O ISMAI (Instituto Superior da Maia) recebeu esta quinta-feira as primeiras sessões do II Congresso Internacional de Futebol. Entre outros assuntos, os oradores abordaram os problemas e as soluções apontadas para o futuro da arbitragem e apresentaram o primeiro estudo sobre árbitros em Portugal.

O documento, elaborado por alunos daquele instituto, revela que ainda há más condições na prática da arbitragem, sobretudo nos escalões inferiores, onde os juízes são alvos de violência psicológica e física. Os campeonatos distritais são muitas vezes palco de agressões a árbitros que auferem salários muitos baixos para o risco da profissão.

Segundo Diogo Daniel, “os árbitros ainda são muitos castigados” e sofrem muita pressão dos outros intervenientes no jogo. Um dos autores do estudo referiu que é legítimo os árbitros errarem, porque “estão sujeitos às emoções próprias de um jogo de futebol e à pressão de adeptos, treinadores ou jogadores”, que prejudicam o seu desempenho.

O estudo revela que muitos árbitros se sentem prejudicados devido à incompreensão desses intervenientes e que o amor à profissão é a razão preferencial para continuarem a apitar. Apenas 33% dos juízes arbitra devido ao aspecto financeiro.

Treinadores, jogadores, dirigentes e comunicação social foram sempre alvo de críticas por parte de oradores como Vitor Pereira, ex-árbitro internacional, ou Olegário Benquerença.

O juíz internacional criticou os comentadores que “influenciam a opinião pública com barbaridades em relação às leis do jogo”. O leiriense afirmou que um árbitro tem de ter uma personalidade forte, “para ser imune às questíunculas do futebol” e saber relacionar-se com os media. “Quer julgue de uma maneira ou outra, dizem sempre que estou a errar”, apontou.

“Ser árbitro é como ser sacerdote”, afirmou Benquerença, referindo que apenas uma grande dedicação e amor ao ofício podem valer aos homens do apito. “A maioria dos árbitros desiste ao primeiro ou segundo ano, devido à pressão. Nem nos podemos lesionar. Se nos lesionámos, é porque temos medo de ir apitar a partida”, rematou.

O árbitro de Leiria falou também da necessidade de uma melhor formação no campo da arbitragem, porque “cada vez mais se liga aos árbitros e menos ao jogo em si”, e de uma espécie de pedagogia para os jogadores. O juíz de uma partida deve compreender o futebolista, assim como o contrário, disse Benquerença.

“Os jogadores deviam sentir a dificuldade que é ser árbitro. Quando fossem expulsos, deviam apitar um jogo para castigo e viam o difícil que é”, concluiu.

Médicos da selecção nacional e do FC Porto em discussão aberta

Pela manhã, diversos preparadores físicos e médicos ortopedistas de clubes de futebol dissertaram sobre questões técnicas viradas para o preparo físico e para lesões dos jogadores. Para o mero leigo, seria uma manhã sem importância não fosse o facto de estarem na mesa de debate médicos da selecção nacional e do FC Porto.

Conhecidas que são as quezílias entre as duas instituições (recorde-se a mais recente sobre a polémica afirmação de Joseph Blatter de alegadas pressões dos “dragões” para que Vitor Baía voltasse à selecção), notou-se que os intervenientes passaram ao lado de discussões, apesar de alguns despiques e trocas de palavras mais acesas entre Henrique Jones, médico de Portugal, e Nélson Puga, do FC Porto.

O II Congresso Internacional de Futebol prossegue sexta-feira.

David Pinto
Foto: SXC