“Foram momentos de verdadeiro pânico”. É assim que Carla Lúria, uma dos 200 mil emigrantes portugueses a viverem em Londres, descreve a sucessão de explosões no metro da capital britânica, esta manhã.

A caminho do escritório, Carla Lúria ouviu pela rádio a notícia, mas só se apercebeu da dimensão do acontecimento quando chegou ao trabalho e recebeu uma chamada da madrinha de uma das duas filhas a querer saber se a família estava toda bem.

A preocupação veio a seguir, quando Carla tentou contactar via telemóvel primeiro a filha mais velha, de treze anos, e depois o marido, Amândio Cardoso, sem obter respostas. “Não consegui entrar em contacto com ninguém. Barraram-nos as linhas dos telemóveis desde as 09h30 até às 10 e pouco da manhã. Fiquei em pânico total”, conta ao JPN. [ouça o testemunho completo]

“Estive durante duas horas a tentar contactar a minha família. E só depois de ligar para Portugal é que consegui, através da madrinha da minha filha, saber que todos estavam bem, porque as chamadas externas podiam ser recebidas, mas não se podiam fazer chamadas dentro da cidade”, continua. A familiar portuguesa já se havia encarregado de avisar o pai para ir buscar as filhas à escola.

Mas havia ainda um longo caminho a percorrer até Golden’s Green, local onde vive a família e onde fica e escola de uma das filhas, a cerca de 3 quilómetros dos atentados. A viagem de volta a casa, mais cedo do que o habitual, já não pôde ser de automóvel, mas metade de autocarro e outra metade a pé.

Na escola, o cenário era de maior impotência ainda para as crianças que não sabiam dos pais, estando a ser informadas ao minuto pelos professores do que se passava fora daquele lugar. “Os telemóveis estavam muito ‘busy’ [ocupados]”, explica Carla Lúria.

Núria, a filha mais velha, recorda os momentos: “Os professores informaram-nos de tudo: a primeira bomba foi na estação de metro King’s Cross às nove menos cinco minutos e matou 21 pessoas”. [ouça o testemunho completo]

As crianças sabiam ainda que “as linhas foram todas cortadas porque as bombas foram activadas por telemóvel”, explica Núria.

O pior parece já ter passado para a família. “Graças a Deus já estamos todos juntos. Mas na rua vêem-se muitas pessoas a pé, muito trânsito, e os autocarros andam completamente cheios – não estão a ser cobrados bilhetes”, descreve Lúria.

Amândio Cardoso, pai de Núria e marido de Carla, acrescenta que “o sistema de transportes públicos de Londres é muito diferente dos de Portugal”. “Cá, ninguém sabe sequer os nomes das ruas que atravessam todos os dias de Metro. Por isso, hoje está a ser muito difícil estas pessoas, tão dependentes destes transportes, conseguirem sair do centro da cidade. E é aqui que a polícia está a ter uma grande importância”, diz.

Carla Lúria diz que o ataque terrorista é um acto “bárbaro porque se aproveitam da reunião das grandes figuras do mundo na Escócia, que estão a tratar de problemas para ajudar outros países, para fazerem um ataque, sabendo que as atenções estão viradas para outro lado”.

Letícia Amorim