O Ensemble da Casa da Música está de parabéns. São cinco anos com um repertório ecléctico, músicos de excelência e um historial já invejável de actuações internacionais.

Para assinalar a data, a Casa da Música, no Porto, oferece, entre hoje, sexta-feira, e amanhã, dois concertos onde se confrontam, em partes distintas, duas estéticas: a música contemporânea e a barroca italiana.

O Remix Ensemble é um agrupamento musical criado há cinco anos, no âmbito da Porto 2001. A intervenção no panorama musical português era o objectivo maior de uma estrutura que nasceu vocacionada para a música contemporânea erudita.

Em entrevista ao JPN, o gestor artístico do Remix Ensemble, António Jorge Pacheco considera que o Remix está na “primeira divisão” europeia, congratula-se pelo facto de o grupo atrair vários públicos e chegar aos mais jovens e faz um balanço “altamente positivo” dos últimos cinco anos.

Que balanço faz destes cinco anos de Remix Ensemble?

São cinco anos de trabalho com visibilidade e dois para trás de preparação e desenvolvimento do projecto. Em Outubro de 2000, realizou-se o primeiro concerto. Foi uma altura em que o Remix trabalhou em condições muito precárias, porque não tínhamos a Casa da Música. Andávamos quase todos os meses de mala às costas à procura de espaços para concertos. Apesar disso, o Remix Ensemble conseguiu reunir um núcleo de 15 músicos fixos e regulares. Esse músicos representam, cada um, todos os instrumentos de uma orquestra sinfónica – cordas, madeiras, metais, piano e percussão. Do meu ponto de vista, o balanço é altamente positivo.

E houve a internacionalização…

Ao longo destes cinco anos, graças à extrema qualidade dos músicos que temos conseguido reunir e à excelente qualidade do seu primeiro maestro titular, Stefan Asbury, e de maestros convidados, o Remix conseguiu construir uma reputação, não só a nível nacional como a nível internacional. Já passou por alguns dos mais prestigiados centros de música europeus – Roterdão, Barcelona, Paris (duas vezes), Estrasburgo… Nos próximos anos, e até 2008, há já projectos confirmados com convites para o Remix se deslocar às principais capitais europeias e actuar em festivais de música contemporânea.

É um grupo de excelência?

É um grupo de excelência com um espírito muito particular de grande entrega e com grande orgulho em fazer parte deste projecto. Há um grande profissionalismo associado a uma coisa que passa para o público e que é importante: fazer boa música e haver um grande prazer em fazer boa música. Porque sem isso, e se esse prazer não passar para o público, não há magia. Num concerto há uma comunhão entre o público e os músicos, e algo de muito bonito acontece, mas só acontece quando as pessoas fazem as coisas com enorme prazer e enorme empenho.

Como avalia o impacto do Remix no contexto do panorama musical português?

Não me compete a mim avaliar, preferia que fossem olhares externos a fazê-lo. O Remix é um agrupamento com características inéditas, e o Norte, em epecial o Porto (e não só, porque o Remix tem-se deslocado um pouco por todo o país) passou, de repente, a ter todos os meses um novo programa dedicado à música contemporânea. Basta ver os programas para perceber que o repertório que o Remix aborda vai muito para além daquilo que é considerado, estrito senso, contemporâneo: tem os clássicos do início do século XX, mas tem também, por vezes, incursões em músicas consideradas não eruditas, como o jazz. O Remix Ensemble já teve projectos em que fez incursão pelo jazz, pelo canto, pela ópera, em música para filmes, em projectos de dança… Ou seja, o mais diversificado possível.

O Remix é hoje mais ecléctico do que era há cinco anos atrás?

Não. Se calhar, é um bocadinho menos. No início, o repertório era, de um ponto de vista histórico, mais variado, porque abrangia obras do princípio do século XX até aos nossos dias. Essa fase está um pouco ultrapassada, porque quanto mais avançamos no tempo, mais passado temos e mais obras temos para trás para apresentar. Há muitas novas obras que vão surgindo porque, neste momento, estamos a assistir a uma grande explosão de criatividade, de novos compositores e imensas instituições que constantemente encomendam novas obras e promovem a sua estreia.

Ana Correia Costa
Fotos: DR
Ana Correia Costa