O ar calmo da Serra da Estrela escondeu este fim de semana uma apoteótica demonstração de rock progressivo e não só. O festival Gouveia Art Rock encerrou ontem, domingo, a sua quarta edição. A julgar pela satisfação do público, de várias nacionalidades, o festival terá um futuro promissor.

A edição deste ano abriu com os franceses Taal. Com um som marcadamente cinemático, a banda abriu o festival com uma demonstração de ecletismo musical impressionante, em que se detectaram influências tão díspares como Led Zeppelin, música clássica, gótica e celta, com pormenores do hard-rock mais pesado.

Em seguida teve lugar a surpresa da edição deste ano. Matthew Parmenter, cantautor de visual ao estilo da personagem principal do filme “O Corvo”, apresentou um espéctaculo inspirado, baseado em piano e guitarra, que cativou o público através uma permanente postura relaxada e constante comunicação com a audiência, apesar da densidade emocional dos temas executados.

De Peter Hammil somente se poderá dizer que cumpriu as expectativas. Muita da afluência ao festival foi motivada pela presença do membro dos Van Der Graaf Generator, que na noite de sábado passado se apresentou a solo, num registo intimista, executado também em piano e guitarra.

No segundo dia do festival actuaram ainda os suecos Anekdoten, os finlandeses Alamaailman Vasarat e os lendários Amon Düül II, a encerrar o certame.

Teatro-cine com pouco espaço

Das poucas críticas que se podem fazer ao evento único no país e raro a nível internacional, por abarcar um género musical pouco explorado e apoiado, salientam-se a capacidade do Teatro-cine de Gouveia. Apesar de consideravelmente divulgado, pelo menos na edição deste ano, a afluência ao festival poderia ser ainda maior, não fosse o facto de as salas estarem já completamente lotadas.

Outra das ausências notáveis é a da participação portuguesa no festival. Das oito bandas presentes no passado fim de semana, somente uma é nacional. Eduardo Mota, um dos organizadores do certame e membro da Associação Portugal Progressivo, de cuja iniciativa surgiu o festival de Gouveia, explica este facto pela relativa inexistência de projectos nacionais consagrados no âmbito do rock progressivo.

Para o organizador, o festival não tem podido servir de palco de estreia para bandas recentes ou em ascensão, já que depende de nomes sonantes que atraiam público para sobreviver. No entanto, Eduardo Mota planeia rectificar a situação, juntamente com a Câmara Municipal de Gouveia, com a criação, talvez no próximo ano, de um palco dedicado exclusivamente às bandas nacionais.

Texto e foto: André Sá