Nesta sexta-feira (01), começam os Mundiais de Atletismo em pista coberta. A federação portuguesa vai levar 17 atletas, mas não conta com suas principais estrelas. Luís Pereira, 'team leader' da comitiva, diz ao JPN que as expectativas são boas e que "daí até uma medalha, tudo pode acontecer".
É em Glasgow, na Escócia, que têm lugar as provas dos Mundiais de Atletismo em pista coberta, que arrancaram esta esta sexta-feira e se prolongam até domingo. A Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) vai levar 17 atletas, um número recorde – que iguala Lisboa 2001 – mas sem medalhados em campeonatos anteriores. Mesmo assim, Portugal vai aos mundiais com uma geração jovem e com ambições.
Que portugueses vão competir?
No primeiro dia, entraram em pista já alguns atletas: Cátia Azevedo, que não passou à fase final dos 400 metros, tendo chegado 0,75 segundos atrás da segunda colocada; Eliana Bandeira e Jéssica Inchude, que na final do lançamento do peso ficaram nas 10.ª e 12.ª posições, respetivamente; e João Coelho, que está na meia-final dos 400 metros e bateu o recorde de Portugal, que já era seu.
Luz no fim… da pista
Embora não tenha as suas maiores estrelas na competição, Portugal não coloca de parte a hipótese de chegar ao pódio. Luís Pereira, diretor da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) e team leader nesta competição, refere que a aposta é numa geração jovem para que haja uma passagem de testemunho na elite do atletismo português.
“As expectativas são boas. Os nossos atletas são bastante jovens, na sua grande maioria, por isso são atletas que nos vamos habituar a ver nos grandes palcos mundiais durante mais alguns anos. E as grandes figuras da seleção, que estão ausentes neste momento por questões físicas, também já passaram por esta fase, também já tiveram que fazer o seu caminho até que chegaram ao estatuto que têm hoje, de atletas consagrados“, referiu em declarações ao JPN.
O responsável também disse que a qualificação para os mundiais não foi fácil e que os atletas chegam a Glasgow “com todo o mérito”. Mérito que se revela também, na sua visão, pelo inédito convite dirigido à federação portuguesa: “o facto de, pela primeira vez, termos o convite para trazermos duas estafetas a estes campeonatos do mundo, também é revelador do excelente trabalho que tem sido feito neste setor e da qualidade que existe, neste momento, em termos de marcas individuais dos quatro atletas, quer femininos, quer masculinos, que irão participar nesta estafeta.”
Quanto aos atletas, Luís Pereira tem muita esperança nos portugueses.
“O Isaac [Nader] tem demonstrado imensa capacidade de se superar nestes grandes palcos. Não nos podemos esquecer que ele bateu recentemente o recorde nacional do Rui Silva, um recorde com 24 anos e, por si só, isso é logo demonstração da grande mais-valia e do grande talento e capacidade que o Isaac demonstra”, afirmou.
Isaac Nader tem o segundo melhor tempo da época nos 1.500 metros masculinos, com 3:34,23, um recorde nacional. Embora seja o número 19 no ranking global, o atleta de 24 anos conquistou medalha de prata nos jogos europeus de Chorzów no ano passado e conta com grandes chances de conquistar um pódio este ano. O português tem feito corridas progressivamente melhores na sua disciplina e mostra grande potencial.
Luís Pereira também destacou Cátia Azevedo [ainda antes da atleta entrar em prova], “que já bateu este ano por duas vezes o recorde nacional e apresenta-se em Glasgow também num pico de forma e certamente com a ambição de voltar a bater o recorde nacional.” Também foram destacados Tiago Pereira, que concedeu uma entrevista ao JPN recentemente, Jéssica Inchude e Juliana Guerreiro.
O team manager considera que as hipóteses de chegar a uma medalha dependem muito do fator psicológico dos atletas: “Todos eles vêm aqui com uma grande ambição de se superar e daí até à medalha tudo pode acontecer. Um dia muito bom para os nossos e um dia menos bom para os outros está à mesma distância de um dia menos bom para os nossos e um dia muito bom para os outros. Por isso, a partir do momento em que se chega à final, temos sempre que pensar em medalhas, porque quando se está numa final, corre-se para ganhar. A ambição de podermos lá chegar está sempre presente.”
Calendário apertado e cuidado com as Olimpíadas
Luís Pereira refere ainda que o ano é extremamente exigente, não só por ser ano olímpico, mas também porque junta no mesmo ano este campeonato do mundo de pista coberta, assim como o importantíssimo Campeonato da Europa ao ar livre de Roma, que acontece semanas antes dos Jogos Olímpicos (7 a 12 de junho), tudo isto leva a uma gestão muito cuidada da condição física dos atletas. Certo é que “qualquer atleta com qualificação para os Jogos Olímpicos terá como primeira ambição uma presença nesses mesmos jogos.”
Quanto ao risco de mais lesões, o team manager diz que a equipa faz o possível, e há o envolvimento dos quadros técnico e médicos da federação para evitar esse cenário. Para ele, a gestão “vai possibilitar aos atletas estarem em boa forma agora, em Glasgow, tanto no campeonato da Europa, quanto nos Jogos Olímpicos.”
Maiores estrelas portuguesas estarão ausentes
A federação portuguesa não vai poder contar com Auriol Dongmo (lançamento do peso feminino), Patrícia Mamona (triplo salto feminino) nem com o campeão olímpico e mundial Pedro Pablo Pichardo (triplo salto masculino). Os três atletas, impedidos por questões físicas, foram os únicos medalhados de Portugal nas últimas quatro grandes competições das categorias em disputa.
Antes do domínio destes três atletas, as medalhas portuguesas em Birmingham 2018 e Glasgow 2019 foram conquistadas por Nelson Évora, que conseguiu bronze no primeiro campeonato e prata no segundo, no triplo salto. Em 2020, Pichardo e Mamona, respetivamente, conquistaram ouro e prata nos Jogos Olímpicos. O ouro de Pichardo foi o quinto da história de Portugal nos jogos.
Já 2021 foi o melhor ano de sempre de Portugal no campeonato europeu, com medalhas de ouro de Dongmo, Mamona e Pichardo. Dongmo e Pichardo conquistaram ouro e prata respetivamente em 2022, e em 2023 os três atletas conseguiram um lugar no pódio novamente, mas desta vez com dois ouros e um bronze, sendo este de Mamona.
Com essas ausências importantes, Portugal vai a Glasgow com poucas esperanças de chegar a uma medalha. Dongmo, Mamona e Pichardo tornaram-se presenças inequívocas no topo de suas categorias e vão fazer muita falta à federação portuguesa. Contudo, ainda há esperança de medalha, e em categorias que Portugal não apresentava muita força antes.
Editado por Filipa Silva