Talvez algum artista com queda para a profecia tenha vislumbrado no tempo o futuro da Academia Portuense de Belas-Artes. A história começa com a Aula de Desenho e Debuxo, iniciada em 1780, com o intuito de ajudar as indústrias da cidade do Porto. Em 1802, Vieira Portuense, passa a designar essa aula por “Academia”, conferindo-lhe assim um carácter institucional. Ainda no século XIX, a Academia dá origem à Escola Portuense de Belas-Artes, passando já em 1950, a chamar-se Escola Superior de Belas-Artes do Porto. Inicia-se assim uma época de grande prestígio. Em 1994, a escola, que entretanto tinha visto o curso de Arquitectura ganhar autonomia, passa a integrar a Universidade do Porto, adoptando a designação actual.

Assim se chega aos 225 anos. Os letreiros não enganam, pendurados nas janelas da fachada do edifício principal – um antigo palacete do século XIX, nos jardins do qual se construíram edifícios para leccionar aulas. O ambiente que rodeia a Faculdade de Belas-Artes fala de criatividade, com grafitti aqui e acolá, letreiros que deixam antever uma certa rebeldia. Quando se entra, são seres humanos como os outros que afinal andam por ali. Pessoas que gostam de marcar uma diferença, é verdade. E não é qualquer faculdade que tem, nos seus jardins, homens e mulheres de pedra.

É através da comunicação com os futuros homens e mulheres das artes, que carregam uma herança de prestígio a manter, que se constrói este dossiê. Falando com o homem que dirige os destinos da FBAUP percebe-se que nem tudo são cores alegres nesta grande tela, apesar do orgulho pela história da instituição. Na topo da torre onde se situa a associação de estudantes, confirma-se que as belas-artes também têm problemas. Regressando ao edifício principal, através de corredores semi-escondidos, acabamos por ir ter ao museu, onde ouvimos falas das dificuldades por que passa, mas também de dois desenhos mais famosos do que os outros. Viemos cá fora conhecer casos de sucesso de ex-alunos da instituição.

No fim, fica a ideia de que há ainda muitas histórias por conhecer acerca de uma faculdade que é, por si só, um pólo da Universidade do Porto. E quando saímos dali, de regresso ao centro da cidade do Porto, temos a certeza de que daquela casa ainda há-de sair muita gente importante para a cultura portuguesa.

Carlos Luís Ramalhão