O abandono do árbitro suíço Anders Frisk instalou a polémica na arbitragem europeia. Em Portugal, os problemas já vêm de há muito tempo e estão longe de se resolver. Atitudes como a de Frisk podem ser seguidas pelos árbitros portugueses, como alerta, por exemplo, o árbitro internacional português Duarte Gomes: “Eu gosto muito da arbitragem, mas a partir do momento em que verificar que a estrutura do futebol não defende os mesmos princípios que defendo e que a situação é irreversível, é claro que não vou continuar num mundo que não é o meu mundo”.

Duarte Gomes acredita que a arbitragem em Portugal “não está bem” e garante que “se as coisas não mudarem, poderá repensar a sua posição na arbitragem”.

APAF defende mudanças na arbitragem e responsabiliza FPF

A APAF (Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol) não está indiferente aos problemas que se vivem actualmente na arbitragem e, segundo o presidente Vítor Reis, apresenta regularmente propostas na Assembleia-Geral da FPF para “tentar melhorar a imagem dos árbitros em Portugal”.

Quando estalou o processo “Apito Dourado”, Vítor Reis conta que a APAF sugeriu de imediato uma renovação do Conselho de Arbitragem, que está “claramente fragilizado”. Para além disso, a APAF defende que todas as pessoas ligadas à arbitragem que foram constituídas arguidos no processo “Apito Dourado” deveriam “pedir a suspensão de funções até à dedução da acusação”.

Um novo método de nomeação dos árbitros, que não lhe parece “muito correcto”, é outra das propostas defendidas pela Associação. No entanto, Vítor Reis afirma que continua a “não haver alterações na estrutura do futebol português e na arbitragem” e responsabiliza a Federação Portuguesa de Futebol por isso.

FPF recusa comentar afirmações da APAF

O presidente interino do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Carlos Esteves, não comenta as declarações de Vítor Reis, visto que considera que “a APAF tem que olhar primeiro para si antes de corrigir os outros”. No entanto, afirma que “a direcção da FPF dá todo o apoio à arbitragem e todas as condições para que os árbitros se sintam bem, oferecendo-lhes bons hotéis, equipamentos e cursos”.

Greve não é solução

Vítor Reis admite que uma greve de árbitros portugueses já foi equacionada, há cerca de dois anos atrás, quando o ex-presidente do Vitória de Guimarães, Pimenta Machado, andava “constantemente a atacar a estrutura”. “Os árbitros tomaram uma posição muito firme e valeu a pena”, conta Vítor Reis. No entanto, o presidente da APAF apenas defende o recurso à greve como “medida extrema” e não lhe parece que neste momento essa fosse a “atitude mais sensata”.

Também o árbitro português Duarte Gomes concorda que uma greve dos árbitros em Portugal é uma “medida extrema” e que “não será necessária”. Na opinião do árbitro de Lisboa, a investigação “Apito Dourado” pode “mexer com o futebol português”, até porque “terá com certeza consequências, mesmo que não sejam jurídicas”. “Não haverá condições para certas pessoas continuarem no futebol e a situação de desconforto que se criou levará, sem dúvida, a mudanças concretas”, explica Duarte Gomes.

Diana Fontes