Aquilo que estava para ser uma manifestação dos moradores do Lagarteiro contra a recusa da Câmara do Porto (CMP) em aceitar a proposta do Governo para requalificar aquele bairro, transformou-se numa acção de protesto dos habitantes de outros bairros da cidade contra aquilo que consideram ser “aumentos brutais das rendas” das habitações municipais por parte da autarquia.
Organizada pelo Movimento de Utentes dos Serviços Públicos de Campanhã, a vigília juntou cerca de 150 pessoas que repetiram até à exaustão palavras de protesto contra Rui Rio e a vereadora da Habitação Social, Matilde Alves, e exigiram obras de reabilitação nos bairros sociais.
Em maior número, os moradores do Bairro do Lagarteiro não se conformam com o facto do presidente da CMP não aceitar a proposta de financiamento do projecto-piloto do Governo para requalificar os “bairros críticos”.
Apoiada numa canadiana, Luciana Rodrigues, moradora no Lagarteiro, segurava um cartaz de protesto contra a degradação naquele que é um dos bairros mais problemáticos do Porto. “Não tenho força para abrir as janelas, as paredes estão cheias de humidade, a minha casa não tem condições nenhumas, e agora querem aumentar a renda de 30 para 65 euros?”, contesta.
O líder do Movimento de Utentes dos Serviços Públicos de Campanhã, Carlos Pinho, acusou a CMP de “implicância política e partidária” ao recusar avançar com o projecto de requalificação do Lagarteiro, “uma vez que se Rui Rio tinha alguma reclamação a fazer, devia tê-la feito mais cedo”.
Carlos Pinho, que é também representante dos inquilinos da CMP, classificou de “brutais e ilegais” o aumento das rendas que “contraria os regulamentos aprovados pela própria câmara”.
Aprovado em 2004, o regulamento uniformizava a forma de cálculo das rendas, que passariam a ser proporcionais aos rendimentos dos agregados familiares.
“Agora que se fizeram obras, Rui Rio quer logo aumentar brutalmente as rendas dos bairros, esquecendo que, não obstante as obras exteriores, muitas casas encontram-se degradadas no seu interior”, pode ler-se no documento entregue aos jornalistas.
Não foi o caso do Bairro de Aldoar onde reside Maria Emília Soares. “Prometeram fazer obras mas nunca foram lá e mesmo assim aumentam em 60% a minha renda?”, reclama a senhora visivelmente indignada. “É muito injusto”, remata.
Contactada pelo JPN, a autarquia recusou-se a prestar esclarecimentos. A Câmara tem afirmado que as rendas das casas mantêm-se inalteradas e que os aumentos acontecem devido à reavaliação do desconto social nas mesmas.