"Às vezes o paraíso" também é falar com um poeta e docente universitário, para além de título feliz de um dos seus livros.
É Professora de Literatura Inglesa no Departamento de Estudos Anglo-americanos da Faculdade de Letras da UP. É Doutorada em literatura norte-americana. Tem publicações académicas, em Portugal e no estrangeiro, nas áreas de literatura inglesa, literatura norte-americana, literatura portuguesa e literatura comparada. Publicou cinco livros de poesia (“Minha senhora de quê”; “Coisas de partir”; “Epopeias”; “E muitos os caminhos”; “Às vezes o paraíso”) e escreve também contos e histórias para crianças. Senhoras e senhores: Ana Luísa Amaral.
O primeiro poema que se lembra de querer registar teve de ser escrito pelas mãos da mãe, porque Ana Luísa Amaral tinha cerca de seis anos e ainda mal sabia escrever. A consciência de que queria ser escritora, no entanto, só chegou mais tarde, quando já era bem adulta. “Para isso, eu penso que teria de referir uma pessoa que foi a Maria Irene Ramalho de Sousa Santos que me orientou as minhas provas e depois a minha tese de doutoramento. Em 1984 eu mostrei-lhe uns poemas que só mostrava a amigos e foi ela que me disse que achava que eu devia começar a publicar. Até aí, de facto eu não me definiria como poeta.” Em 1990 sai o “Minha Senhora de Quê”.
O lugar do ensino
O facto de ser professora universitária exige que se preparem aulas, que se corrija trabalhos e exames. Para além disso, há ainda outros projectos que Ana Luísa Amaral vai desenvolvendo, como “as revisões de teses, a literatura comparada, projectos como um dicionário de termos feministas”. Mas tempo para escrever “arranja-se sempre. Nem que seja à noite. Se calhar é uma leitura um bocadinho romântica ainda das coisas, mas acho sinceramente que quando se precisa e quando se tem que escrever, escreve-se, percebe? Com boas ou más condições de trabalho… Claro que se tem que ter um mínimo… tem que se ter um espaço, digamos assim, para criar… Mas eu acho que esse espaço é mais mental…”
O ensino influencia a autora por lhe suscitar leitura e investigação, “e obviamente que o ler os outros não me pode deixar a mim indiferente, porque as palavras dos outros deixam sempre rastos – quando mais não seja, para a pessoa fazer diferente, poder criar uma voz própria, diferente daquela que leu dos outros.” Entretanto, fundou os seus alicerces sobre Shakespear, Camões, Fernando Pessoa, Emily Dickinson, William Blake, “alguns contemporâneos ingleses e americanos …e depois é o que está à minha volta.”