“Desde o início da entrada das forças de coligação no Iraque que nós estamos a receber relatos de maus tratos por parte das forças de coligação”, garantiu uma responsável da Amnistia Internacional ao JornalismoPortoNet (JPN). De acordo com a organização, as denúncias sobre os abusos inflingidos a detidos iraquianos por soldados da coligação têm sido feitas desde o início da intervenção militar no Iraque, mas só em Março é que a Amnistia elaborou um relatório que refere isso mesmo.

“Temos casos documentados de torturas e maus tratos, tanto da parte do Reino Unido como dos Estados Unidos”, disse Cláudia Pedra, responsável da Amnistia Internacional.

Denúncias existem “há mais de um ano”

“Privação de sono, espancamentos, obrigação de estar em posições dolorosas, duração prolongada de restrições ao movimento e às vezes também casos de exposição a música muito alta”, são apenas alguns exemplos dos maus tratos que são descritos no relatório da Amnistia Internacional. Esta organização diz ainda que “a exposição a luzes muito fortes” e “o facto de os prisioneiros estarem encapuzados muito tempo” também fazem parte das denúcias que chegaram à Amnistia. De acordo com Cláudia Pedra, “isto são tudo casos que foram documentados pela Amnistia, e que foram feitos por ambas as tropas, tanto dos Estados Unidos como do Reino Unido”.

Cláudia Pedra diz ainda que a instituição “está a receber estes relatos desde o início da entrada das forças da coligação, há mais de um ano”. É exactamente por isso que esta organização internacional considera que os abusos cometidos na prisão de Abu Ghraib “não são um caso isolado”.

Relatório militar contraria general Myers

A agência France Presse (AFP) dá conta que um relatório elaborado pelo Exército norte-americano sobre os maus tratos contra prisioneiros iraquianos contraria as afirmações do general Richard Myers, chefe do Estado-maior das Forças Armadas dos Estados Unidos. Um pouco antes da divulgação desse relatório, o general Myers havia afirmado que os abusos cometidos na prisão de Abu Ghraib seriam “casos isolados” e que a situação não é “sistemática”.

O referido relatório tem 53 páginas e foi redigido pelo general Antonio Tabuga. De acordo com a AFP, o relatório refere que os abusos são de carácter sistemático e afirma que “vários soldados cometeram actos indignos e violaram a lei internacional em Abu Ghraib”.

Serviços secretos podem estar envolvidos

De acordo com o relatório do general Tabuga, os serviços de informação militares poderão estar envolvidos nos maus tratos que têm vindo a ser inflingidos a presos iraquianos. Algumas passagens do relatório sugerem mesmo que os maus tratos terão sido incitados pelos serviços de informação militares. O general Myers desmentiu estas informações.

Foto: AFP

Ana Correia Costa