O presidente da Câmara Municipal de Gaia afirmou esta quinta-feira, em Assembleia Municipal, que, no que depender do município, a ponte "não abre". Ao JPN, a IP informa que está "em análise a futura utilização da ponte" com os municípios do Porto e de Gaia. Manuel Correia Fernandes e GARRA defendem que a ponte tem que ter um futuro.
O presidente da Câmara Municipal de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues afirmou, esta quinta feira (29), em Assembleia Municipal, que “se depender da Câmara de Gaia, a ponte Maria Pia, que foi deixada ao abandono pelo Estado, não abre”, segundo o “Jornal de Notícias” (JN).
O autarca afirmou ainda que a travessia é da “competência” da Infraestruturas de Portugal (IP) e que é a empresa que tem de “assumir a responsabilidade e a disponibilidade para fazer parte da solução. Se depender dos municípios, não vai abrir. Não temos dinheiro, nem o ‘know how’ (conhecimento) para fazer a gestão”.
Sobre a possibilidade da existência de futuros projetos para a ponte voltar a ser utilizada, a IP esclareceu ao JPN que “está em vigor um contrato de subconcessão celebrado com o Município do Porto para adaptação e uso da plataforma do Ramal da Alfândega, entre os Km 0.491 e 3.359, para utilização de modos suaves de mobilidade, turísticos e/ou lazer”. A IP disse ainda que está prevista “na sequência desse projeto, a análise da futura utilização da Ponte Maria Pia, como via pedonal e ciclável, por parte da IP e Municípios de Gaia e Porto”.
De acordo com o “JN”, Eduardo Vítor Rodrigues declarou, ainda durante a Assembleia Municipal, que a ponte é “muito estreita”, dado que “só existe um carril”, o que faz com que existam “muitas dúvidas sobre a sua segurança” para peões e bicicletas. “Seria preciso colocar um tabuleiro novo. A ponte ficou abandonada. Custaria todo o dinheiro que temos para investir na via pública, por ano. Têm que ser investidos milhões de euros”, acrescentou.
Face a estas afirmações, a IP ressalva, em declarações ao JPN, que a empresa “efetua um acompanhamento rigoroso e permanente ao estado de conservação da Ponte Dona Maria Pia” e que “apesar de estar sem exploração há mais de 30 anos, [a ponte] tem sido alvo de inspeções principais e de um conjunto de intervenções de manutenção, de forma a assegurar a integridade dos principais elementos que constituem a ponte“.
Uma ponte que está inativa desde 1991
Já em 2004, surgiu a ideia de transformar o tabuleiro da ponte numa ecopista. Nessa altura, foi assinado um protocolo entre o Ministério das Obras Públicas e as câmaras do Porto e de Gaia. Contudo, o processo não chegou a avançar. O projeto voltou a ser debatido enquanto Manuel Correia Fernandes esteve no cargo de vereador do Urbanismo da Câmara do Porto (CMP), até 2017.
Ao JPN, o antigo vereador do Urbanismo da CMP afirmou que a ponte “poderia e deveria ter um programa e deveria não só ser mantida, como tornada útil“, sendo “mais do que merecido ter um futuro”. A Ponte Maria Pia, inativa desde 1991, é classificada como monumento nacional desde 1982. A ponte, nessa altura, foi substituída pela ponte São João, já que não reunia condições para a passagem de carruagens modernas e por ter apenas uma linha. “É património inestimável. Custe o que custar, tem de ter um futuro”, acrescentou.
Manuel Correia Fernandes destaca ainda que os investimentos, apesar de se medirem “pelo valor financeiro que implicam”, também devem ser avaliados “em função do valor patrimonial, paisagístico, turístico e social“.
A 27 de dezembro do ano passado, o Grupo de Ação para a Reabilitação do Ramal da Alfândega (GARRA) pendurou uma faixa na ponte com a mensagem “100 anos de Eiffel, 32 de abandono: até quando?”, de forma a destacar a urgência de dar uso à Ponte D. Maria.
Jorge Mayer, membro do grupo, declarou ao JPN que o GARRA Porto acredita que “tem de ser encontrada uma solução para a ponte e essa solução tem de ser encontrada sentando a IP e as Câmaras à mesa”. Isto porque “não é um investimento de outro mundo. Dos cálculos que fizemos, estamos a falar em quatro, cinco milhões de euros, dos quais isto envolveria, do lado de Gaia, talvez um milhão para os acessos e, depois, talvez um milhão e meio para a mudança do tabuleiro“.
“Podia-se arranjar aqui um entendimento entre as partes, de maneira que a ponte pudesse ser cedida para os municípios e arranjar aqui algum financiamento para fazer uma mudança do tabuleiro e tratar de acessibilidades”, acrescentou.
Jorge Mayer salientou que o grupo “lamenta imenso” a intervenção de Eduardo Vítor Rodrigues, já que “há muitas soluções que não têm que passar por ser sempre o investimento público o salvador do problema”. “Ninguém nos garante que esta ponte, aberto um concurso para privados, não possa ser recuperada e que até possa ter aqui uma valia turística muito mais acentuada“.
Por fim, o membro do GARRA Porto destacou que “a ponte está abandonada, mas não está descuidada. São coisas diferentes”.
Editado por Inês Pinto Pereira