“O conceito de verdade esgota-se no que vem nos média ‘mainstream’”, defendeu o jornalista Rui Pereira quando confrontado com a importância da informação dos “media” independentes. “A contra-informação ou informação alternativa é a possibilidade que resta para podermos pôr as mãos nos nossos destinos”, complementou a representante do Indymedia Portugal Eduarda Sá.

O debate ocorreu ontem à noite, nos Espaços Jup. Rui Pereira, jornalista freelancer que trabalhou no “Expresso”, e Eduarda Sá, distinguem dois tipos de jornalismo: o “mainstream”/convencional e o alternativo/independente.

Rui Pereira, na profissão há 22 anos, tem experiência exclusivamente nos orgãos de comunicação que intitula de “mainstream”. “Aquilo que o jornalismo ‘mainstream’ nos vende é sobretudo uma maneira de configurar a realidade. Importa que a notícia obedeça a um padrão verosímil e se enquadre no imaginário doutrém como verdadeiro. Dái a importância da informação independente”, pensa.

Eduarda Sá faz parte do Indymedia Portugal, um meio de informação alternativa pertencente à rede mundial de centros de informação sem fins lucrativos “Independent Media Center”, também chamado “Indymedia”. “Tive a noção da imprensa alternativa quando enviei uma carta de leitor para um jornal alemão e ela não foi publicada. Porquê? Porque eu usara a palavra ‘revolução’”, contou. “O Indymedia é uma das sementes para as pessoas intervirem na realidade social, onde as pessoas têm um espaço de debate mental de ideias”, acrescentou.

A questão da independência

Uma das ideias mais destacadas ao longo do debate foi a importância da independência nos média tradicionais e nos alternativos. “A independência reside em não haver vassalagem a qualquer tipo de opinião pré-definida. Diariamente, levamos com uma pastilha homogénea de opinião. São precisas outras visões. Quem escreve a partir da indignação tem outro combustível e não precisa de agradar a nenhum chefe”, considerou a representante do Indymedia.

Rui Pereira referiu a necessidade dos orgãos alternativos porque crê que quem define a objectividade é o mundo mediático oficial. Por isso, exemplificou com um “case study” do jornal britânico “The Guardian”. “O ‘Guardian’, que é o jornal mais à esquerda que se pode encontrar no Reino Unido, em 2003, publicou 12.447 notícias sobre o Iraque. Nessas, o inspector da ONU, Scott Ritter, que declarara em 2002 ser impossível existirem armas de destruição maciça no Iraque, só apareceu 17 vezes. Dennis Halliday, o responsável da ONU pelo programa “Petróleo por Alimentos” que se demitiu, foi mencionado em duas.” Por isso, o orador reiterou a importância de se criarem alternativas jornalísticas.

Carina Branco
Fotografia: Pedro Ferreira