O Presidente russo avança para um quinto mandato presidencial, depois de ter vencido as eleições com quase 88% dos votos. Vladimir Putin avisou que “não se vai deixar intimidar pelos adversários”.
Vladimir Putin foi este domingo (17) reeleito Presidente da Rússia por mais seis anos. O chefe de Estado russo avança assim para um quinto mandato presidencial e, se o cumprir até ao fim, pode completar 30 anos consecutivos no poder.
No discurso de vitória, o Presidente russo agradeceu a confiança dos cidadãos e avisou que “não se vai deixar intimidar pelos adversários“. Com quase 88% dos votos, Putin disse que os bons resultados significam que “estão a fazer tudo bem”, fazendo alusão, de forma positiva, à invasão das regiões do Donbass e da Crimeia.
“Não importa quem nos quer intimidar ou quanto, não importa quem nos quer esmagar ou quanto, nunca ninguém conseguiu fazer nada assim na história. Não funcionou hoje e não vai funcionar no futuro“, acrescentou.
Os outros três candidatos, considerados pró-Kremlin – Leonid Slutsky, do Partido Liberal Democrático, Nikolay Kharitonov, do Partido Comunista, e Vladislav Davankov, do Partido do Novo Povo – reconheceram imediatamente a vitória de Putin.
A agência de notícias russa RIA refere que o Presidente russo foi reeleito com o melhor resultado de sempre. Lê-se ainda que, de acordo com os dados preliminares, “a participação global foi um recorde”, tendo ultrapassado os 77% de adesão. Os residentes das novas regiões, nomeadamente Donetsk, Lugansk, Zaporijia e Kherson, participaram pela primeira vez neste ato eleitoral.
As eleições presidenciais russas que decorreram entre sexta-feira (15) e o último domingo (17) ficaram marcadas por fortes bombardeamentos ucranianos e incursões de combatentes armados que se dizem russos pró-Ucrânia nas regiões fronteiriças da Rússia, bem como por protestos nas assembleias de voto onde, segundo a agência de notícias EFE, várias pessoas foram detidas.
Num vídeo publicado na rede social X (antigo Twitter), o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, garante que o Presidente russo está a “simular eleições”, “agarrado ao poder e a fazer de tudo para conseguir governar para sempre”. Zelensky acrescentou ainda que “ninguém no mundo está a salvo” e que os crimes cometidos na Ucrânia devem ser julgados no Tribunal Penal Internacional, em Haia.
These days, the Russian dictator imitates another “elections.” Everyone in the world understands that this person, like many others throughout history, has become sick with power and will stop at nothing to rule forever.
There is no evil he would not do to maintain his personal… pic.twitter.com/zu1see37kl
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) March 17, 2024
Milhares de manifestantes juntaram-se em várias cidades europeias em protesto contra uma eleição considerada manipulada. Segundo a agência Lusa, a iniciativa de protesto “Meio-dia contra Putin” foi lançada inicialmente pelo opositor russo Alexei Navalny, que morreu um mês antes das eleições, numa prisão a norte do Círculo Polar Ártico.
Durante o seu discurso, Putin fez referência à morte do seu maior opositor, dizendo que “infelizmente o que aconteceu, aconteceu”. Esta foi a primeira vez que mencionou o nome de Alexei Navalny desde a sua morte. Vladimir Putin confirmou ainda ter concordado com a ideia de trocar o seu opositor por “certas pessoas que estão nas prisões dos países ocidentais” na condição de o trocar e ele não voltar. “Mas a vida é assim mesmo”, acrescentou.
A onda de protestos passou também pelos boletins de voto onde vários manifestantes, incluindo a viúva de Alexei Navalny e o antigo oligarca russo Mikhail Khodorkovsky, riscaram o nome dos candidatos oficiais e escreveram o nome do maior opositor de Putin.
“HAGUE”
How Russians are using spoiled ballots to fight back against Putin’s facade of democracy pic.twitter.com/ATwZQjAEHV
— Mikhail Khodorkovsky (@khodorkovsky_en) March 16, 2024
Num comunicado oficial, o alto representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia, Josep Borrell, condenou a “realização ilegal das eleições nos territórios ucranianos ocupados” que, na sua visão, “representam mais uma violação manifesta por parte da Rússia do Direito Internacional e da independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia”.
Josep Borrell considera que as eleições se realizaram “num espaço político cada vez mais reduzido“, onde os “eleitores foram privados de uma escolha real“. “A União Europeia continuará a apoiar o importante trabalho das organizações da sociedade civil russas, dos defensores dos direitos humanos e dos meios de comunicação social independentes”, pode ainda ler-se no comunicado.
Editado por Inês Pinto Pereira