Foi a olhar para a realidade afegã que este pequeno grupo de teatro realizou a sua primeira peça. Estávamos no ano lectivo de 2001-2002. O mundo estava com os olhos postos no Afeganistão, após os atentados do 11 de Setembro. E daí nasceu a inspiração: “pegámos na posição da mulher afegã e acabámos por ficar na ‘Mulher-Sonho’, ‘Mulher-Realidade’ e na noção de pobreza extrema. Com estes três pontos conseguimos fazer uma peça à volta do trabalho do corpo”, contou ao JPN Inês Gregório, representante do grupo. A peça decorreu no anfiteatro exterior da faculdade. “Simbolizámos a descida do sonho para a realidade através de rappel, do terceiro andar até cá abaixo, o que foi um bocadinho assustador. Mas em termos de corpo funcionou muito bem”.

Com este ponto de partida o grupo foi crescendo. No ano seguinte Inês Gregório fazia parte da Associação de Estudantes, pelo que “tinha as portas mais abertas para organizar as coisas.” Contactou uma encenadora que conhecia, perguntou-lhe se estava disposta a trabalhar com o grupo e o processo foi sendo mais ou menos o mesmo todos os anos. “Convidam-se as pessoas a participar. Já chegámos a ter 18, a 20 inscrições. Os primeiros trabalhos são sempre de corpo, trabalhos de grupo para ver como é que as pessoas reagem a certos exercícios, e daí vai nascendo a ideia do projecto para cada ano”.

Mas os problemas também não tardaram a surgir. “Inicialmente toda a gente dizia que isto era muito bonito, falaram como se fosse algo muito pitoresco e turístico, uma espécie de postal ilustrado, mas na prática poucas coisas vão avante. E sempre que falei em dinamizar um pouco mais o grupo de teatro, disseram que aprovavam, como aprovam qualquer tipo de iniciativa”.

Falta um palco na FLUP

Inês lamenta principalmente a falta de infra-estruturas que permitam ao grupo ensaiar e representar as suas peças. “Esta Faculdade de Letras é das poucas faculdades que não tem um auditório que se apresente, que não tem uma sala de espectáculos, e em que o grupo de Teatro sempre que quer ensaiar vai para uma sala vazia, tira as cadeiras e as mesas todas, ensaia e no fim, quando o segurança vem dizer que temos um quarto de hora para sair, voltamos a pôr tudo no lugar. Acaba por ser um ritual muito cansativo”. E adianta que se houvesse “mais condições, podia ser muito melhor. Com melhores condições conseguíamos fazer coisas muito mais sólidas e um trabalho muito mais profissional. Tenho pena de não conseguir levar isto mais longe”.

O próximo passo é criar uma associação, “com personalidade jurídica”, já em Setembro. Porque só assim, garante Inês, é que poderão pedir apoios. E essa é a marca que Inês Gregório quer deixar, antes de abandonar o grupo, já no final deste ano. “Eu quero levar o teatro mais a sério, mas acabei por sentir um grande carinho pelas coisas que se podem conseguir com poucos recursos e pela magia que acabámos por transmitir nos últimos espectáculos. Eu já estou de saída. A minha presença começa a deixar de fazer sentido. Irei sempre acompanhar o grupo, mas não de uma maneira tão activa como agora. E as pessoas que estão no grupo este ano, já estão interessadas em dar-lhe continuidade”.

Este ano, o grupo leva à cena a história dos três porquinhos, que vai estrear no dia 19 de Maio, no Café-Concerto da Escola Superior de Música e
das Artes do Espectáculo, no Porto.

Anabela Couto