Paulo Fernandes toma posse em meados de Janeiro como presidente da Associação Académica de Coimbra (AAC), a maior do país. Eleito na semana passada por uma vantagem escassa, diz, em entrevista ao JPN, contar “com todos” para implementar medidas como o apoio à empregabilidade dos estudantes.

O finalista do curso de Farmácia, com 23 anos, defende uma “atitude concertada” do movimento estudantil e a existência de “relações institucionais” entre a AAC e a reitoria.

Venceu as eleições por uma margem de apenas 81 votos. Espera oposição à sua direcção?

Na AAC costumamos ter sempre eleições muito disputadas. Contudo, temos um princípio que diz que, após o fecho do processo eleitoral, todos nós temos uma causa que é defender os princípios da AAC. Conto com todos para que possamos, mais uma vez, trabalhar em prol da AAC.

Quais serão as suas primeiras medidas?

O encurtamento da distância entre a estrutura da Direcção-Geral e os estudantes nas faculdades. Temos que trabalhar com as nossas estruturas das faculdades, falar com os estudantes, procurar que tomem consciência dos problemas que afectam o ensino superior. Outra questão fundamental é o fenómeno do emprego em “part time” em condições precárias por parte dos estudantes. A AAC tem que ter um papel de tentar procurar novas formas de emprego para esses estudantes.

Na prática, o que é que a AAC pode fazer nesse domínio?

Vamos procurar que o gabinete de inserção na vida activa seja ainda mais activo. Portugal é o país com mais recém-licenciados no desemprego. Vamos procurar alertar o Governo e o mercado de trabalho de que apostar em pessoas qualificadas é o melhor para o país mas também para as empresas. Vamos desenvolver protocolos para que mais pessoas que acabam o curso, ou mesmo durante a licenciatura, possam estagiar no mercado de trabalho.

Essas medidas exigem diálogo com a reitoria. Quer reatar o diálogo com o reitor Seabra dos Santos, que concorre sozinho a um segundo mandato?

Há um processo eleitoral para a reitoria que ainda está em curso e é um pouco precoce estarmos a falar de quem vai ser o próximo reitor, apesar de haver um candidato único. Não podemos esquecer o que se passou no passado: este reitor foi eleito com o apoio dos estudantes e fez algumas promessas que não cumpriu, como não aumentar as propinas e não chamar a polícia ao espaço da universidade – acabou por chamar e houve estudantes que foram agredidos. Nunca podemos esquecer o passado, mas para defender os estudantes tem que haver relações institucionais entre a AAC e a reitoria.

O que é que quer manter dos dois mandatos de Fernando Gonçalves e o que quer mudar?

Fernando Gonçalves conseguiu impor um rigor financeiro bastante grande. O que vamos procurar fazer é ter uma AAC muito mais participada, dar oportunidade a todos os estudantes que possam estar connosco a trabalhar, a desenvolver projectos. Isso vai ser, claramente, uma ideia diferente. Vamos procurar ter um discurso mais pela positiva, mais moderno.

Que bandeiras de política educativa vai defender?

Todas as associações devem ter um papel de vigilância da implementação do Processo de Bolonha. O ensino superior tem que ser visto como uma prioridade e não como um gasto. Apostar nele é apostar num motor do desenvolvimento do país. Há cada vez mais estudantes que nem sequer entram no ensino superior por razoes económicas e há outros que entram e acabam por sair. Neste momento, é praticamente incomportável para as famílias ter os seus filhos no ensino superior.

A AAC pode organizar manifestações sem o apoio das outras grandes associações, como aconteceu recentemente?

A AAC nunca pode descurar qualquer forma de luta se vir que os estudantes estão a ser prejudicados. Vamos dar sempre prioridade ao diálogo entre todas as associações e federações do país para termos sempre uma atitude concertada.

Essa concertação tem faltado?

Vou procurar que ela exista, mas não gostaria de me pronunciar se ela existe ou não.

Como reage às acusações de que a sua campanha poderia estar a ser financiada por algum partido?

Procuramos fazer uma campanha de aproximação aos estudantes, mais de contacto pessoal do que de publicidade. O financiamento veio da equipa, não houve mais nenhum. Houve colegas nossos que deixaram de pagar a renda de casa para poder financiar esta campanha.

Pedro Rios
prr @ icicom.up.pt
Foto: Joana Bogalho