Música, dança, ópera, teatro e circo, que vão revisitar os 50 anos do 25 de Abril, são as grandes apostas do Coliseu Porto Ageas para 2024. Ao todo, somam-se 160 espetáculos.

Espetáculos decorrem ao longo de março, abril e maio. Foto: João Múrias

O Coliseu Porto Ageas anunciou esta quarta-feira (28) as escolhas para 2024, para além de serem adequadas para todas as idades, vão celebrar os 50 anos do 25 de Abril e os 500 anos do nascimento de Camões.

A restauração da liberdade é o tema central que vai tomar conta do palco e que vai trazer, ao longo de março, abril e maio, um conjunto de debates sobre os costumes, a música e a política dos anos 70.

Em entrevista ao JPN, Miguel Guedes, diretor do Coliseu, destacou os quarenta anos do último concerto dado por Zeca Afonso, que foi precisamente no palco do Coliseu, a 29 de junho: “O Zé entregou aqui o seu último ato de palco e vamos revisitar essa noite evocando o que aconteceu”.

“Teremos pessoas que cá estiveram e que estarão presentes nessa noite. E vamos convidar também um conjunto de artistas contemporâneos e mais jovens para olhar o legado do Zeca Afonso”, explicou.

Sérgio Godinho

Sérgio Godinho vai cantar a “Liberdade” nos dias 23 e 24 de março e integra o ciclo de participações “Aprende a Ouvir, Companheiro” D.R.

Sérgio Godinho, acompanhado pelos Assessores, é uma das apostas para cantar a liberdade. Nos dias 23 e 24 de março, vai ecoar na sala de espetáculos o concerto “Liberdade25”, no qual o cantautor vai fazer uma nova visita ao repertório “mais politicamente engajado”. A canção “Liberdade”, composta para o álbum “À Queima Roupa”, lançado a 1 de janeiro de 1974, vai ser a mais destacada.

O ciclo de participações “Aprende a Ouvir, Companheiro” faz parte de “A Revolução Antes da Revolução – O ano que mudou a música popular portuguesa”, novo livro em que Luís de Freitas Branco faz um levantamento acerca do papel da música no derrube da ditadura. É através deste livro que “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades”, de José Mário Branco, sobe ao palco, a fim de recordar “o fervilhar cultural” que antecedeu a revolução, entre 1971 e 1973. 

A 28 de março, vai ser apresentado, em parceria com a editora Zigurate, de Carlos Vaz Marques, um encontro de escuta das canções da revolução e um debate sobre a situação política e cultural que antecedeu o 25 de abril.

Os “Mantras do Coliseu”, que começaram em 2023 e que “enriquecem a agenda de grandes espetáculos com momentos de reflexão e discussão dos mais variados temas”, vão colocar em cima da mesa, durante três meses, os valores de Abril, as migrações e os 500 anos do nascimento de Camões.

Os “Mantras” vão discutir as migrações entre 13 e 18 de maio, através de um ciclo de filmes dedicados ao tema, em parceria com Porto/Post/Doc, conversas e um debate alargado. Os filmes selecionados pretendem potenciar um diálogo com o público. Entre os filmes, que são premiados, está “As Melusinas à Margem do Rio”, de Melanie Pereira.

Também inserido no “Mantras”, terá lugar, a 23 de abril, um debate sobre a liberdade e os limites do humor, algo que pode ser especialmente útil de repensar nos 50 anos de Liberdade. O painel vai ser composto por alguns dos principais humoristas nacionais.

A programação “Mantras do Coliseu” do primeiro semestre encerra a 10 junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, para assinalar os 500 anos do nascimento de um dos maiores poetas da literatura portuguesa: Luís de Camões. As comemorações vão realizar-se em parceria com o escritor Gonçalo M. Tavares. Pela cidade do Porto, vão estar espalhadas gravações dos dez cantos d’”Os Lusíadas”, acessíveis através de códigos QR. Além disso, vai estar em debate a importância de Luís de Camões e da sua obra, da língua portuguesa e das novas linguagens.

Os concertos Promenade continuam, desde 2021, a ser uma aposta do Coliseu, com direção artística do Mestre Cesário Costa. Três dias após o 25 de Abril, é esperado um concerto dedicado às três canções da liberdade

concerto Promenade, Coliseu

Os concertos Promenade continuam a ser uma aposta do Coliseu D.R.

Ao JPN, Miguel Guedes, diretor do edifício, salienta que “estamos sempre à procura de fazer com que os concertos Promenade tenham ainda mais visibilidade”.

“Quem cá está e quem os vem ver percebe que são concertos muito especiais, comentados, anotados e explicados. No fundo, trata-se de explicar a música clássica às famílias. Há muita gente que vem e que tem, nestes concertos Promenade, o seu primeiro contacto com música clássica e que, pela primeira vez, ouve uma orquestra. E isso é uma experiência que depois se pode replicar para a vida. São concertos familiares para crianças, jovens, pais, avós e isso é uma coisa muito bonita e acontece aos domingos de manhã. É também uma procura nossa de os tornar ainda mais apelativos para que venha ainda mais gente”, disse.

Neste ciclo vão estar incluídas obras emblemáticas, como “Romeu e Julieta”, de Tchaikovsky; “O Bolero”, de Ravel, “Um Americano em Paris”, de Gershwin e ainda um concerto d’A Garota Não. O primeiro Concerto Promenade acontece a 24 de março com a apresentação de “…Até ao Mar”, de Pulsat Percussion Group, uma viagem musical baseada na curta-metragem infantil “Paddle to the Sea”. 

Além disso, Promenade vai ter, este ano, tradução em língua gestual portuguesa e audiodescrição, tornando-se “decisivamente inclusivo, porque, do ponto de vista estilístico, é imensamente democrático”, sublinha Miguel Guedes. “É um edifício de 1941 e, portanto, com enormes dificuldades do ponto de vista da sua readequação à acessibilidade de todos e é um esforço que nós temos feito – que não é de agora,  é contínuo – e que será também uma das nossas principais prioridades. É uma das obras que iremos levar a cabo neste momento e nos próximos anos”, acrescenta.

As preocupações em tornar a arte cada vez mais inclusiva também se vão repercutir no Sub_Bar, um projeto musical e multissensorial que foi criado para dar a conhecer às pessoas surdas ou com deficiência auditiva, em setembro, os benefícios da música

De toda a programação, Miguel Guedes distingue ainda o Festival Internacional de Arte e Ópera do Porto (FIATO), previsto para 13 de novembro. O festival traz este ano a versão encenada de “Maria da Fonte”, o segundo título recuperado pelo Laboratório de Ópera Portuguesa, criado em 2022. Trata-se de uma opereta cómica e satírica, escrita por Augusto Machado e musicalmente dirigida pelo maestro João Paulo Santos, que apresenta a heroína popular como uma mulher intensa, corajosa e com consciência social. Desconhecendo-se o paradeiro do libreto original, o encenador Ricardo Neves-Neves escreveu um libreto a partir das partes que constam da versão musical. 

Dentro das óperas, sobressaem-se também “Madame Butterfly”, de Giacomo Puccini (1 de março, 20h00), “It’s Not Over Until The Soprano Dies”, da companhia Mala Voadora e encenado por Jorge Andrade (5 de julho), e “O Barbeiro de Sevilha”, dirigida pelo maestro Ferreira Lobo (26 de setembro). 

A partir de março, o Coliseu volta com um programa de visitas guiadas para dar a conhecer os recantos que não são acessíveis ao público, como os camarins dos artistas e a adega Coliseu. 

O diretor enalteceu ainda as características únicas do espaço que tem 82 anos de história: “Estas são visitas guiadas para que sirvam, não só a comunidade e as pessoas da cidade, da região e as pessoas que nos queiram visitar, mas também para uma forte componente e ligação ao turismo, que é vital para a cidade e que deve ser parte do desenvolvimento de uma casa de espetáculos como o Coliseu Porto Ageas”.

Coliseu “não se poderia perder”

A programação é conhecida numa altura em que o edifício está a ser reabilitado, ao abrigo dos Fundos Europeus Norte 2030. Para Miguel Guedes, as reivindicações por uma intervenção é “uma luta de quase uma década”. Apesar de ser tarde, o diretor admite que ainda vai a tempo.

As obras no telhado vão decorrer durante o primeiro semestre deste ano. No entanto, as obras mais profundas só poderão começar após o parecer da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN)

Se assim não fosse, o edifício teria de ser “concessionado a outros privados para fazer as obras”, confessou. Neste sentido, Miguel Guedes frisa que a resolução do problema é “fruto de muito trabalho, muita objetividade e de muita responsabilidade e também responsabilização dos agentes políticos que perceberam, de facto, a importância do Coliseu e que não se poderia perder”, concluiu.

Editado por Inês Pinto Pereira