O Parlamento foi hoje, quinta-feira, palco de uma tensa troca de argumentos entre os deputados do CDS-PP e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Freitas do Amaral.

O deputado democrata-cristão, Telmo Correia, deu início à interpelação do Governo sobre política externa, que o PP requereu a propósito da polémica dos “cartoons” de Maomé, acusando o Ministério dos Negócios Estrangeiros de ser constituído por “opinadores” e de não serem “representantes dos interesses de Portugal” no estrangeiro.

“Reconhecemos que o senhor ministro seja um democrata”, ironizou Telmo Correia, chegando mesmo a acusar Freitas do Amaral de “ter vergonha de ser um ocidental”. “É gravíssimo termos neste ministério um ministro que sistematicamente tropeça nas suas declarações”, prosseguiu o deputado num tom crescentemente agressivo para com o ministro.

Na resposta, Freitas do Amaral foi acutilante: “Espero que o senhor deputado sinta remorsos por muitos anos”. O ministro afirmou recusar responder “no mesmo tom” ou usar o mesmo tipo de “insultos”, mas não fugiu muito à resposta às palavras que lhe foram dirigidas.

Freitas do Amaral acusou o PP de “não querer debater política externa mas sim pequenos assuntos de política interna”. E afirmou que “não fica muito bem a um partido que se diz da democracia-cristã que não perceba” a indignação de uma comunidade religiosa perante uma ofensa.

O debate prosseguiu com vários momentos de troca de palavras mais agressivas entre o ministro dos Negócios Estrangeiros e os deputados do PP, particularmente Telmo Correia e o líder parlamentar dos democratas-cristãos, Nuno Melo.

Telmo Correia, na sua última intervenção, disse até ter “saudades” dos ministros de António Guterres por comparação com Freitas do Amaral. “Que grandes ministros dos Negócios Estrangeiros!”, exclamou o democrata-cristão.

MNE afirma que não era necessário condenar violência

Na sua primeira intervenção perante o Parlamento esta tarde, Freitas do Amaral, em resposta a Telmo Correia, procurou justificar não ter condenado a violência contra os “cartoons” de Maomé, no seu primeiro comunicado de 7 de Fevereiro, ao afirmar que “se houvesse boa fé, as pessoas teriam compreendido que a falta daquela frase no comunicado é porque já estava dita noutro sítio”.

O ministro referia-se a uma declaração conjunta dos ministros europeus dos Negócios Estrangeiros onde se condenava a violência de muçulmanos em vários países árabes contra embaixadas europeias, particularmente as dinamarquesas.

Este comentário de Freitas do Amaral surgiu em resposta a Telmo Correia que foi claro ao considerar que se se for “brando com o terrorismo” está-se a ser “negligente com a democracia”.

Tiago Dias
Foto: ONU