Dois em cada cinco portugueses internados nos cuidados intensivos com infecções generalizadas (sépsis) acabam por morrer, revela um estudo apresentado hoje, quinta-feira, nas Jornadas de Medicina Intensiva de Primavera 2006, no Seminário de Vilar, no Porto. O estudo, realizado entre 1 de Dezembro de 2004 e 30 de Novembro de 2005, é relativa às Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) de 17 hospitais portugueses.

A sépsis é responsável pela morte de 10 a 20% dos pacientes e em estado mais avançado – sépsis grave e choque séptico – pode chegar a matar metade dos contaminados (para 40% a 50% dos doentes é fatal).

De acordo com António Carneiro, coordenador do estudo, é possível diminuir em cerca de 20%, em cinco anos, a morte por sépsis grave. Para alcançar este objectivo, Cristina Granja, directora do departamento de cuidados intensivos do Hospital de Pedro Hispano, propõe alterações nos procedimentos médicos. A profissional de saúde diz que não basta actuar quando a sépsis é detectada, é preciso prevenir “actuando atempadamente”.

O coordenador apontou algumas recomendações para a prevenção e tratamento da doença, entre as quais o diagnóstico rápido, o tratamento nas veias, a aplicação de substâncias para melhorar o funcionamento do coração e circulação e ainda as colheitas de identificação rápida dos microorganismos.

O que é a sépsis

De evolução progressiva, a doença manifesta-se pela alteração dos órgãos e ocorre quando bactérias de um foco infeccioso se espalham pela corrente sanguínea. A média de idades dos doentes é de 64 anos.

A patologia desenvolve-se em “estádios sequenciais”, disse Artur Paiva do Hospital Santo António, e apresenta “dois sintomas clínicos”: a sépsis grave e o choque séptico (caracterizado pelo prolongamento da doença e pela disfunção orgânica). À medida que o ano decorre a sépsis aumenta (Inverno é o mês mais grave). A fase estival é a mais propensa a infecções do trato urinário.

A sépsis é uma doença de “heterogeneidade da resposta inflamatória”, disse Artur Paiva, e pode deixar sequelas a nível respiratório e cerebral (alterações da actividade cognitiva). A atrofia dos músculos, a perda de peso, a fraqueza e dificuldades pulmonares são também algumas das consequências da doença.

Rita Pinheiro Braga
Foto: SXC