A retirada dos soldados espanhóis do Iraque é o cumprimento de uma promessa que José Luis Zapatero fez durante a campanha eleitoral, em Março. Para Luís Santos, ex-jornalista da BBC com mestrado em Política Internacional e investigador do Centro de Estudos em Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho, “isso dos políticos cumprirem o que prometem pode estar em desuso mas continua a ser um dos pilares de legitimação do nosso sistema político”.

Abordado pelo JornalismoPortoNet, Luís Santos considera que a retirada de Espanha do solo iraquiano tem “implicações outras que não apenas na política interna espanhola”. Tony Blair e George W. Bush perderam o apoio que tinham em José Maria Aznar. O britânico deixou de ter um aliado político em questões como a Constituição Europeia e o americano perdeu “o elemento ‘mais um’ de peso que fazia algo mais da aliança entre os Estados Unidos e a Grã-Bretanha.

Luís Santos aponta uma outra conclusão: “a retirada da Espanha acontece numa altura em que se agravam os indícios de que a campanha no Iraque foi um erro estratégico de implicações ainda não totalmente contabilizadas com efeitos tremendos na estabilidade da região e, possivelmente até, com efeitos diferidos nas eleições presidenciais norte-americanas deste ano”.

Parceria com a ONU: “aí sim, poderá estar a mudança”

logo-onu.jpgO especialista em Política Internacional não acredita no agravamento das relações entre Espanha e Estados Unidos já que “Espanha entra, no fundo, na posição maioritária da Europa e Washington não pode nem deseja fomentar mais inimizades no seu maior parceiro comercial”.

Caso Bush não ganhe novamente as eleições presidenciais norte-americanas, “o próximo terá sempre que arcar com ‘a herança’ deste mandato”, apesar de ser possível uma parceria com a ONU, na opinião de Luís Santos. Qualquer que seja o próximo a ocupar a Casa Branca, “será sempre presidente dos Estados Unidos, ou seja, não vai poder inverter todas as políticas e todas as opções de um só golpe. Não vejo que seja possível, no actual enquadramento, retirar forças militares do Iraque, por exemplo. Seria a descridibilização total da sua política de estado e isso, creio, nenhum presidente (independentemente das suas opiniões pessoais) está preparado para fazer”.

Para o mestre em Política Internacional, o novo pensamento de José Lís Zapatero não vai causar qualquer fricção com o Reino Unido: “Blair está suficientemente fragilizado na Europa para não querer hostilizar mais ninguém. Não é sensato”. Luís Santos supõe que “terminada a retirada, Espanha deverá, talvez, alinhar mais pelas opiniões europeias, mas não penso que isso signifique embarcar numa qualquer campanha de hostilidade diplomática deliberada contra os Estados Unidos ou a Grã-Bretanha”.

O analista conclui que o primeiro-ministro britânico “precisará de aprender a viver com as sua opções e, como no passado aconteceu com Margaret Thatcher, a uma estranha distância do resto da Europa”.

Manuel Jorge Bento