À semelhança de anos anteriores, os Xutos voltaram a actuar na Queima das Fitas do Porto. Uma história de cumplicidade.

No Queima do Porto, terça é dia de cortejo e quinta de Xutos. Sentem-se parte do espírito do evento?

Zé Pedro – Se as queimas em Portugal apostarem nos nomes portugueses e não seguirem a tendência de ir buscar nomes lá fora, só têm a ganhar com isso. Por exemplo, a Queima do Porto, só com bandas portuguesas, foi provavelmente a Queima que mais gente meteu no ano passado e terá ultrapassado Coimbra, que até agora seria o top. Ainda bem que os Xutos e Pontapés contribuem para que essa mais valia da música portuguesa seja reforçada nas queimas.

Tim – Para além disso, eu queria deixar uma palavra de agradecimento ao pessoal das queimas, que sempre foram acontecimentos muito importantes para os Xutos e Pontapés. Sempre existiram e permitiram que mostrássemos as nossas músicas. Se nós correspondermos e ajudarmos com o nosso espectáculo a tornar as queimas ainda maiores, melhor. E eu acho que isso também aconteceu. Do Jardim da Sereia passou-se para o Palco da Canção, em Coimbra. Aqui no Porto, passou-se do Pavilhão Rosa Mota para aqui [junto ao parque da cidade]…
Eu acho que os Xutos contribuíram, à sua maneira, para que as queimas fossem grandes. Noites que não se estava à espera em muitas terras, tornaram-se muito boas por nós estarmos lá a tocar. O mérito é nosso e é também do público. É um pouco isso e era por esse motivo que queria agradecer. É que sem haver esta cumplicidade, possivelmente as queimas poderiam ter caído noutra situação qualquer e eu tenho a certeza que nós fomos a banda que manteve a porta aberta para outras bandas portuguesas tocarem e para que o espectáculo das queimas fosse realmente único no mundo. Não conheço a queima de Santiago de Compostela e acho que não existe sequer.
No caso que tu falavas, de terça ser cortejo e quinta ser dos Xutos, enquanto puder ser, fantástico. Enquanto estivermos todos bem, fantástico. No dia em que não nos dermos bem, fica tudo fantástico à mesma. [sorrisos] Dos vários concertos que deram na Queima das Fitas do Porto, há algum assim marcante? Alguma história?

Zé Pedro – Eu acho que o do ano passado foi brilhante. Não estávamos para fazer queimas, devido ao acústico. Fizemos só esta e a de Braga. Como havia o envolvimento com o processo do “Venham mais cinco”, na defesa da música nacional, um dos motivos que nos levou a participar, tanto nesta queima como na de Braga, terá sido o facto de ambos os cartazes serem compostos exclusivamente por nomes portugueses. O concerto do ano passado foi memorável a nível de assistência e de emoção. Nós partilhámos o palco com os Yellow W Van e com os Gift e acho que foi emocionante tocar para 60 mil pessoas, como aconteceu o ano passado.

Tim – Como queres uma história, lembro-me do ano em que se fez a transição do Palácio de Cristal para aqui. Nós vínhamos na auto-estrada e, antes dos Carvalhos, telefonaram-nos a dizer que estava muito vento e que o palco tinha caído. Estava uma tempestade desgraçada. Nós viemos fazer o sound-check e quase que não o conseguimos fazer. Estava uma grua dos bombeiros a segurar a estrutura toda. Entretanto, fomos para o Hotel. De 40 em 40 minutos recebíamos um telefonema, ora a dizer que havia concerto, ora a dizer que não. Acabou à uma e vinte a dizerem “venham, venham”.

Zé Pedro – Eu lembro-me de ter vindo à frente e de eles terem ficado no hotel. Mal cheguei aqui, reparei que havia uma aberta no ceú e a nossa manager, a Marta, telefonou para o hotel a dizer para eles virem a correr. Nós entrámos em palco e a chuva tinha parado nesse momento. As pessoas entraram, actuámos quase duas horas e quando tocámos a “Casinha”, a fechar o concerto, começou a chover outra vez. Foi impressionante. O céu abriu-se para nós tocarmos. [sorrisos] Foi realmente memorável, tanto que nas duas noites anteriores não tinham conseguido fazer a Queima por causa da chuva.

Germano Oliveira