último debate sobre leitura sensível e a liberdade de ofender, um peça de teatro-dança que conta a história do bacalhau e duas entrevistas de vida por Maria João Costa. A primeira conta com Miguel Esteves Cardoso seguida da entrevista ao prémio nóbel da literatura, Orhan Pamuk.   

O escritor turco venceu o Prémio Nobel de Literatura em 2006 e foi considerado um dos 100 maiores intelectuais do mundo em 2005. “Neve”, “Istambul”, “O Meu nome é Vermelho” e “A Vida Nova” são algumas das obras mais conhecidas do escritor, que vai ser entrevistado no domingo (14), na Galeria Municipal de Matosinhos.

Os números de leitura são preocupantes” e, por isso, é que projetos como o LeV são “fundamentais” para que a literatura continue a mover as pessoas e as pessoas se movam por ela, diz ainda o vereador da Cultura de Matosinhos. Organizado pela autarquia, o LeV é de entrada livre e gratuita

Editado por Filipa Silva