Em conversa com estudantes universitários, descobrimos as suas expectativas e determinações. Caracterizam o Ensino Superior como elitista e injusto e prometem continuar com as reivindicações.

“O Governo aprovou uma nova Lei do Financiamento do Ensino Superior em 2003 que acentuou ainda mais o seu carácter elitista e impediu já muitos estudantes de terem acesso ao Ensino Superior”, diz Jorge Correia, estudante universitário. Entrou na universidade em 2002 e já apanhou o aumento sucessivo das propinas. Diz que a educação é um direito de todos, mas admite que não é contra a existência da propina, mas sim contra o aumento exagerado do seu valor. O sistema funciona mal e considera que o aumento das propinas não é a solução. Além disso, acusa o Governo de não saber lidar com os estudantes, nem tão pouco ouvir as suas ideias. “Os estudantes manifestam-se e não são ouvidos, mas não vamos baixar os braços perante um Governo que nos ignora. Vamos continuar a lutar”, garante.

Os alunos queixam-se que, ano após ano, a propina aumenta e apenas com o propósito de colmatar sucessivos cortes orçamentais. Dizem que o Governo se desresponsabiliza cada vez mais, obrigando o estudante a pagar uma quantia demasiado alta para permanecer no ensino superior. Acusam o Governo de tirar os estudantes da gestão das escolas, com a aplicação do projecto da Nova Lei de Autonomia e Gestão do Ensino Superior. Os estudantes vêem esta medida como um ataque à gestão democrática, além de minimizar o papel dos estudantes enquanto elementos activos na construção de um ensino melhor e mais justo. O que os estudantes realmente querem é poder agir. Exigem fazer parte de todos os órgãos de gestão e governo e que a autonomia seja participada e exercida por todos os agentes das instituições.

Quando se fala de propinas, não se pode deixar de falar em acção social. Os estudantes continuam a reivindicar bolsas mais justas, que tenham em conta os custos reais e melhorias significativas na qualidade e quantidade de cantinas e residências. “As promessas relativas à acção social escolar foram mais uma das falsas medidas que o Governo usou para tentar enganar os estudantes e adiar uma situação que precisa de solução urgente”, queixa-se Catarina Vasconcelos, estudante universitária. Já há 3 anos que se candidata a uma bolsa, tem mais dois irmãos a estudar na universidade estatal e nunca conseguiu nada. “Uma família de classe média que tem 3 filhos a estudar no Ensino Superior e não recebe nada… Alguma coisa não está a funcionar bem!”, frisa

A revolta de Catarina tem em conta, principalmente, os muitos casos de corrupção. “Conheço muitos. Muitas famílias ricas e de filhos únicos recebem bolsa e nem é a mínima… Têm grandes carros e grandes casas… Se nós sabemos destes casos, como é que o Governo não toma conhecimento deles?”, questiona.

Além de funcionar mal, a acção social é claramente insuficiente. Os estudantes queixam-se que há um aumento cada vez mais crescente da comparticipação das propinas, bem como de todas as despesas relacionadas com a frequência do Ensino Superior (alojamento, transportes, alimentação, material escolar, fotocópias), a que a acção social escolar não oferece resposta.

Cristina Freitas