Aura Miguel recorda as viagens de João Paulo II, uma característica marcante do seu pontificado.

É humanamente possível explicar a força que o Santo Padre demonstra nas sua viagens à volta do Mundo?

Ele é Papa para todas as pessoas, mesmo para os não católicos e esse é um dos aspectos que sensibiliza o mundo inteiro. Ele corre o mundo com esse esforço de anunciar Cristo a todos. Isso ele nunca esconde. Humanamente possível não é, porque nós, os jornalistas que viajamos com ele, não conseguimos perceber tanta energia… Estamos muitas vezes mais cansados do que ele. A força que ele tem parte de uma força interior e de uma grande tenacidade. O seu segredo é a oração.

O Santo Padre disse que “temos a eternidade para descansar”. É com essa força em mente que ele viaja?

Ele nunca se poupa e nunca se queixa. Nunca foi uma prioridade descansar ou tomar conta de si próprio.

Já acompanhou o Papa em 51 viagens e descreve no seu livro muitos momentos que escapam à atenção mediática. Há algum momento que a tenha marcado mais?

As viagens têm aspectos que são muito interessantes e que às vezes são os mais conhecidos ou os mais importantes. Eu não posso não considerar importante a viagem que fez a Cuba e o encontro com Fidel Castro ou a viagem à Polónia, ainda no regime soviético sob pesado controlo comunista. Isso são acontecimentos inesquecíveis que pude testemunhar, mas é muito difícil escolher.
Se, ao mesmo tempo, estes acontecimentos com grandes multidões deixaram marcas na história do Mundo, há ainda os encontros não menos importantes, mas que são mais discretos e que revelam uma grande riqueza humana. Por exemplo, os encontros com os doentes e com as pessoas que são os mais pobres dos pobres. Nestes momentos há uma carga de grande intensidade humana, que é uma dimensão de mistério que a maioria das pessoas não está habituada a considerar. Ele não esconde a consciência da sua missão. Preocupa-o o destino da pessoa que tem pela frente, seja um líder político ou um presidente da república, seja uma das pessoas mais pobres e marginalizadas.

Luís André Florindo