A carne de animal clonada não apresenta diferenças significativas em relação à carne original. A conclusão foi tirada da primeira etapa de um estudo divulgado pela Proceedings of the National Academy of Sciences of United States of America, que dá conta de experiências pioneiras no campo da clonagem.

A equipa de investigadores norte-americanos e japoneses, liderada pelo cientista Jerry Yang, fez a experiência com clones de animais bovinos, e estabeleceu a comparação da carne dos clones com a carne dos originais. Os investigadores concluiram que não existem diferenças significativas entre ambas; contudo, a carne clonada apresentou um nível superior de gorduras, embora considerada pelos investigadores “dentro dos padrões normais”.

O leite foi um dos meios de análise. Os investigadores analisaram a quantidade de proteínas existentes no leite do clone e os resultados dos testes indicam que os genes do animal clonado funcionam de modo considerado normal. Segundo o estudo, “a produção de leite é um factor determinante para a análise do funcionamento genético. Qualquer anomalia nos genes do clone, seria detectável no leite do animal”.

Embora estes estudos ainda sejam precoces, os cientistas estão cada vez mais próximos de aprovar o consumo humano de carne clonada. Segundo os investigadores, os clones animais permitem a selecção de gado de maior qualidade, especialmente capazes de melhor produção e resistência às doenças.

Os avanços nesta área da clonagem têm levantado cada vez mais polémica. Se por um lado, a clonagem animal pode permitir a selecção de qualidade rigorosa, por outro, não garante que essa carne tenha qualidade total para ser consumida.

Os opositores da clonagem animal acreditam ainda que grande número dos clones nasce imperfeito, com membros deformados e orgãos disfuncionais. Por fim, uma grande parte dos animais acaba por morrer. A director da World Farming Joyce D’Silva, em declarações à BBC, lança a pergunta: “É esta a tecnologia que queremos? Até que ponto criar animais deformados e doentes será positivo?”

Desmistificar consumo de carne clonada

O investigador do Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar da Universidade do Porto Mário Sousa acredita que não deve haver reservas quanto à qualidade da carne clonada para consumo humano.

Segundo o cientista, os únicos problemas que advêem da carne clonada, são os mesmos que a carne normal tem. “Só há problema para o Homem se houver integração de material genético (DNA) com anomalias no organismo humano”, diz Mário Sousa ao JPN. O investigador acredita que o material genético do animal “não é passível de ser integrado no nosso organismo. Só os vírus, infecções e bactérias infecciosas podem ser preocupantes para a saúde pública”. O investigador acrescenta ainda que essas preocupações “não são apenas em relação à carne clonada, mas também relativamente carne normal, que também pode ter esses problemas.”

A carne de clone apenas é alvo de reserva na perspectiva imunológica.
O investigador não acredita que “os defeitos imunológicos dos clones possam integrar-se no organismo humano”. Contudo, e tendo em conta que muitos erros genéticos são muito subtis, o investigador acautela a necessidade de garantia de segurança. “Quando trincamos, mastigamos e digerimos os tecidos musculares dos animais clonados, deve haver total certeza quanto à impossibilidade de integração de material genético defeituoso no organismo humano”.

Mário Sousa confessa que “o problema passa também pela falta de informação. Muitas pessoas comem animais com grandes alterações genéticas, nomedamente gambas e mexilhão espanhol”. O investigador faz questão de frisar que “a certificação da carne não deve passar pela origem [se é clonado ou não], mas pela certeza de não ter agentes transmissivos”.

Agostinha Garcês de Almeida