Não é preciso caminhar muito depois de passar a porta da faculdade para nos apercebermos da necessidade de restauro dos edifícios que a compõem. É num desses espaços entre jardins preenchidos por figuras de pedra e seres humanos que descansam entre as aulas que o presidente da Associação de Estudantes da FBAUP, Hugo Ribeiro, nos fala das dificuldades por que os alunos passam ao nível das infra-estruturas.

Na peculiar torre onde a associação de estudantes tem a sua sede, o presidente da mesa da assembleia-geral de alunos diz-nos que “a maior parte dos edifícios data dos anos sessenta e setenta e está bastante degradada”. Afirma ainda que, nalguns casos, “os telhados vertem água e há muito frio no Inverno”. A esse propósito, António Quadros Ferreira, presidente do conselho directivo da FBAUP, adianta que o novo edifício que deverá estar concluído no Verão, mas admite que “não vai resolver a situação da forma ideal porque os problemas de espaço são muitos”. Para colmatar essa questão, Quadros Ferreira refere a intenção de “iniciar um processo de reabilitação dos outros edifícios”.

As confusões de Bolonha

Outra das questões do momento em qualquer faculdade é o protocolo de Bolonha. A esse respeito, Hugo Ribeiro queixa-se da falta de informação. “As informações passadas pelos professores são muito ambíguas, acho que nem eles sabem muito bem o que aquilo é”. O estudante de Design responsabiliza o ministério do Ensino Superior pela situação. António Quadros Ferreira prefere salientar que “é completamente impossível uma reforma curricular respeitando os acordos de Bolonha, sem que um primeiro ciclo tenha, pelo menos, quatro anos” e mostra-se interessado em trabalhar ao nível do segundo ciclo, ou seja, das pós-graduações e dos mestrados.

Postos à margem

Integrados há pouco mais dez anos na Universidade do Porto, os estudantes de belas-artes sentem-se, segundo Hugo Ribeiro, “postos à margem”. “A UP não tem tido grande consideração por nós, os 225 anos mereciam mais respeito”, lamenta.

O presidente do conselho directivo da FBAUP não vê as coisas da mesma forma, falando de “ambiguidades ao nível dos alunos e dos professores relativamente à forma como se podem comportar no seio da UP”. Quadros Ferreira elogia o comportamento da reitoria, dizendo sentir “abertura suficiente e vontade de colaborar activamente com a FBAUP”.

O mito da falta de união

Uma das ideias que passam para fora da Faculdade de Belas-Artes é a de alguma falta de união entre os estudantes. António Quadros Ferreira não sente essa situação. “Naturalmente, o culto da personalidade faz parte da natureza do artista, mas penso que esse sentimento de grupo existe, a todos os níveis.” Hugo Ribeiro refere a praxe como “meio aglutinador”, apesar de admitir outras opções. Segundo o elemento da associação de estudantes, “mais dia, menos dia, é inevitável o regresso da praxe”.

Marta Madureira, designer e ex-aluna de Belas-Artes esteve três anos em Pintura antes de se mudar para Design e queixa-se da falta de “contacto social” no primeiro curso. António Rui Ferro, também ex-aluno e actualmente professor do curso de Escultura, refere a importância do espírito de grupo, que “deve ser fomentado”.

Carlos Luís Ramalhão