Sem falar do novo governo, Marçal Grilo traça linhas orientadoras para a melhoria da qualidade do ensino.

Eduardo Marçal Grilo, ministro da educação entre 1995 e 1999, propôs desafios para o ensino superior português, numa conferência dada na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP).

Defensor da declaração de Bolonha como garantia da manutenção da diversidade académica, Marçal Grilo afirmou que esta não deve ser entendida como uma declaração política. Para o ex-ministro, a declaração de Bolonha não vem uniformizar as instituições de ensino na Europa, mas, pelo contrário, permitir uma mobilidade e um reconhecimento dos títulos e dos graus de ensino essencial para o progresso e para a integração da própria União Europeia como um espaço multicultural.

O ex-ministro socialista alertou para a necessidade das instituições superiores adoptarem modelos que permitam absorver a quantidade de estudantes que afluem às universidades decorrente da massificação do ensino superior. Para Marçal Grilo, a falta de uma política de coerência e de pragmatismo neste âmbito está a provocar a falência e o caos financeiro de diversas intituições de ensino. “As universidades não conseguem dar resposta ao elevadíssimo número de estudantes”, disse.

Para o ex-ministro, uma política pública de ensino superior que queira contemplar a melhoria da qualidade desse ensino tem que seguir duas linhas orientadoras: melhorar as classificações das médias e “puxar pelos picos”, ou seja, exigir cada vez mais aos melhores para que possam competir em termos internacionais. Marçal Grilo crê que estas duas linhas não são incompatíveis e acredita que “a procura da excelência é a forma de encontar referências e só assim se pode melhorar a qualidade de ensino”.

A imagem das universidades na sociedade

A avaliação e acreditação das instituições de ensino é, segundo Marçal Grilo, a melhor forma de incentivar a excelência e, simultaneamente, ganhar em sentido estratégico. O professor vê como essencial a necessidade dos estudantes e da sociedade em geral conhecer as competências de cada instituição, principalmente no contexto europeu em que estamos inseridos.

O ex-ministro da Educação falou da necessidade das universidades se tornarem “centros de racionalidade”. “Os projectos e os objectivos têm de ser definidos de acordo com as verbas disponíveis”, afirma. Salienta, no entanto, que os orçamentos destinados às universidades têm de, obrigatoriamente, contemplar os projectos de médio e longo prazo inerentes aos objectivos em termos de investigação de cada universidade.

No final da conferência, Marçal Grilo referiu que é urgente mudar a imagem do ensino superior português. “O país desconhece as capacidades que tem nas suas escolas. A falta de divulgação mediática potencia uma falta de afirmação que é nefasta ao próprio sistema”, defende. Para o ex-ministro, a afirmação das universidades através dos média só traria vantagens às próprias instituições, mesmo em termos de saídas profissionais para os seus estudantes.

Milene Câmara