“Gordura é formosura”, diziam os antigos. Hoje, a sobredosagem de imagens de corpos magros na publicidade e a mudança dos padrões de beleza ditam o contrário. No entanto, Maria Santos, nutricionista, diz que a gordura ainda não é vista como sinal de doença: “O ditado antigo felizmente já caiu, mas ainda pode indicar que ser gordo é sinal de saúde”.

A nutricionista dá o exemplo das crianças que são tidas como saudáveis quando são gordinhas. “Não ao excesso de magreza, mas não também ao excesso de gordura”, resume Maria Santos.

A obesidade é, para Maria Santos, uma doença “grave porque acarreta muitas doenças”. Porém, o que é que distingue a obesidade do simples excesso de peso? A obesidade “é uma doença porque trata-se de um excesso de peso permanente e muito acentuado que vai afectar todos os órgãos do organismo [humano] ”.

O sistema circulatório é o mais afectado e a situação da obesidade em Portugal contribui para reforçar o primeiro lugar das doenças cardiovasculares nas causas de morte em Portugal. “Da mesma maneira que a gordura se acumula fora dos órgãos, também se acumula dentro – um perigo maior porque pode entupir a passagem do sangue”, explica Maria Santos.

Para além das consequências físicas, a obesidade reflecte-se também no sistema nervoso. “A pessoa deixa de gostar da sua imagem. A sociedade criou um tipo de beleza que não comporta a gordura. A auto-estima fica em baixo, podendo conduzir a depressões e outras doenças do foro psíquico”, diz.

Maria Santos acredita nas previsões do Ministério da Saúde que dizem que, se nada mudar, 50% dos portugueses pode ser obeso em 2025. A nutricionista acredita até que essa previsão é optimista e que tal pode acontecer mais cedo. Para combater este estado de coisas, Maria Santos só tem uma receita: “a educação alimentar tem que existir nas escolas e nos meios de comunicação para que as pessoas saibam como ter uma alimentação equilibrada”.

Uma doença com tratamento

Quando a prevenção é descurada, há tratamentos e intervenções cirúrgicas para melhorar a qualidade de vida dos obesos. “As terapêuticas são várias”, explica António Silva, cirurgião e presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia de Obesidade. “Para quem tem um índice de massa corporal (IMC) baixo, normalmente as alterações dietéticas e o aumento da actividade física resolvem [o problema] e pode-se juntar algum tipo de medicação”, diz.

Quando já se fala em obesidade (IMC entre os 30 e os 35 kgs/m2) há várias técnicas como a colocação de um balão intragástrico. A partir de IMC de 35 kgs/m2 “pode-se optar por técnicas cirúrgicas, desde as técnicas restritivas, cirurgias mistas e cirurgias mal-absortivas”, refere o cirurgião. Todas técnicas têm efeitos menos desejáveis e não há técnicas perfeitas.

A gastrobandoplastia é a técnica mais utilizada. António Silva já operou 656 pessoas. Em cerca de 610 desses casos foi aplicada esta técnica que consiste na aplicação de um anel à volta do estômago, reduzindo o tamanho do estoma. Resultado: diminui-se a sensação de fome. O anel tem a grande vantagem de ser ajustado às necessidades de cada doente.

António Silva espera que o Dia Nacional de Combate à Obesidade “seja um dia de divulgação dos vários tipos de tratamento”. “Há que prevenir, mas estamos numa fase que, como não se preveniu até agora, as coisas tomaram um caminho que não é fácil”, conclui o cirurgião.

Liliana Filipa Silva
Pedro Rios