Mário Soares explica o que motivou as suas declarações sobre a necessidade de se dialogar com os terroristas.

O ex-presidente da República Mário Soares esclareceu ontem que as suas afirmações apenas pretenderam provocar “um choque político”. Numa entrevista ao programa Sociedade Aberta, da Sic Notícias, o ex líder do PS foi confrontado com as diversas reacções do mundo político nacional à sua proposta de diálogo com o terrorismo. A convicção do actual eurodeputado é a de que “é preciso mudar de estratégia” na luta contra o terrorismo.

Na passada quinta-feira, numa conferência sobre direitos humanos promovida pela fundação com o seu nome, Mário Soares defendeu que o diálogo era uma alternativa ao uso da força. Em resposta a um interveniente do debate, disse que “é possível admitir o princípio da negociação” com as organizações terroristas, mas “com determinadas condições”.

Mário Soares sublinhou que foi mal entendido, já que “a palavra negociação tem vários sentidos”. “Não conhecemos organizações como a Al Qaeda”, referiu Mário Soares, defendendo que, para combater o fenómeno terrorista, é urgente perceber os objectivos de quem o pratica.
“Está provado que a política de retaliação do presidente Bush não é o caminho”, salientou, acrescentando que “a democracia sempre negociou com terroristas”. Se assim não fosse, organizações como as Brigadas Vermelhas ou as Baden Meinhoff nunca teriam sido desmanteladas. Soares reconhece que “as forças armadas são necessárias”, “mas não são suficientes. É preciso haver a diplomacia, o diálogo e o conhecimento”.

Ao longo de toda a entrevista, o actual eurodeputado do PS vincou a necessidade de se respeitar o Direito Internacional. Mário Soares lembrou que aquilo que tem retirado dos encontros ecuménicos organizados pela comunidade de Santo Egídio (força diplomática do Vaticano que faz a “ponte” com o Islão), mostram que a acessibilidade ao mundo islâmico pode e deve seguir a via do diálogo.

Liliana Filipa Silva