Os confrontos entre claques organizadas ou entre meros adeptos isolados de um ou outro clube de futebol, dentro e fora dos estádios, sempre foi um dos problemas inerentes ao desporto-rei mais difícil de solucionar e é muitas vezes associado ao “hooliganismo”. A onda de violência que invadiu o futebol italiano, com incidentes graves a envolverem três jogos (Lazio – Livorno; Inter – Milan e Juventus – Liverpool) reavivou a consciência de que coisas estranhas se passam fora do relvado.

No entanto, o antropólogo e estudioso do fenómeno desportivo e do próprio “hooliganismo” Daniel Seabra, em declarações ao JPN, faz questão de “separar as águas” dizendo que violência entre claques não é o mesmo que “hooliganismo”, uma vez que “o grande objectivo das claques é de facto apoiar o clube a 100%, com grande grau de militância”, enquanto que “o objectivo manifesto dos “hooligans” é o conflito e o futebol é apenas um pretexto” ressalvando, no entanto, que isso “não significa que eles não estejam a apoiar um clube”.

De facto, o especialista lembra que a organização prévia do confronto é o ponto que caracteriza o “hooliganismo” e que, ao mesmo tempo, o separa das claques ligadas ao movimento ultra, por exemplo: ”é uma diferença de princípio, embora às vezes não haja grande diferença ao nível da actuação”, já que, por vezes, também as próprias claques se envolvem em confrontos entre si, explica.

Apesar de tudo, “o próprio futebol, muitas vezes, no contexto das claques remete para uma certa dinâmica de violência simbólica“, tanto verbal como física, derivada de situações inerentes ao próprio espectáculo futebolístico (má arbitragem, por exemplo) que, podem provocar uma maior agressividade entre os espectadores e surgir como um “efeito perverso”, afirma o especialista.

Daniel Brandão