Dia 13 de Maio é dia de aparições, mas no bar ribeirinho “O Meu Mercedes É Maior Que o Teu” celebravam-se outros milagres. A compilação “Divergências.com” reúne 18 projectos da nova música portuguesa que responderam afirmativamente ao convite do Divergências, um site dedicado exclusivamente aos sons lusos. Canções inéditas – uma mais valia para o disco – e diferentes estéticas, desde o electro-rock dos X-Wife, ao hip-hop dos Dealema, a folk de Old Jerusalem e o metal dos Pitch Black.

Um dos projectos presentes no disco é Kubik, ou Victor Afonso, músico da Guarda e autor de um dos discos mais aclamados de 2001, “Oblique Musique”. A música de Kubik é isso mesmo, oblíqua, sinuosa, tortuosa. Kubik entra em palco pela meia-noite e anuncia: “Vou carregar no play e ver o que é que acontece”. E sobre sons pré-gravados, Kubik, munido de voz e guitarra, montou o seu circo.

Ruídos estranhos, música de desenhos animados, declamações absurdas (“Hitchcock is not Grouxo Marx”) – eis o universo sonoro de Victor Afonso. Outros temas bebem no noise de uns Fantômas (mas sem os gritos de Mike Patton), outros no surf rock dos Butthole Surfers. Ouvem-se também uma mistela house-chanson française, blues rock, paisagens sonoras à Black Dice e um tema com voz samplada de Old Jerusalem, cavernoso, quase irreconhecível entre as dissonâncias e esquizofrenia introduzidas pelos sons de Kubik.

Kubik é um caso quase único de inventividade em Portugal. Música marginal, inevitavelmente reduzida a um círculo de melómanos.

Uma nova consciência independente

A compilação “Divergências.com” surge agora, mas a ideia remonta já ao segundo aniversário do site, celebrado em Setembro do ano passado. Jorge Oliveira, um dos fundadores do Divergências, justifica este lapso de tempo com o “trabalho de reunir 18 bandas com temas inéditos”. Conseguir uma editora foi outro obstáculo. O disco é editado pela Independent Records

Ao olhar para os dois anos e meio do Divergências, Jorge Oliveira não tem dúvidas: “desde que nós começamos, [a música portuguesa] evoluiu bastante. Recebe hoje mais atenção”. Jorge acredita que existe hoje uma “consciência indie”, motivada pelo aparecimento de editoras como a Bor Land, a This.Co, a Kombate e a Matarroa. Editoras pequenas, mas preocupadas com a promoção cara-a-cara, com a estética das edições, com o custo dos discos. “Um mercado alternativo” que é, para Jorge Oliveira, o único espaço de criatividade e de aposta em novos valores da música portuguesa.

A passagem pelo Porto é a segunda fase das festas de apresentação da compilação. Seguem-se o concerto dos Fat Freddy no Santiago Alquimista, hoje pelas 24 horas, e a conversa sobre música portuguesa e DJ sets no bracarense Deslize, pelas 22 horas do dia 15 de Maio.

Pedro Rios