No Dia Internacional de Prevenção e Luta contra as Hepatites, a Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF), revela os números: 150 mil portugueses estão infectados com hepatite C e cerca de 30% não sabe que sofre da doença.

Ao contrário do que a maioria dos inquiridos pensa, existem mais pessoas infectadas com a hepatite C do que com a Sida. Segundo o estudo apresentado pela APEF, a grande parte dos inquiridos não sabe como se trata ou transmite esta doença.

A transmissão deste vírus acontece, sobretudo, através do sangue. Pelo que os principais grupos de risco são: toxicodependentes, pessoas que receberam transfusões de sangue ou que foram sujeitas a intervenções cirúrgica antes de 1990. No entender do presidente da APEF, Jorge Areias, os portugueses “desconhecem a doença”, só assim se justifica que 30% dos interrogados pensem que o vírus se transmite por via sexual e apenas 1% considerem as tatuagens e os piercings como uma das formas de transmissão.

“A transmissão através da relação sexual existe, mas é um risco extremamente baixo. Se as relações são intraconjugais não é necessário usar preservativo de forma sistemática”, esclarece o presidente da Associação.

A hepatite C é uma doença crónica cujo tratamento é feito, essencialmente, através de fármacos e não através da vacinação, como responderam 19% dos inquiridos. Até porque ainda não existe vacina de tratamento para esta doença, mas prevê-se que isso possa acontecer dentro de 2 a 4 anos.

A hepatite C é uma inflamação do fígado que pode levar “ao desenvolvimento de cirrose em 30% dos doentes e estes têm a possibilidade de desenvolver o tumor do fígado”, alerta o professor Jorge Areias.

Apesar de todos os riscos, os portugueses revelam “baixa preocupação” em saber se estão ou não infectados. Esta conclusão é apoiada por números: 69% da amostra do estudo nunca fez rastreio ao vírus.

O inquérito que deu lugar a este estudo, foi aplicado a 807 portugueses, de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos, entre os dias 11 e 17 de Março.

Um caso de sucesso

Maria tem 43 anos e é portadora de hepatite C. Hoje está “curada” e o vírus encontra-se “adormecido”. Como foi infectada não sabe, mas suspeita que tenha sido através “da partilha de seringa”, numa primeira e “única” experiência pelo mundo da droga. Acrescentando que “às vezes abusava da bebida” o que não ajudava ao normal funcionamento do fígado.

Esta doente crónica admite que na altura ouvia falar em hepatites, mas desconhecia a verdadeira dimensão da doença. Ainda hoje, “há muita gente que desconhece ou quer viver no faz de conta”, afirma.

Para contrariar a falta de informação que existe na sociedade portuguesa, Maria gostaria de ver “mais informação nas escolas” sobre a doença.

Vânia Cardoso