“Disseminar o terror e provocar o maior número de vítimas”. Para José Azeredo Lopes, especialista em assuntos internacionais, é esta a essência dos ataques da Al-Qaeda. Segundo o professor universitário, não restam dúvidas de que o atentado a pontos estratégicos de Londres é obra da organização terrorista de Bin Laden, ainda que o “modus operandi” esteja “muito mais próximo daquilo que aconteceu em Madrid do que com o sucedido em Nova Iorque”.

“Não há ataques previsíveis, mas era previsível que ia acontecer mais tarde ou mais cedo”, afirma o director da Faculdade de Direito da Universidade Católica do Porto.

Azeredo Lopes considera que “havia toda uma conjuntura que favorecia a acção da Al-Qaeda”. Para além da atribuição da organização das Olimpíadas de 2012 à capital inglesa, a reunião do G8 na Escócia constituiu uma oportunidade de o grupo terrorista conseguir “uma demonstração de força e de impunidade perante tudo o que esses líderes [dos países membros do G8] façam para a destruir”.

“Portugal não é um alvo provável”

Azeredo Lopes acredita que o período de maior vulnerabilidade de Portugal face a ataques terroristas já passou. “Portugal é evidentemente um alvo possível” mas “o Euro 2004 teria sido muito mais plausível, até pela natureza dramatúrgica e espectacular” de que se reveste a acção do grupo comandado por Osama Bin Laden.

Azeredo Lopes acrescenta que Portugal “teve uma acção menor na Guerra do Iraque” e, por isso, há outros alvos prioritários para a Al-Qaeda.

Ataque bélico vai aumentar fundamentalismo

Para o professor universitário esta é mais uma prova de que “independentemente dos sistemas de segurança montados, é sempre possível lançar ataques terroristas”. Azeredo Lopes acrescenta que “não é pela lógica de ataque bélico reactivo que se permitirá estancar” este tipo de atentados. “Isso só favorece o objectivo que a Al-Qaeda pretende, que é espicaçar o fundamentalismo islâmico”, acrescenta o especialista.

Azeredo Lopes acredita que resta à coligação ocidental apostar no “reforço da segurança interna através de um sistema de informação e de inteligência e da optimização dos sistemas de partilha e de integração dos serviços de informação”.

Al-Qaeda instrumentaliza a comunicação social

Segundo o professor universitário, o combate ao terrorismo debate-se com um enorme problema: “a Al-Qaeda conhece infinitamente melhor o mundo ocidental do que o contrário”. Para além disso, a organização islâmica tem-se servido da comunicação social para “espalhar o terror, oferecendo em troca a espectacularidade que faz a imagem mediática”

O especialista em política internacional nota ainda que o terrorismo se serve de uma das principais características da sociedade ocidental. “A liberdade de expressão é uma das nossas maiores forças, mas também uma das nossas maiores debilidades, na medida em que nos expõe”, afirma.

André Viana
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