A co-incineração de resíduos industriais perigosos vai avançar “em breve”, assim que forem recebidos “os pareceres que foram pedidos para fundamentar e actualizar aquilo que são os pareceres cientificos que já se tinham na altura [em 2002] e que carecem de uma actualização”. A garantia foi dada pelo primeiro-ministro, José Sócrates, à saída do Fórum Ciência na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), que decorreu segunda e terça-feira.

Sócrates afirmou ainda que a co-incineração, o tão polémico projecto dos seus tempos enquanto ministro do Ambiente, vai ser feita nas cimenteiras recomendadas há cerca de quatro anos pela Comissão Científica Independente (CCI) criada para o efeito – nas de Souselas (Coimbra) e Outão (Setúbal).

Durante uma comunicação no encerramento do 2º Fórum Ciência na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), o primeiro-ministro recuperou o caso da co-incineração para justificar a importância da ciência estar ligada à política.

Aproveitando a presença na mesa do professor da FEUP e antigo membro da Comissão Científica Independente (CCI) José Cavalheiro, Sócrates lembrou que a CCI aprovou a co-incineração como método de eliminação de resíduos industriais perigosos. “É fundamental para o nosso ambiente, para os nossos ecossistemas, mas também fundamental para a competitividade da nossa indústria”, defendeu o chefe do Governo aos jornalistas depois da intervenção no Fórum.

O primeiro-ministro confessou que o caso da co-incineração foi “um momento decepcionante para um político, que esperava que a sociedade ouvisse o que os cientistas tinham a dizer”. O também secretário-geral socialista disse também que Portugal não tem um “sistema capaz de dar resposta à destruição de resíduos” e que não o pode dispensar.

O projecto da co-incineração foi posto de lado pelo Executivo social-democrata de Durão Barroso, numa das suas primeiras decisões quando assumiu o poder em 2002.

Aposta na qualificação a médio-prazo

Ainda durante a sua intervenção, o primeiro-ministro enumerou que Portugal depara-se com três problemas-chave: o défice orçamental, a promoção do crescimento económico e a aposta na qualificação da população.

Sócrates debruçou-se particularmente sobre esta última questão, que, no seu entender, só pode ser resolvida através de um investimento a médio prazo. “A qualificação não tem nenhum resultado nas eleições”, considerou.

O primeiro-ministro lembrou que Portugal se encontra, nas estatísticas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre qualificação, nos últimos lugares da União Europeia, com apenas 20% da população activa com o ensino secundário completo. “Não podemos enfrentar a economia global com esta qualificação”, admitiu.

Sócrates referiu uma recomendação da OCDE que diz que Portugal tem de apostar nos cursos tecnológicos equiparados ao secundário. O primeiro-ministro defendeu que não se podem abandonar as pessoas que já estão a trabalhar, mas que não completaram o 9º ou o 12º ano.

Tiago Dias
Foto: Rita Braga