O atleta do Sporting, várias vezes campeão nacional no triplo salto e no salto em altura, falou com o JPN sobre o seu apuramento para o Campeonato Europeu de Roma, que vai ser disputado em junho e que pode dar-lhe uma vaga para os Jogos Olímpicos de Paris. Os objetivos do triplista são ambiciosos e o discurso é de um vencedor: "o meu objetivo é ser campeão da Europa".

Aos 30 anos, Tiago Pereira bateu o recorde pessoal no triplo salto em pista coberta. Foi este mês, em Torun, na Polónia, onde o atleta do Sporting CP atingiu os 17,02 metros. Saiu da Copernicus Cup, um dos sete meetings de Ouro da World Athletics, com o segundo lugar e a segunda melhor marca da carreira, que lhe valeu ainda o apuramento direto para o  Campeonato Europeu de Atletismo de Roma, a decorrer em junho.

No rescaldo da prestação, o atleta, que entretanto venceu também as provas de triplo salto e salto em altura no último Campeonato Nacional de Clubes, falou com o JPN sobre a marca acima dos 17 metros e sobre os seus objetivos futuros. Ainda que se considere “um jovem no triplo salto”, disciplina em que decidiu apostar quando já tinha 24 anos, Tiago Pereira diz-se pronto para altos voos, não se sentisse ele, “psicologicamente, um dos mais fortes de Portugal”.

E não é só no plano mental que o atleta se afirma. Excluindo da equação Pedro Pablo Pichardo, o português de origem cubana que é campeão olímpico e mundial do triplo, e que detém o recorde de Portugal (17,98 metros), mas que não fez a sua formação em Portugal, Pereira vê-se como “o melhor atleta da sua geração”. Além de Pichardo, Nelson Évora e Patrícia Mamona são outras referências do atleta que entra em competição sempre com os olhos postos no pódio.

“O meu objetivo é ser campeão da Europa”

Sobre o Campeonato Europeu de Atletismo de junho, Tiago Pereira promete o que garante ser sempre o seu objetivo: ser “o melhor”, seja quais forem os seus adversários. “Desde jovem, quero ser sempre o melhor. Posso ir jogar contra o Cristiano [Ronaldo] ou o Messi, mas quero ser o melhor, mesmo sabendo que eles têm uma qualidade fenomenal. Pode ser contra o Pedro Pichardo ou o Andy Díaz, que me venceu” em Torun, sublinhou. Ser o melhor em Roma significaria um título. Mais do que um título, “o” título: “o meu objetivo é ser campeão da Europa”, diz.

Tiago Pereira tem 30 anos e é atleta do Sporting. Foto: Luís Barreto/Marcelino Almeida/FPA

Outra convicção do desportista é o apuramento para os Jogos Olímplicos de Paris 2024. Para isso, o triplista terá de superar a sua melhor marca de sempre (17,11 metros) para atingir o mínimo olímpico fixado nos 17,22 metros no triplo salto. O atleta do Sporting tem plena confiança em atingir a marca e “ainda mais”. Além disso, mesmo que tenha ficado satisfeito com o desempenho na última prova internacional, lamentou não ter conseguido a marca olímpica já na Polónia, onde se sentiu “bem e as condições eram as melhores”. 

Tiago Pereira fez a sua formação no salto em altura e só em 2017 é que voltou o seu foco para o triplo salto. Nesta jornada na disciplina, destacou o trabalho de João Ganço e Ivan Pedroso, seus treinadores, no seu desempenho atual. O saltador sente que nunca foi um dos jovens “mais talentosos, nem dos mais apoiados” ao longo da sua formação – que passou pelo Benfica, antes da mudança para o Sporting em 2018 -, mas acredita que a sua determinação o transformou no “melhor atleta da sua geração”.

“Sempre tive a felicidade de conseguir evoluir, mesmo nos momentos maus e nunca fiquei para trás. Passo a passo, fui aprendendo. Hoje, posso dizer, sem problema nenhum, que sou o melhor atleta da minha geração. De todos os que cresceram comigo da minha geração, sou o melhor atleta”, afirmou ao JPN.

“Tóquio 2020 mudou-me como atleta”

Tiago Pereira esteve nos Jogos Olímpicos de Tóquio, disputados em 2021, mas falhou o acesso à final por 13 centímetros. Acabou como 16.º classificado entre 31 atletas, com uma marca de 16,71 metros.

Mesmo que “estivesse na melhor forma física de sempre“, o português entende que o seu não-apuramento para a final ficou a dever-se à falta de experiência no formato da prova: “é muito difícil, até para os ótimos atletas”, recordou, referindo Hugues Zango, medalha de bronze nos Jogos que foi o último apurado das semi-finais. “Estava mais do que preparado para saltar, mas não estava preparado para o formato da competição”, finalizou.

Mesmo que seja um atleta com “uma das melhores forças mentais de Portugal”, Pereira teve de lidar com a deceção de não estar na disputa por uma das medalhas no Japão, ainda que “tivesse feito a marca de 16,84 metros durante toda a época”, marca que teria valido uma presença no final se a tivesse saltado em Tóquio.

A confiança de Tiago Pereira nas eliminatórias era grande, depois de ter batido o seu recorde pessoal na prova que antecedeu os Jogos. No entanto, essa motivação acabou por não ser suficiente para “saber gerir o tempo e o nível de ansiedade”. Explicou que não estava preparado para uma prova assim, porque os meetings que disputa, “normalmente, têm nove atletas. Não demoram muito. Nas classificatórias, tens 32 atletas”, frisou.

Mesmo que avalie que o aspeto mental foi determinante para o resultado em Tóquio, o atleta português não vê o desempenho como o resultado de alguma falta de acompanhamento a esse nível. Considero-me, psicologicamente, um dos mais fortes de Portugal, sem dúvida. Sou muito forte. Já lidei com muitas situações difíceis, tanto na vida, como no desporto. E sempre tive a força mental para seguir e manter o meu foco, declarou.

“O que retirei de Tóquio mudou-me muito como atleta. Aprendi uma grande lição. Temos de saber preparar-nos. No dia da prova qualificatória, temos que saltar de qualquer maneira. No dia da final, é outro dia. Não importa o que se conseguiu fazer na prova anterior”, analisou.

O falhanço rumo aos Jogos do Rio 2016

Em 2015, Tiago Pereira ainda se dedicava ao salto em altura. Nesse ano, teve uma lesão no pé identificada meses depois de ter sido contraída. Relembra que o “jeito bruto, enquanto ainda era jovem”, fez com que não reclamasse das dores que sentia no escafóide, um dos ossos do pé, que estava partido. O problema acabou por retirar-lhe a oportunidade de ir aos Jogos Olímpicos do Rio 2016. “Ainda acreditei que conseguia ir. Aconteceu logo no início da temporada”, lembra. Mas, após a recuperação, o atleta acabou por ter um “bloqueio mental” ao tentar superar a marca de 2,20 metros no salto em altura. 

Em Pombal, o atleta do Sporting sagrou-se campeão nacional de triplo salto e salto em altura, discuplina que era a sua principal até 2017. Foto: Luís Barreto/Marcelino Almeida/FPA

A partir daí, o atleta acabou por decidir concentra-se no triplo salto com o objetivo de entrar no ciclo olímpico dos Jogos de 2016, que acabou por não ser conseguido. “São coisas da vida. É como tudo: vou a uma competição, não corre bem, no momento fico um pouco triste, mas percebo que tenho que continuar a trabalhar. O atletismo é assim, o atletismo é isto, tu trabalhas para o momento, se não consegues, voltas a trabalhar.”

A decisão da FPA que fez chorar o atleta

Apesar da “excelente capacidade de lidar com os obstáculos, na vida e no desporto”, Tiago Pereira relembra aquele que considera “um dos momentos mais baixos” na sua trajetória como desportista: não ter sido considerado para ocupar uma vaga como convidado para o Campeonato Europeu de Torun, em 2021, pela Federação Portuguesa de Atletismo. Para o atleta, a FPA acabou por “pecar um pouco” em não conversar com o seu treinador, nem mesmo com o próprio atleta, para entender as causas do mau desempenho na época.

Sobre aquele europeu, afirma que “foram atletas com nível mais baixo”, além de ter perdido uma oportunidade de ganhar experiência: “Justamente o que me faltou em Tóquio”, recorda. O atleta vai mais longe e diz que “poderia ter ido para fazer uma boa classificação”, pois não foi uma prova “muito exigente em termos de marcas”. A decisão da FPA foi pesada para Tiago Pereira que admite ter chorado pela única vez pelo desporto quando soube da notícia e confessa: “Foi a única vez que pensei em desistir de saltar”.

Em Pombal, Tiago Pereira saltou 16,30 metros, mas já passou os 17 metros este ano. Foi em Torun, na Polónia. Foto: Luís Barreto/Marcelino Almeida/FPA

No entanto, com o apoio do treinador João Ganço, Tiago Pereira diz que ficar de fora do Europeu transformou-se numa motivação para chegar aos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. “Motivo-me muito com este tipo de coisas, das pessoas que duvidam de mim. Cheguei onde estou muito por isso. Tenho de estar sempre a provar-me. Nunca fui dos favoritos. Até hoje não sou”, disse. Por fim, o triplista do Sporting também aponta que este foi o passo inicial para se tornar hoje no “melhor português de triplo salto em termos masculinos, atrás de Pedro Pichardo”.

Relativamente aos objetivos na sua carreira como desportista, o lisboeta aponta, acima de tudo, a ambição de ser um dos maiores nomes de sempre no atletismo de Portugal, “como Nelson Évora e Patrícia Mamona”. No entanto, acredita que primeiro precisa de ganhar medalhas – aquilo que aponta ser valorizado de facto no país – para chegar onde deseja: “Quero ser imortal no desporto português”.

Em termos de pódio nos próximos Jogos Olímpicos, caso confirme a sua vaga, Tiago afirma que precisa de “elevar o nível para saltar mais perto dos 17,50 metros”, mas que “muito dificilmente pode falar de medalhas em Paris, mesmo que as coisas possam mudar de um dia para o outro”.

Editado por Filipa Silva